Idealizada por um coletivo de negras e negros da Universidade de São Paulo (USP), a campanha #MeuProfessorRacista, onde estudantes compartilham episódios de violência sofridos na sala de aula, se espalhou pelas redes sociais no início desta semana. De acordo com o coletivo, a mobilização surgiu após um episódio de racismo ocorrido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Em carta aberta, o coletivo Ocupação Preta relata que, durante uma aula, uma professora, que não teve o nome revelado, teria abordado com chacota assuntos como marchinhas racistas e a questão racial na obra do escritor Monteiro Lobato. Em nota enviada à revista Galileu, a direção do FFLCH afirmou que desconhece a informação e que depende do recebimento das informações sobre o assunto.
Menos de 24h após o início da campanha, a tag - compartilhada no Facebook e Twitter - já contava com centenas de relatos de estudantes de várias regiões do país e diferentes instituições de ensino. "Ela perguntava se eu ia 'baixar espírito' quando ia de turbante e interrompia a aula constantemente pra fazer piada com meus dreads", conta uma das postagens. Outro post, também no Facebook, fala sobre uma professora infantil que "separava as crianças loirinhas das de cabelo crespo, pra não pegarem piolho".
Alguns dos textos publicados utilizaram ainda o espaço para, além de denunciar a violência, incentivar uma reflexão sobre o modelo de educação básica no país. "Foram tantos que até eu entrar na universidade e me livrar totalmente da escola eu não tinha noção do quão grande eu poderia ser", disse em seu perfil a estudante de jornalismo Eduarda Nunes. "Na escola eu era péssima, mas, fora dela, eu sou gigante", finalizou.
Desigualdade no acesso ao ensino superior
De acordo com pesquisa divulgada em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de negros no nível superior deu um salto e quase dobrou entre 2005 e 2015. Em 2005, um ano após a implementação de ações afirmativas, como as cotas, apenas 5,5% dos jovens pretos ou pardos na classificação do IBGE e em idade universitária frequentavam uma faculdade. Em 2015, 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior. Comparado com os brancos, no entanto, o número equivale a menos da metade dos jovens brancos com a mesma oportunidade, que eram 26,5% em 2015 e 17,8% em 2005.
Os dados foram constatados pela Síntese de Indicadores Sociais - Uma análise das condições de vida da população brasileira.
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