Reinvenções sustentáveis
Reinventar o pensamento
Por: Sérgio Xavier
Publicado em: 21/01/2019 07:55
Evoluções e reinvenções começam na nossa capacidade de imaginar. Sonhos individuais e coletivos; ideias e ações; movimentos de guerra ou de paz, dependem diretamente das referências que influenciam a nossa forma de pensar (intimamente e socialmente).
Portanto, compreender os principais fatores que compõem o pensamento humano é primordial para reinventar o atual modelo insustentável e injusto de sociedade global. Aguçar percepções, entender nossas capacidades mentais, conhecer o mundo onde estamos inseridos e cultivar desejos elevados são tarefas básicas evolutivas. Autoavaliar o pensamento é crucial para cada indivíduo se (re)conectar consigo mesmo, com os outros e com a natureza.
A civilização apressada, superficial, agressiva e poluída, da era digital, quase não pensa com o seu próprio cérebro. Está afogada em redes de “influenciadores”, algoritmos manipuladores, propagandas enganosas e tantas notícias falsas e informações inúteis, que mal consegue respirar (ar puro) e imaginar evoluções para a sua vida, de forma tranquila e consciente.
Mas como explorar nossa própria capacidade de pensar, cultivar inspiração e reinventar uma vida mais natural nessa correria robotizada e insana? A resposta é exercitar uma visão sistêmica. Imaginar que sua vida, profissão, lazer, relacionamentos pessoais, atividades diárias, seus sonhos e seu futuro, precisam estar em sintonia com os mesmos propósitos. E que esses propósitos individuais também precisam estar em harmonia com as grandes causas da humanidade: paz, conservação ambiental, igualdade, democracia, diversidade e colaboração.
Ligar todos esses pontos, que estão dispersos e camuflados no mundo real e no inconsciente, é o caminho para sair do atual labirinto civilizatório e encontrar a conexão mais próxima para uma vida melhor e sustentável.
Certo. Mas como tornar isso viável para milhões ou até bilhões de pessoas simultaneamente? Estou convicto que a resposta é reinventar a economia: o elo estratégico do nosso dia a dia, que nos envolve e nos impacta como cidadãos, consumidores, profissionais, empreendedores, políticos, artistas, educadores, desempregados e excluídos.
É o modelo econômico que define o nível de sustentabilidade, inclusão social e ética de uma comunidade. E oferece (ou não) a possibilidade de integrar felicidade pessoal com bem-estar coletivo. Assim, transformar o pensamento econômico é uma forte contribuição para mudar também os paradigmas e valores que orientam o pensamento geral da sociedade, inclusive o pensamento que molda o sistema político.
Ok. Mas como fazer a reinvenção da economia, algo tão complexo e dependente de poderosos interesses financeiros, geopolíticos e culturais? Imagino que a saída é demonstrar as imensas vantagens e oportunidades dos novos modelos sustentáveis. E é isso que vamos aprofundar nas próximas colunas.
Em todas as áreas, inovadores já iniciaram a migração da velha economia egocêntrica (do consumismo egoísta insustentável) para a emergente economia ecocêntrica, que valoriza a coletividade e considera um conjunto de ecossistemas interligados. Saindo do linear (muito lixo) para o circular (reciclagem); do mecânico para o sistêmico; do “ou” (excludente) para o “e” (inclusivo); do combustível fóssil para as energias renováveis e das posturas agressivas e intransigentes para atitudes abertas e colaborativas.
Este novo modelo exige criativas parcerias multissetoriais e articulação de políticas públicas disruptivas. Com novos processos produtivos sustentáveis é possível fazer a economia crescer com segurança, gerar empregos e reduzir desigualdades.
Várias empresas de petróleo, por exemplo, já estão investindo em biocombustíveis, energia solar e veículos elétricos, pois sabem que os mercados vão crescer nesta direção, considerando a urgência de reduzir emissões dos gases-estufa que provocam as mudanças climáticas. O Brasil, que tem gigantescas potencialidades para liderar esta nova economia, infelizmente, está sendo guiado por um pensamento atrasado, marchando grosseiramente de costas para o futuro.
Com muitas mentes criativas reinventando pensamentos e somando soluções inovadoras, não tenho dúvidas que é possível fazer evoluções abrangentes, com resultados rápidos e impactantes. Como? Veremos nas próximas colunas.
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* Sérgio Xavier é jornalista, com formação em Comunicação Social, Telecomunicações e Eletrônica. É empreendedor de inovação tecnológica (InovSi - Porto Digital) e desenvolvedor de projetos de Economia Circular e Gestão da Sustentabilidade. É ativista ambiental e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.