Colunas

Quando todos vão falar de educação cívica?

De cada 10 pessoas que você perguntar: “Qual a solução para o Brasil?”, as respostas estão centradas em 4 áreas: emprego, educação, segurança e acabar com a corrupção. Faço este exercício todos os dias! A falta de emprego está ligada principalmente ao momento terrível que o país vive, mas, que pode mudar a partir dos rumos econômicos que o Brasil tomar. A segurança parece que vai na mesma linha. O desemprego e a crise econômica também contribuem com a violência, e podem diminuir caso a situação do país melhore. Já a corrupção tem a ver com punição e cultura. Cultura tem a ver com educação. Então, também são assuntos que andam bem juntos. Sendo assim, vamos focar na educação. Mas de que modelo de educação estamos falando? Que formato? Que grade curricular? Quem são os professores? Vamos reconhecê-los como protagonistas desta transformação? Que estrutura física precisamos para uma boa educação? Que modelo de gestão? Qual o tamanho do investimento financeiro é necessário? Percebeu que tem muita coisa pra arrumar para que a educação de qualidade chegue aos municípios e aos estados? Mas, mesmo se arrumássemos tudo isso, sinto ainda algo escondido a ser tratado, debatido. Algo que a população enxerga como menor, mas que eu enxergo maior: a Educação Cívica.

Sou pai de duas meninas: Sofia - 10 anos, e Nina - 7 anos. Elas estudam na rede particular de ensino. Como pais, temos condições de fazer este investimento, mas não é a educação numa excelente escola que as fazem ter noção do engajamento cívico, do papel delas na sociedade. Percebemos que a nossa postura, como pais engajados em projetos sociais e voluntariado, leva nossa família a fazer parte dos 4,3% da população brasileira que faz alguma atividade voluntária. A educação brasileira não é construída valorizando o coletivo, e sim, o individual. Na prática, as crianças e adolescentes não aprendem para ensinar, compartilhar, beneficiar nem para ajudar quem não tem acesso à mesma educação. A educação tem se dedicado principalmente a levar nossos filhos a “ser alguém” ou a “vencer na vida”, entende ? Essa postura, que se repete em todo o país, explica um pouco do porquê que apenas 4,3% dos brasileiros busquem a atuação voluntária.

Hoje, os maiores vetores de civismo no país não são as escolas, mas as igrejas e as ONGs. Inclusive, grande parte das ONGs carregam a mesma motivação das igrejas: a espiritualidade e a religião.

As ONGs e Igrejas estão nos lugares mais invisíveis deste país espalhando o bem, sendo aceleradoras de educação cívica na vida de quem faz trabalho voluntário. Sabem por que não fazem ainda mais o bem na vida das pessoas que precisam dos seus serviços? Faltam VOLUNTÁRIOS! Falta educação cívica. Para quem falta? Qual o primeiro público a ser atingido por esta tal educação cívica? Todos! Escolas particulares, escolas públicas, empresas valorizando na educação corporativa, igrejas colocando nas escolas dominicais... É possível atingir muito mais gente! Com educação cívica podemos rapidamente mudar a atmosfera do Brasil colocando solidariedade e generosidade como um estilo de vida do cidadão brasileiro.

Sempre se confunde muito isso tudo com religião, mas o nome disso é amor ao país, amor ao próximo, amor a sua própria vida. Se isso for religião, ok. Mas, creio que o melhor nome que pode se dar a isso é “engajamento cívico”.

Precisamos construir o brasileiro como protagonista e não como um cliente da Pátria. Sabemos que muitos brasileiros precisam do Estado para sobreviver, ou para ter incentivos e “empurrões”, que ajudem a sair da sua situação de vulnerabilidade social. Mas, os que conseguem, precisam ser parte da solução para este país.

Não vejo quase nenhum político valorizando esta pauta. Assim também como é difícil achar líderes religiosos falando sobre isso ou educadores colocando a educação cívica como prioridade.

Se acharmos que só podemos tratar este tema como prioridade quando problemas maiores forem resolvidos, este assunto nunca será tratado. No entanto, vejo que este deveria ser o primeiro tema do país.

Estou acostumado a viver no meu dia a dia ações sociais de educação, de cuidado com o idoso, ações nas creches, com animais, com o lixo, com a água, com o ar... e vejo como quem participa volta com novos valores para viver sua vida. É uma enorme mudança de prioridades na agenda do indivíduo.

Por isso, cada dia mais acredito que vamos transformar este país quando a educação cívica gerar mais engajamento cívico, mas isso tudo só vai acontecer quando todas as instituições falarem sobre esta causa: a causa de todos para todos.

* Fábio Silva é empreendedor social, criador da ONG Novo Jeito, do Porto Social, e das plataformas Transforma Recife e Transforma Brasil

Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...