Ninguém cresce amarrado a dogmas. Evolução exige visão, mente e coração abertos. Inovações dependem de descobertas. E não há descobertas sem explorar o diferente, o novo e o aparentemente esquisito. Algo estranho é simplesmente o que ainda não conhecemos. E conhecimento é fundamental para a vida, em todos os sentidos. Discordar sem conhecer é preconceito emburrecedor.
Para enxergar novas possibilidades e ter inspiração criativa é essencial quebrar barreiras e bloqueios. Ou seja, eliminar preconceitos, intolerâncias e desconfianças é requisito primordial para evoluir pessoalmente, avançar profissionalmente e somar coletivamente.
Tudo isso parece óbvio, mas, infelizmente, grande parte da humanidade continua presa a referências que apequenam e fragmentam, em vez de se abrir a paradigmas que engrandecem e integram. Xenofobia, homofobia, racismo, preconceitos religiosos, sociais, de gênero e outros muitos pavores ignóbeis, nada mais são do que medos e ignorâncias, que atrasam a jornada para uma civilização de paz, solidariedade, diversidade e racionalidade. Fobias são provocadas por problemas psicológicos, desconhecimentos ou visão crítica limitada. Portanto, exige compreensão, tratamento e capacitação, com políticas públicas integradas. Se o simples jeito do outro viver ou pensar lhe causa ódio, cuide-se, você está com algum problema interior.
Educação, comunicação, legislação, democracia e arte são os instrumentos disponíveis para vencer as trevas e travas dos preconceitos (ou conceitos deturpados). Por isso, precisam estar sempre sendo gerenciados com equilíbrio democrático e total compromisso com direitos e liberdades. Governos que se arvoram a recontar a história com versões autoritárias unilaterais; que tentam controlar o sistema educacional com ideologias e práticas radicais; que enaltecem ditaduras e censuras; que restringem a produção e a expressão artística ou que buscam calar a diversidade de imprensa, estão na contramão da evolução civilizatória.
Artes e pensamentos livres abrem percepções, criam visões críticas e geram capacidades naturais para amadurecer sensos coletivos. Portanto, cortar a liberdade é impedir o amadurecimento social. Cinema, teatro, música, dança, poesia, pintura, literatura e infinitas expressões populares são fundamentais para formar uma sociedade plural e tolerante, com cidadãos e cidadãs capazes de, por si mesmos, entenderem, escolherem e absorverem o que consideram positivo e criticarem, com argumentos próprios, o que não concordam ou não desejam.
O espetáculo teatral “Visitando o Sr. Green”, de Jeff Baron, com direção de Cassio Scapin e maravilhosas interpretações de Sérgio Mamberti e Ricardo Gelli (apresentada em Recife neste fim-de-semana), mostra como afeto e empatia podem vencer os mais terríveis e estúpidos preconceitos. Ensina, de forma dramática e também divertida, o quanto o sectarismo é incompatível com felicidade. E como a intolerância pode ser vencida pelo diálogo respeitoso, tão necessário hoje no Brasil.
Ao final da peça, Mamberti, com quem atuei no Ministério da Cultura de 2003 a 2006, na marcante gestão do ministro Gilberto Gil, registrou a tristeza de ver o governo atual extinguir o ministério e desmantelar as políticas culturais do país.
Em contraponto ao teatro tosco e sem imaginação da política atual, é fundamental o incentivo à produção artística. Pra despertar sensibilidades, precisamos do verdadeiro teatro, que toca em questões profundas, com leveza, humor, inteligência criativa, poesia e força dramática. A atividade cultural tem importância estratégica. Sempre!
“O papel da escrita é o de conectar com o outro, de completar. Antes de escrever um texto, é necessário olhar para nós, mas também para o outro. A gente não se dá conta, mas a escrita tem o poder de transformar a realidade, a vida. E a gente desperdiça isso, escrevendo textos superficiais, sem encontro, sem alma”, resume a escritora e jornalista Ana Holanda, editora da Revista Vida Simples, que inaugurou sábado, no Recife, a agenda “Trocas Que Inspiram”, do Hub Cultural SinsPire. Na era de textos agressivos e falta de referências agregadoras nas redes, o seu livro “Como se encontrar na escrita” (Editora Rocco, 2018) tem muito a contribuir.
Para evoluir, não basta inventar coisas novas. É preciso também desinventar criações ruins. O preconceito é um exemplo. Precisa ser desmontado e retirado de circulação. É uma invenção nefasta e desumana. Uma praga fratricida, pois contamina humanos contra humanos. Desinventar preconceitos é passo para felicidade geral e irrestrita.
Interação - Instagram: @sergio_xavier @sergiomamberti @ricardogelli @anaholandaoficial @sinspire.hub
*Sérgio Xavier é jornalista, consultor e desenvolvedor de projetos de inovação para Sustentabilidade. Foi secretário nacional de Fomento à Cultura na gestão de Gilberto Gil no MinC. É ativista ambiental e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.
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