COLUNA

Novo déficit nominal recorde em julho

Resultado primário do setor público consolidado, que inclui união, estados, municípios e as empresas estatais, foi de R$ 21,3 bilhões de déficit
Por: Ecio Costa

Publicado em: 02/09/2024 10:14

Déficit nominal bate novo recorde histórico, superando a pandemia, com R$ 1,128 trilhão. O resultado primário do setor público consolidado, que inclui união, estados, municípios e as empresas estatais, foi de R$ 21,3 bilhões de déficit em julho, uma queda em relação ao déficit de R$ 35,8 bilhões em junho, mas não foi suficiente para evitar o aumento da dívida pública de 77,8% para 78,5% do PIB, 0,7 p.p. em um único mês.

O governo central e as empresas estatais apresentaram déficits de R$ 8,6 bilhões e R$ 1,7 bilhão, respectivamente. Os governos regionais (estados e municípios) apresentaram déficit de R$ 11 bilhões. No acumulado de 12 meses, o déficit primário agora é de R$ 257,7 bilhões, uma melhora de R$ 14,5 bilhões em relação ao mês de junho, que equivale a 2,29% do PIB, mas ainda muito distante da meta de déficit zero do Arcabouço Fiscal para 2024. 

Somando o pagamento de juros, chega-se no déficit nominal, que agora é de R$ 1,128 trilhão, que representa 10,02% do PIB e é recorde na série histórica iniciada em 2002, passando o valor do período da pandemia e o recorde de junho. Outro ponto importante é que as estatais voltaram a apresentar déficit, e cada vez maior. No acumulado de 12 meses, o déficit das estatais está em R$ 7,5 bilhões e de R$ 7,7 bilhões somente em 2024, contra um superávit de R$ 4,8 bilhões que aconteceu em 2022. 

Com esse resultado, a dívida em relação ao PIB chegou ao patamar de 78,5%, ou R$ 8,8 trilhões em julho de 2024. A dívida aumentou 4,1 p.p. somente em 2024 e 6,8 p.p. desde o início do Governo Lula. Em um mês, o aumento foi de 0,7 p.p. Nesse ritmo, é muito provável que a relação dívida/PIB continue crescendo, se encerre esse ano bem acima dos 80% e, até 2032, a expectativa do mercado é que chegue em 92% do PIB. 

Um endividamento cada vez maior do país, sem iniciativas concretas de redução de despesas, por si só, pressiona a dívida pública porque rolar a dívida se torna cada vez mais caro, com o risco maior que o país passa a apresentar. O pagamento de juros tende a aumentar porque a taxa de juros para esse endividamento precisa ser cada vez maior para atrair investidores que queiram comprar títulos da dívida brasileira. Ou seja, que acreditem que o governo vai honrar com seus compromissos. Essa situação complica a taxa de câmbio porque os investidores terminam saindo do país por não acreditarem no cenário macroeconômico, também pressionando a inflação. 

A política monetária passa a perder efeito por conta da dominância fiscal. Aumentos de taxa de juros deixam de produzir os efeitos no combate à inflação. O aumento acelerado da dívida pública traz consigo muitas incertezas para a economia, que retardam decisões de investimentos, consumo e impactam o crescimento.