Bets: problema de saúde financeira

As Bets devem movimentar R$ 130 bilhões este ano e podem ter um impacto na dinâmica do consumo das classes C e D. Apesar de recorde em emprego e renda maior que a economia brasileira vem apresentando, as classes C e D não estão recuperando todo o poder de compra perdido e o gasto com apostas pode ajudar a explicar ainda mais essa queda. 

De 2020 para cá, o tamanho do mercado de apostas foi de R$ 10,2 bilhões em 2020 para uma expectativa de fechar esse ano com um valor de R$ 129,7 bilhões. Esse aumento dos gastos da população nas apostas esportivas online pode ter afetado o processo de recuperação do consumo das famílias no mesmo período. 

Esse foi o resultado de um estudo desenvolvido pela PWC, que mostra esse aumento muito forte das apostas online que estão em todos os lugares, nas TVs abertas e fechadas, no smartphone e, sempre com alguma propaganda com inúmeras facilidades, ou seja, com muitos gatilhos para facilitar as apostas. 

Essas apostas terminam tendo um peso muito grande no orçamento das famílias. O orçamento das famílias vem se recuperando ao longo do tempo, com inflação mais em conta, com certo ganho no poder de compra. Porém, o valor de aposta médio tem ficado em torno de R$ 50,00 por mês, impactando severamente a renda das famílias, por exemplo, que ganham um salário-mínimo. 

Há uma regulação a caminho para que a partir do ano que vem impostos sejam cobrados sobre a receita das empresas e sobre o ganho dos apostadores. Mas, junto com a regulamentação, há a necessidade de desenvolver um trabalho muito grande para que as formas com que as apostas online são divulgadas sejam mais bem controladas. 

As Bets estão em todos os lugares, nas TV abertas e fechadas, no streaming que transmite as Olimpíadas, e em todos os esportes praticamente, nos smartphones, em todo o tipo de propaganda. Além disso, os gatilhos emocionais, a facilidade de acesso ao crédito para usar nos jogos, a possibilidade de apostar sobre praticamente qualquer tipo de resultado e o mau exemplo de influenciadores contribuem para o aumento do vício em apostas online.

Em geral, as classes C, D e E têm um nível de apostas muito elevado e que se concentra principalmente nos mais jovens e os homens. Essa é uma parte da população que tem pouca educação financeira e sofre com problemas de endividamento e mau planejamento financeiro familiar. 

Esse problema ainda vai trazer impactos importantes no Brasil, como já foi observado em outros países, como no Reino Unido e Austrália, onde as apostas online têm sido um problema cada vez maior e os governos daqueles países vêm tentando regular melhor a situação para que as apostas não tragam tanto peso no endividamento das famílias.