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Desinformação é tragédia!

Falta de conhecimento é a principal causa das tragédias humanas: sociais, econômicas, ambientais, individuais. Uma sociedade bem formada e continuamente informada tem muito mais capacidade de se articular, usar inteligência coletiva, criar e exigir soluções para qualquer problema.

O Brasil está perplexo com mais uma tragédia de lama. Três anos após a catástrofe de Mariana, “ninguém sabia” que mais uma barragem estava prestes a romper, bem perto, em Brumadinho. Centenas de pessoas, que trabalhavam e viviam no entorno, sequer tiveram ajuda de uma simples sirene, que alertasse para uma fuga imediata. Nenhuma comunicação. E, depois do caos, as informações circulam ainda mais confusas, dispersas, fragmentadas, misturadas e, em grande parte, sem confiabilidade. É uma grande ironia, tanta desinformação fatal na era das tecnologias de informação. Após as inaceitáveis mortes, anunciaram que um equipamento israelense iria detectar sinais de celular para localizar corpos. Insólito. O normal seria usar o celular para salvar vidas, informando e alertando com antecedência situações de risco. Bastaria ter sensores eletrônicos na barragem, para detectar pequenos abalos e emitir sinais instantâneos aos celulares na área de risco, com mensagens de emergência e orientações de escape.

Aliás, se as tecnologias digitais fossem bem utilizadas, não se chegaria a este cenário de terror. Muito antes de um rompimento, um modesto aplicativo poderia, automaticamente, divulgar alertas sobre prazos de vistorias, licenças, planos de emergência e outras providências de interesse da comunidade local, evitando que os riscos da barragem ficassem escondidos e negligenciados. Transparência é ótima fiscal. Regiões que dependem economicamente de atividades perigosas, como mineração, precisam ter acesso aos mais atualizados conhecimentos, para elevar sua segurança ambiental, social e econômica. Canais de comunicação podem indicar tecnologias já disponíveis para substituir as velhas barragens e destacar outros conteúdos científicos, para que as comunidades possam debater alternativas e cobrar evoluções. De forma preventiva, barata e educativa.

Mas, por que inovações tão óbvias não são implantadas? Exatamente por falta de conhecimento, percepção e pressão social qualificada. Logo, criar canais de informações relevantes, atualizadas, seguras e acessíveis no celular é, sem dúvida, uma prioridade da civilização do século 21, que está sufocada na lama virtual das fake news.

Neste contexto, o Diario de Pernambuco destacou semana passada (30/1) a iniciativa #SigaBarragens (Sistema de Informações Georreferenciadas para Gestão Ambiental de Barragens), que propõe uma lei federal, obrigando informações simplificadas e alertas preventivos, via celular, para a sociedade saber riscos da vizinhança e monitorar construções perigosas. Com poucos cliques será possível consultar o que existe ao seu redor, saber sobre licenças, laudos de segurança, impactos potenciais, planos de emergência, receber alertas e até interagir com órgãos de fiscalização. A lei também deve obrigar sinal de celular nas áreas de perigo. Com as redes sociais contaminadas por mentiras e sem plataformas como o #SigaBarragens disponíveis, é o jornalismo profissional que está garantindo informação de qualidade à população. É a imprensa qualificada que acompanha acontecimentos, checa, investiga, consulta especialistas, junta conhecimentos diversos, garimpa histórias, capta ideias, compara múltiplos pontos de vista, desperta emoções, seleciona imagens marcantes e resume tudo, com agilidade e clareza, para que toda a população possa entender. E, sobretudo, assina e se responsabiliza pelas notícias, assegurando confiabilidade. Equipes jornalísticas filtram o que é relevante em todas as áreas (política, economia, cidades, saúde, cultura, ciência, ambiente etc) e protegem o leitor da poluição informativa e da perda de tempo, oferecendo ‘mapas de navegação’ para o mundo de hoje, formando uma visão crítica do conjunto de acontecimentos locais, nacionais e internacionais.Os memes engraçadinhos que chegam até você anonimamente pelas redes, não passam por esse crivo. Por isso, os veículos jornalísticos são cada dia mais essenciais na vida de todos. Em meio ao caos das redes digitais, cresce a ideia de que os jornais estão em crise, mas, na verdade, a sociedade é que está em grave crise de informação segura. E nesse contexto, os jornais estão se reinventando e se reconectando com os leitores mais conscientes e exigentes. Um novo jornalismo do conhecimento, com visão interconectada, está surgindo, na urgência por um desenvolvimento efetivamente democrático e sustentável.

Interação sobre #SigaBarragens no Instagram: @sergio_xavier

* Sérgio Xavier é jornalista, com formação em Comunicação Social, Telecomunicações e Eletrônica. É empreendedor de inovação tecnológica (InovSi - Porto Digital) e desenvolvedor de projetos de Economia Circular e Gestão da Sustentabilidade. É ativista ambiental e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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