COLUNA

Amizades na infância podem influenciar o uso de drogas na vida adulta

Revelação foi feita em recente estudo feito da Suécia e publicado na revista científica Psychiatry Online

Publicado em: 20/08/2024 10:24

 (Foto: Freepik)
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Um recente estudo feito na Suécia e publicado na revista científica Psychiatry Online, trouxe à tona uma nova e perturbadora visão sobre como as amizades na infância podem influenciar o risco de uso de drogas na vida adulta. 

Utilizando uma amostra massiva de 655.327 pessoas com idades entre 17 e 30 anos, os pesquisadores descobriram que ter amigos na infância com predisposição ao abuso de substâncias pode aumentar significativamente a probabilidade de se envolver com drogas no futuro.
           
A pesquisa, uma das mais abrangentes até hoje, analisou dados coletados ao longo de décadas, cruzando informações sobre amizades de infância, ambiente familiar, e histórico de abuso de substâncias. 

Os resultados foram surpreendentes: os indivíduos que cresceram em ambientes onde amigos próximos tinham familiares com histórico de abuso de substâncias, apresentaram uma probabilidade 60% maior de se tornarem usuários de drogas. O aumento de risco foi observado independentemente do status socioeconômico, sugerindo que a influência dos pares pode, em alguns casos, superar até mesmo as condições econômicas e familiares.
              
A pesquisa destaca como as interações sociais durante a infância, podem moldar comportamentos e atitudes em relação ao uso de substâncias. Em muitos casos, crianças que testemunham ou têm conhecimento do abuso de drogas no ambiente familiar dos amigo,  podem começar a perceber o uso de substâncias como um comportamento aceitável ou, pelo menos, normalizado.
             
Essa normalização pode ocorrer de maneira sutil, por meio de conversas, brincadeiras ou até mesmo pela simples convivência com a realidade do outro. Esse contexto cria um ambiente onde a experimentação com drogas pode parecer menos arriscada ou mais atraente, especialmente na adolescência, quando a influência dos pares é particularmente forte.

Assim, dos mais de seiscentos mil indivíduos analisados, aqueles que tinham amigos na infância com histórico familiar de abuso de substâncias, mostraram uma tendência maior de iniciar o uso de drogas na adolescência e manter esse uso na vida adulta. 

Desta forma, estratégias que tradicionalmente focam apenas no indivíduo podem precisar ser revisadas,  para incluir um olhar mais atento sobre o contexto social e as amizades que moldam as atitudes desde cedo.

A AUSÊNCIA DE MULHERES NO COMANDO MUNICIPAL HÁ DUAS DÉCADAS 
 
 (Foto: Freepik)
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Em 20 anos, o Brasil presenciou avanços significativos em diversas áreas, mas a representatividade política feminina ainda caminha a passos lentos. Um dado alarmante e que passa despercebido por muitos é que, em dois terços das cidades brasileiras, não houve uma mulher eleita para o cargo de prefeita entre 2000 e 2020. Mais inquietante ainda é a realidade de 28 municípios onde nenhuma mulher foi eleita vereadora nesse mesmo período. Em 24 dessas cidades, nem prefeitas nem vereadoras foram escolhidas, revelando um padrão de exclusão que persiste.

O Brasil, um país de dimensões continentais e rica diversidade cultural, ainda carrega traços profundos de uma tradição política dominada por homens. Essa tradição não é apenas uma relíquia do passado, mas uma barreira invisível que impede a ascensão de mulheres ao poder municipal. 

Em muitas regiões, as estruturas políticas locais são regidas por grupos familiares ou alianças históricas que veem a política como um reduto masculino. Esse ciclo é reforçado por uma cultura que, em várias comunidades, desestimula ou subestima a capacidade das mulheres em exercer liderança política.

A ausência de mulheres na política municipal não é apenas um sintoma de uma sociedade patriarcal, mas também um fator que perpetua essa realidade. Quando as mulheres não estão representadas nos espaços de decisão, suas demandas e perspectivas tendem a ser marginalizadas. O ciclo de exclusão se reforça: a falta de exemplos femininos na política desestimula novas candidaturas, criando uma lacuna de liderança que se auto perpetua.

Em municípios onde, por duas décadas, nenhuma mulher foi eleita nem mesmo para o cargo de vereadora, as estruturas políticas locais carecem de uma visão plural e inclusiva. Essas cidades, muitas vezes, tornam-se microcosmos de resistência ao progresso social mais amplo, onde a ausência de mulheres no poder municipal contribui para a perpetuação de políticas públicas que não refletem as necessidades de toda a população.

As candidatas que ousam romper esse ciclo enfrentam desafios significativos. Em primeiro lugar, há a dificuldade de financiamento de campanhas, já que as candidaturas femininas muitas vezes recebem menos apoio financeiro. Além disso, as mulheres que se lançam na política enfrentam preconceitos que vão desde o questionamento de suas capacidades até a resistência aberta de eleitores e colegas políticos.

Os obstáculos não são apenas institucionais, mas também culturais. Em muitas regiões, a política é vista como uma extensão das responsabilidades familiares, onde o homem é o chefe natural. As mulheres que se candidatam a cargos políticos desafiam essa norma, o que pode levar a uma resistência comunitária significativa.

A sub-representação feminina nas prefeituras e câmaras municipais brasileiras não é apenas uma questão de igualdade de gênero, mas uma questão de qualidade democrática. A falta de diversidade nas lideranças municipais limita o escopo das políticas públicas e reduz a capacidade dos governos locais de responderem de maneira eficaz às demandas de toda a população.

Além disso, a ausência de mulheres na política local pode ter efeitos duradouros em termos de desenvolvimento social e econômico. Pesquisas mostram que a participação feminina na política tende a levar a decisões mais inclusivas e a políticas públicas que beneficiam diretamente as mulheres e as crianças, áreas cruciais para o desenvolvimento humano.

Para quebrar esse ciclo, é essencial uma abordagem multifacetada. A promoção de políticas de incentivo à participação feminina, como cotas eleitorais mais eficazes e programas de capacitação, é um passo importante. Além disso, é fundamental trabalhar na mudança da cultura política local, promovendo a conscientização sobre a importância da representatividade feminina e encorajando as novas gerações de mulheres a se envolverem na política.

INVISÍVEIS DO SISTEMA: A REALIDADE DAS MULHERES NEGRAS EXCLUÍDAS DA PREVIDÊNCIA
 
 (Foto: Freepik )
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Um em cada cinco. Essa é a proporção de mulheres negras ocupadas no Brasil que, apesar de estarem inseridas no mercado de trabalho, não conseguem contribuir para a Previdência Social. Segundo uma recente pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 21% dessas trabalhadoras permanecem à margem de um sistema que deveria garantir sua segurança financeira no futuro.

A história da população negra no Brasil é marcada por séculos de exclusão e marginalização. Mesmo com os avanços nas últimas décadas, as cicatrizes de um passado escravista e segregacionista ainda são evidentes. As mulheres negras, em particular, enfrentam uma dupla desvantagem: por serem mulheres e por serem negras. Essa combinação as coloca em uma posição de vulnerabilidade tanto no mercado de trabalho quanto no acesso a direitos básicos, como a Previdência.

Para muitas, o trabalho informal ou precário é a única opção disponível. Estima-se que a informalidade atinge com mais força as mulheres negras, que muitas vezes ocupam posições sem carteira assinada, como empregadas domésticas, vendedoras ambulantes, cuidadoras e outras ocupações que, embora essenciais, não oferecem segurança social. Nesses casos, a contribuição para a Previdência é uma possibilidade distante, não por escolha, mas por imposição das circunstâncias.

A falta de contribuição previdenciária cria um ciclo de pobreza que se perpetua por gerações. Sem a possibilidade de garantir uma aposentadoria, essas mulheres ficam desprotegidas na velhice, dependendo muitas vezes de programas de assistência social que, por si só, não são suficientes para garantir uma vida digna. Além disso, a ausência de contribuições regulares impede que essas trabalhadoras acessem outros benefícios previdenciários, como auxílio-doença, licença-maternidade e pensão por morte, aprofundando ainda mais sua vulnerabilidade.

Esse cenário também tem impacto na saúde e no bem-estar dessas mulheres. A insegurança econômica e a falta de acesso a direitos sociais básicos contribuem para um quadro de estresse constante, que pode se manifestar em doenças físicas e mentais. Para muitas, a luta diária é não apenas para sobreviver, mas para manter sua saúde e dignidade em meio a um sistema que as ignora.

A exclusão previdenciária das mulheres negras reflete uma dívida social que o Estado brasileiro ainda não conseguiu quitar. Embora existam políticas públicas voltadas para a inclusão, elas são insuficientes para reverter um quadro histórico de desigualdade. A reforma da Previdência, por exemplo, ignorou amplamente as especificidades das mulheres negras, que já enfrentam desafios maiores no mercado de trabalho.

A criação de políticas que incentivem a formalização do trabalho e a inclusão previdenciária dessas mulheres é urgente. Medidas como a ampliação do acesso ao Microempreendedor Individual (MEI), a flexibilização das contribuições para a Previdência e a criação de programas de incentivo à formalização são passos importantes, mas que precisam ser acompanhados de uma mudança estrutural no mercado de trabalho e na cultura empresarial.

Os dados são alarmantes, mas é crucial lembrar que por trás dos números existem histórias de vida. Cada uma dessas mulheres negras que não consegue contribuir para a Previdência tem uma trajetória marcada por lutas, desafios e conquistas. Elas são mães, filhas, líderes comunitárias, trabalhadoras incansáveis que sustentam suas famílias e comunidades.

No entanto, o sistema as trata como invisíveis. Sua contribuição para a sociedade, embora significativa, não é reconhecida nem recompensada. Elas carregam o peso de uma história de exclusão, mas também a esperança de um futuro diferente, onde possam finalmente ter seus direitos garantidos.

Para reverter esse cenário, é necessário um esforço conjunto de toda a sociedade. É preciso reconhecer a importância das mulheres negras no mercado de trabalho e criar condições para que elas possam contribuir para a Previdência e garantir seu futuro. Isso passa pela valorização de suas ocupações, pelo combate à informalidade e pela criação de mecanismos que as protejam da exclusão social.

A exclusão previdenciária das mulheres negras não é apenas uma questão econômica, mas uma questão de justiça social. É necessário garantir que todas as brasileiras, independentemente de sua cor ou condição social, tenham acesso aos direitos que lhes são devidos. Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva, onde ninguém seja invisível ao sistema.