EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Cadê as lideranças falando de temas sociais?
Por: Fábio Silva
Publicado em: 28/05/2019 08:56
No último domingo (19), o Benfica se tornou campeão português da temporada 18/19. É o título 37 do time de Lisboa, que ganhou 5 nas últimos 6 temporadas.
E porque este é nosso assunto de hoje? Porque estou em Portugal a convite da Conferência Refletir para falar sobre engajamento cívico e voluntariado, e era impossível passar na praça Marquês de Pombal por volta das 23h, após o jogo.
Saímos do Uber, eu, minhas filhas e esposa, para avançarmos a caminho do hotel, já que falavam em 50 mil pessoas na praça principal de Lisboa. Daí deu tempo de parar para ver a festa e ouvir alguns discursos dos campeões no enorme palco montado na praça. Um a um, os campeões subiam, gritavam palavras de amor ao clube, a torcida ia ao delírio, e a festa seguia. Muitos dos jogadores se referiam ao treinador como alguém fundamental para o título e para a mudança de atmosfera na equipe. Os discursos eram voltados para os valores que o líder, o treinador, trouxe para a equipe campeã. Até que subiu ao palco o treinador da equipe, o tão falado Bruno Lage.
Ele começa fazendo um pedido: “Espero que todos vocês comemorem bastante o título nesta noite. Ele foi para vocês. Mas já começo pedindo um primeiro presente, não sujem as ruas, recolham o lixo da praça, façam festa, mas deixem a cidade limpa!”
A torcida que estava eufórica pelo título parou e bateu palmas sem parar pelas falas do treinador. Eis que ele continuou e emendou uma fala ainda mais consciente e prática: “Se podemos e conseguimos ser campeões no campo, porque não podemos pegar todo este engajamento e usá-lo para Portugal, para cobrarmos e construirmos uma melhor economia, saúde, educação, justiça cidadã?Juntos podemos, sim!”
A praça Marquês de Pombal foi ao delírio, e muitos se abraçaram.
Alguns vão dizer que foi uma fala perigosa e que não se mistura política, futebol e religião. Mas qual a sua opinião sobre isso?
Confesso que sinto falta de celebridades, jogadores de futebol, artistas brasileiros usando seu momento de fama para fazer a população pensar nos porquês que a vida da grande maioria das pessoas é tão ruim.
No Brasil, a polarização política fez gente grande e de enorme influência ter medo. Medo de não ser mais contratado, medo dos fãs de opinião contrária, medo da imprensa, medo dos fake news, medo de dar sua opinião sobre a economia, a saúde, a educação.
Uma opinião bem centrada, dada por alguém influente pode mobilizar muita gente em volta de uma causa, de uma luta de tantos que precisariam falar, mas não tem onde.
Está faltando gente pra falar, mas acho mesmo que está faltando gente para dar o exemplo do que fala.
* Fábio Silva é empreendedor social, criador da ONG Novo Jeito, do Porto Social, e das plataformas Transforma Recife e Transforma Brasil