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Coluna Acerto de Contas: É preciso formar gente para o futuro

Publicado em: 04/05/2019 12:12

Foto: Arquivo DP (Foto: Arquivo DP)
Foto: Arquivo DP (Foto: Arquivo DP)
Desde a semana passada tenho me ocupado em entender os números detalhados da formação de mão de obra a partir das universidades no Nordeste. A base do meu estudo é o Censo da Educação Superior, feito pelo MEC. Os dados mais atualizados são referentes ao ano de 2017.

Minha preocupação está em estudar as heterogeneidades na demanda por formação nas diversas áreas, para entender o real número que poderemos trabalhar no Porto Digital, que precisa de mão de obra especializada no curto prazo. Alguns cursos são fundamentais para o ecossistema de tecnologia, em especial o curso de Ciência da Computação. Mas outros como Engenharia da Computação e Sistemas de Informação também são muito relevantes. Vale salientar que estou analisando apenas os cursos presenciais. Chama a atenção como temos poucos alunos em tecnologia, especialmente quando comparado a outros como Direito, que é atualmente o maior curso em número de alunos. Esta comparação serve para entendermos como uma demanda inflada por um incentivo individual, como o concurso público, pode desestabilizar o mercado de trabalho no futuro. O gráfico/tabela que preparei leva em consideração o total de alunos em Ciência da Computação, o total da área de TI (nos três cursos que citei, como Ciência da Computação, Sistema de Informação e Engenharia da Computação) e Direito, fazendo recortes para o Nordeste, Pernambuco e Região Metropolitana do Recife.Acredito que ninguém tenha dúvidas de que temos advogados demais no país. Hoje mais de 2% da população brasileira é bacharel em Direito. Paralelo a isso, não temos boas perspectivas de concurso para a área jurídica e nem mesmo no mercado privado. Para quem não está acostumado ao tema, basta saber que a área será uma das mais impactadas pela transformação digital, especialmente a inteligência artificial, que vai reduzir muito o número de postos de trabalho.

Pois bem, comparando a área mais promissora em termos de empregabilidade futura (e presente), que é a área de tecnologia da informação, os resultados são preocupantes. O curso de ciência da computação tem apenas 7% dos alunos de Direito no Nordeste. Os dados se repetem, independente do recorte geográfico que faça, em qualquer região do país. Em Pernambuco, por exemplo, temos 2.657 estudantes de Ciência da Computação e 31.824 de Direito. Somando todos os três principais cursos da área de tecnologia (Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia da Computação), temos em Pernambuco apenas 6.296 estudantes.Se quisermos deixar a comparação ainda mais visível, apenas o curso de Direito da Universidade Católica de Pernambuco, que é uma das nossas melhores instituições, tem 3.595 alunos. Isso é quase 50% maior que o somatório de todos os cursos de ciência da computação do estado. A preocupação aumenta quando percebemos duas outras informações: - 77% dos alunos (1.583 alunos) de Ciência da Computação vêm de apenas 4 instituições: UFPE (507 alunos), UNIFG (425), Universidade Rural (337) e Unicap (314). Nem mesmo com o crescimento do ensino superior privado as outras instituições conseguiram aumentar sua base de alunos de maneira substancial. Apenas UNIFG e Unicap conseguiram montar cursos relativamente grandes; - o índice de evasão é assustadoramente alto nos cursos de tecnologia, especialmente nas instituições privadas.

Em relação ao segundo ponto (evasão), só para termos uma ideia do problema que temos, dos 800 alunos que entram por ano nos cursos de ciência da computação na Região Metropolitana do Recife, em torno de 200 se formam. Isto equivale a uma evasão de 75%. A evasão em direito está próxima de 60%. O que isto quer dizer? Que além de termos poucos alunos na área de tecnologia, ainda temos um grande índice de abandono.

Isso tudo aconteceu por uma série de equívocos feitos pelo Poder Público ao longo dos anos. Os incentivos desproporcionais dados aos que entraram na carreira pública nas áreas jurídica e de auditoria são surreais. Não é demais afirmar que temos o melhor emprego do mundo para um aprovado em um concurso. Quem não gostaria de começar ganhando mais de R$ 20 mil por mês, chegando perto de R$ 40 mil em pouco tempo, sem cobranças por resultados e ao mesmo tempo sem a possibilidade de perda do emprego? Isso sem falar na possibilidade de aposentadoria integral (os funcionários públicos mais antigos) e de férias de 60 dias, que só existe para a área jurídica no Brasil. A grande vantagem disso tudo é que podemos mudar rapidamente isso com incentivos adequados, especialmente Fies e ProUni. Basta vontade para fazer acontecer.
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