Interrogações, pesquisas e descobertas são bases do jornalismo e também princípios para gerar inovações. Além de fundamental para a democracia e a evolução social, o jornalismo é primordial para criar uma sociedade inovadora e tem um expressivo papel transformador.
As disrupções provocadas pelas tecnologias digitais abalaram os antigos modelos de negócios que sustentavam o jornalismo profissional, mas criaram imensas oportunidades de reinvenção.
Os gigantes da internet, que levaram públicos e verbas publicitárias dos tradicionais veículos de comunicação de massa, são agora plataformas de proliferação de fake news, invasão de privacidade, manipulação de dados pessoais e canais para enganações, extremismos e idiotices viciantes. Começam a perder usuários, abrindo novas possibilidades para o jornalismo qualificado.
A crise de informação confiável nas redes torna o jornalismo mais importante do que nunca. Fortalecer o bom jornalismo é garantir descobertas relevantes para a sociedade todos os dias. Mas isso precisa ser percebido pelo público.
A poluição desinformativa, que gera confusão, perda de tempo e estresse no dia a dia, indica a urgência de um novo jornalismo - comprometido em mapear problemas significativos, garimpar conhecimentos verdadeiros, captar boas ideias, mostrar opiniões plurais e oferecer soluções inovadoras de interesse coletivo, com ética, transparência e interatividade.
Diferentemente do fluxo unidirecional que perdurou até os anos 90 (veículos emitindo informações sem interatividade) e do fluxo multidirecional caótico que existe hoje (todos enviando informações para todos, sem garantias de procedência) o modelo a ser construído requer plataformas jornalísticas certificadas, conectando as melhores soluções com as demandas da sociedade.
O jornalismo tem ferramentas e forças para liderar o seu próprio processo disruptivo, sem ficar a reboque. Mas precisa investir em ousadia e articulação. Diversas iniciativas mundo afora demonstram que é tempo de reinvenções, exatamente pela importância social do jornalismo.
Se os maiores concorrentes são as megaempresas digitais (que atraem atenção e tempo das pessoas) o ponto de inflexão é saltar da Tecnologia de Informação para a Tecnologia com Informação. Oferecer tecnologias já integradas com informações exclusivas e serviços inovadores para diversos públicos e compor um novo leque de captação de receitas, para se sustentar e crescer com independência e credibilidade.
Com o Porto Digital (que reúne empresas tecnológicas criativas) e um importante polo de imprensa (com o bicentenário Diário de Pernambuco), Recife tem potencialidades para se tornar um centro de referência em comunicação e jornalismo. Basta imaginar parcerias inéditas e ligar inteligências.
Para consolidar o caminho digital, estão chegando (em 2019) os celulares dobráveis, que cabem no bolso e, quando abertos, duplicam a tela, facilitando leitura, navegação e acesso a inúmeros aplicativos. Isso certamente vai reduzir o interesse por jornais impressos, mas, com criatividade editorial, design arrojado e conteúdos mais profundos, analíticos e exclusivos, ainda haverá vida no papel por algum tempo.
Só a coragem inventiva gera evoluções. Práticas conservadoras e repetitivas não impedem decadências e terminam no colapso em algum tempo.Jornalismo tem que ser inquieto e questionador,sobretudo quando está em risco a sua própria sobrevivência. Se ficar passivo, não é jornalismo.
Prospectando tendências e desafios do jornalismo em 2019, o Reuters Institute for the Study of Journalism e a University of Oxford divulgaram relatório com cenário inóspito, mas instigante (veja íntegra no link abaixo).
Sintetizando a visão de 200 líderes digitais de empresas de comunicação, de 29 países, o relatório indica que os conteúdos falsos continuarão vigorando e com um sério agravante: as emergentes Deep Fakes - sofisticada tecnologia de manipulação de imagens que produz videos falsos com perfeição. Segundo o relatório, o jornalismo [um antídoto contra a megavirose fake], continuará sendo ameaçado por disrupções estruturais. E prevê maior pressão para regular monopólios da internet, com a crescente preocupação com desinformação, privacidade e concentração de poder de mercado.
O relatório mostra o Facebook perdendo importância e indica a busca por assinantes uma prioridade para sustentar o jornalismo independente. Aponta para incrementos no uso de audios, assistentes virtuais e Inteligência Artificial, junto com a necessidade de reter e valorizar profissionais do jornalismo. Injetar tecnologia na produção jornalística é vitamina para enfrentar concorrentes virtuais, mas integrando com inteligência humana, que continua insuperável no setor, apesar da chegada dos primeiros robôs-âncoras, que já substituem apresentadores de telejornais na agência de notícias chinesa Xinhua.
Diante do cenário crítico e considerando sua importância estratégica para a humanidade, o jornalismo precisa intensificar inovações, sem medo de ousar, pra não ficar acuado por setores sem compromisso com uma civilização democrática, plural e evoluída. Como fazer isso? Interrogando e buscando respostas. Este é princípio do jornalismo e também das reinvenções.
Interaçãosobreotema:@sergio_xavier(Instagram), reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/(Tendências2019-Jornalismo,MídiaeTecnologia),www. elementsofai.com/ (Curso gratuito de Inteligência Artificial da Universidade de Helsinque)
* Sérgio Xavier é jornalista, com formação em Comunicação Social, Telecomunicações e Eletrônica. É empreendedor de inovação tecnológica (InovSi - Porto Digital) e desenvolvedor de projetos de Economia Circular e Gestão da Sustentabilidade. É ativista ambiental e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.
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