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Cos commissioning: quando mulheres pagam para ter encontros com homens ideais

Jovens, geralmente carismáticos e atraentes, assumem papéis cuidadosamente elaborados, criando uma experiência romântica sob medida para suas clientes

A crescente urbanização e estilo de vida agitado das grandes cidades chinesas originaram uma inusitada tendência: mulheres pagam cerca de R$ 400 para jovens interpretarem os homens dos sonhos, em encontros personalizados. 

A prática, conhecida como cos commissioning (uma mistura das palavras "cosplay" e encomenda, em tradução livre), vai muito além de um simples serviço de entretenimento. É um reflexo de profundas mudanças socioculturais e emocionais, moldadas por fatores que envolvem solidão, expectativas românticas e progressivo distanciamento das conexões genuínas no mundo moderno.

Jovens, geralmente carismáticos e atraentes, assumem papéis cuidadosamente elaborados, desde o namorado atencioso até o homem bem-sucedido e protetor, criando uma experiência romântica sob medida para suas clientes.

O curioso nesse fenômeno é a escolha deliberada das mulheres em pagar por uma representação idealizada, algo que revela uma mudança nos padrões de interação amorosa. Ao invés de investir em relacionamentos reais, com suas imperfeições e incertezas, elas optam por vivenciar momentos de pura fantasia, onde tudo é controlado, incluindo as emoções e os gestos. Isso não só elimina o risco de rejeição, mas também oferece uma experiência de conforto, onde as clientes são o centro da atenção e admiração.

A popularidade dessa prática na China é alimentada por vários fatores. Primeiramente, o acelerado desenvolvimento econômico resultou em uma nova classe de mulheres jovens, economicamente independentes, mas emocionalmente isoladas. Vivendo em grandes metrópoles, elas enfrentam, frequentemente, jornadas de trabalho intensas e uma vida social limitada, o que contribui para uma enorme  sensação de solidão. Além disso, a pressão cultural para que encontrem parceiros e se casem é constante, mesmo quando muitas delas não se sentem prontas ou motivadas a se comprometer com relacionamentos de longo prazo.

Outro fator importante é a digitalização das interações humanas. Com o avanço das redes sociais e aplicativos de namoro, as expectativas românticas têm sido, em muitos casos, moldadas por ideais irreais de perfeição. O cos commissioning surge como uma maneira de materializar essa perfeição exigida, onde cada encontro é cuidadosamente roteirizado para atender aos desejos específicos das mulheres, sem os desafios e a vulnerabilidade de uma conexão autêntica.

Embora o cos commissioning seja uma prática localizada na China, reflete tendências globais de como o amor e o romance estão sendo redefinidos no século XXI. Em um mundo cada vez mais virtual, a busca por momentos de conexão e afeto, mesmo que temporários e encenados, revela o quanto as pessoas ainda anseiam por vínculos emocionais, mesmo que sob formas artificiais. Entretanto, resta saber se essas experiências passageiras conseguirão, em algum momento, competir com a complexidade e a profundidade dos laços reais que todos, em última análise, procuram.


Nas Olimpíadas de Paris, a atleta ugandense Jane Nyange representava o símbolo de perseverança, superação e sonho. Para uma jovem vinda de um país em desenvolvimento, alcançar a classificação olímpica era muito mais do que um marco esportivo. Era uma demonstração de sua força e determinação. Porém, o que deveria ser o ápice de sua trajetória esportiva foi cruelmente interrompido por um ato de violência brutal: ela foi incendiada pelo próprio namorado.

O trágico acontecimento levanta questões não só sobre a vulnerabilidade das mulheres, mesmo as que alcançam patamares de destaque, mas também sobre a crescente prevalência de crimes passionais, uma problemática que assola diferentes partes do mundo. Jane, que deixou sua marca nas pistas de atletismo, tornou-se mais uma vítima do feminicídio, expondo uma realidade de que o sucesso esportivo, por mais glorioso que seja, não é suficiente para proteger as mulheres da violência doméstica.

A carreira de Jane sempre foi marcada por dedicação e sacrifício. Crescendo em uma pequena vila rural, ela começou a correr descalça em campos improvisados, sonhando em um dia competir nos maiores palcos do atletismo. Sua jornada até as Olimpíadas foi longa e cheia de desafios, incluindo a falta de infraestrutura esportiva adequada e o apoio financeiro limitado em Uganda.

Enquanto Jane brilhava nas pistas, sua vida pessoal seguia por um caminho sombrio. Relacionamentos abusivos não escolhem classe social ou sucesso profissional, e, como tantas outras mulheres, Jane vivia com medo em sua própria casa. O namorado, que no início parecia ser um apoiador, passou a demonstrar ciúmes extremos e comportamento possessivo à medida que ela alcançava mais visibilidade.

A tragédia aconteceu pouco após Jane retornar de Paris. Durante uma discussão acalorada, ele, em um ato de fúria descontrolada, jogou combustível sobre ela e ateou fogo. Jane sofreu queimaduras graves e lutou pela vida no hospital, mas não resistiu aos ferimentos.

O assassinato de Jane trouxe à tona questões profundas sobre o papel que a sociedade tem em proteger suas mulheres, independentemente de sua notoriedade. Não é incomum que atletas enfrentem problemas de violência doméstica e abusos, especialmente em contextos onde a fama pode intensificar os conflitos nos relacionamentos. Em Uganda, assim como em outros países, as mulheres que se destacam são muitas vezes vistas como uma ameaça à masculinidade tradicional.

Este caso provocou uma onda de protestos e discussões sobre a necessidade de políticas mais severas para combater a violência de gênero. Organizações de direitos das mulheres e atletas se uniram para exigir mais proteção e suporte às vítimas de violência doméstica, alertando para o fato de que a falta de ações efetivas coloca em risco o bem-estar e a vida de muitas outras mulheres.


Em um cenário onde a luta pela igualdade de gênero nas esferas políticas continua a ser um tema central, um levantamento recente trouxe à tona uma realidade curiosa e preocupante: a maioria dos projetos na Câmara dos Deputados que visam limitar a cota de gênero, um mecanismo crucial para a promoção da equidade entre homens e mulheres na política, é proposta por homens. 

Essa constatação não apenas reflete a disparidade existente entre os gêneros nas tomadas de decisão, mas também desperta questionamentos sobre as reais intenções por trás dessas propostas e o impacto que elas podem ter no avanço da representatividade feminina no Brasil.

As cotas de gênero, instituídas em 1995, obrigam os partidos a reservar no mínimo 30% de suas candidaturas para mulheres. Embora representem uma conquista significativa para a inclusão de mulheres na política, essas cotas ainda não se converteram em igualdade numérica no exercício de mandatos. A sub-representação feminina é visível em todas as esferas de poder, e a presença de iniciativas majoritariamente masculinas visando limitar ou revisar essas cotas revela um cenário de resistência às mudanças estruturais que possam desafiar o status quo.

A predominância masculina entre os proponentes de projetos para limitar as cotas de gênero na política pode ser explicada, em parte, pela própria dinâmica de poder no Congresso Nacional. Com uma composição majoritariamente masculina, os homens ainda detêm a maior parte das cadeiras legislativas e, portanto, o poder de pautar e conduzir debates sobre a legislação eleitoral. Essa concentração de poder resulta em uma abordagem que, muitas vezes, não leva em conta as experiências e necessidades das mulheres que buscam maior espaço na política.

Alguns parlamentares alegam que a limitação das cotas ou a flexibilização das regras tornaria o processo eleitoral mais justo, já que muitos partidos têm dificuldade em preencher as vagas destinadas a mulheres, muitas vezes recorrendo a candidaturas laranjas. Contudo, especialistas em políticas de gênero alertam que o verdadeiro problema reside na falta de apoio institucional e partidário para que mulheres se engajem efetivamente nas campanhas, e não na necessidade de alterar as cotas.

A representatividade política feminina no Brasil continua muito aquém do desejado. Segundo dados de 2022, apenas 15% dos assentos na Câmara dos Deputados são ocupados por mulheres, em um país onde elas compõem mais de 50% da população. Esse abismo entre a população e seus representantes reflete não apenas as barreiras formais, mas também os desafios culturais e institucionais que as mulheres enfrentam para conquistar e manter cargos políticos.

Assim, as cotas de gênero se mostram essenciais, ainda que imperfeitas. Elas representam uma medida compensatória para corrigir décadas de exclusão e marginalização das mulheres na política. Limitar ou revisar essas cotas sem um debate aprofundado sobre os mecanismos que impedem uma maior participação feminina equivale a retroceder nas poucas conquistas alcançadas até agora.

É necessário questionar as motivações que impulsionam projetos de lei que buscam restringir as cotas de gênero. Embora alguns proponentes possam genuinamente acreditar que estão promovendo uma melhor eficiência do sistema eleitoral, é impossível ignorar o contexto mais amplo de uma Câmara majoritariamente masculina, onde a resistência a iniciativas que ampliem a participação das mulheres é evidente.

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