O terrorismo é pauta recorrente nos temas internacionais e está entre nós – quer queiramos ou não. O ato alimentado pelo terror sistêmico está cá dentro e não somente lá fora. Quando pensamos em terrorismo, sempre imaginamos que este está restrito a todos os continentes, exceto aqui no Brasil do carnaval, do futebol pentacampeão e do jeitinho. Falso! País algum está imune a essa patologia do sistema internacional. Estejamos, pois, atentos aos seus trajetos, repetições, plataformas e dinâmicas.
O termo “terrorismo” representa expressão de grande complexidade para as Relações Internacionais. Quem o pratica? Existem Estados Nacionais que podem exercê- -lo? O terrorismo pode tanto ser desencadeado por células organizadas em rede, no nível paraestatal, quanto por países soberanos de maneira ampla. O terrorismo como fenômeno pode ser assim definido, à guisa de paráfrase: “ato indiscriminado e sistemático de violência contra seres humanos e estruturas físicas com fins de radicalismo político.”
A origem histórica do terror, enquanto instituição, é antiquíssima e foi sendo amoldada a partir de critérios políticos e agendas governamentais ao longo do tempo. Embora controverso e com grandes transformações em seu uso, o termo terrorismo tem origem histórica bem clara: o radicalismo jacobino durante o período conhecido por “reino do terror” logo após a Revolução Francesa em 1789. No momento histórico que vai de 1793 a 1794, o radicalismo e o fanatismo materializaram a exacerbação da violência para purificar a nova ordem.
De toda maneira, o terrorismo como ferramenta de comportamento do radical, usando o sangue como símbolo de poder é ferramenta recorrente com requintes de crueldade. A questão é o alcance do uso do termo terrorismo como prática internacional e na formação de política externa de determinados países, seus desdobramentos e suas consequências no contexto das interlocuções bilaterais dos países. A temática, como se percebe, é complexa, ampla e inflamável sob o ponto de vista do debate acadêmico, científico e também político. Neste sentido, é importante diferenciar, em linhas gerais, o velho do novo terrorismo.
O velho terrorismo ou terrorismo tradicional está atrelado ao Estado-Nação e, geralmente, está associado à separação ou à busca de autonomia regional de um grupo sociocultural específico. Esses parâmetros colocam o ETA, o IRA e os Tigres Tamil, este último no Sri Lanka e que foi desarticulado há, mais ou menos dez anos, em semelhante classificação visto que lutavam pela independência forçosa de suas respectivas áreas nacionais. O velho terrorismo tem pautas e agendas bem específicas da realidade local. O chamado “novo terrorismo” é a prática do terror que não está confinada ao Estado-Nação, superando a velha rivalidade leste-oeste (comunismo-capitalismo). Age transnacionalmente, ceifando vidas inocentes, tendo como contrariedade as grandes civilizações. O novo terrorismo não mais está adstrito aos países ocidentais, mas também aos países periféricos como Tanzânia/Quênia (1998), Iêmen (2000), Indonésia (2002), Rússia/Chechênia/Daguestão (2004), Madri (2004), Londres (2005) e Paris (Ataque ao Charlie Hebdo), em Bruxelas (2016) e Orlando (2016). É um inimigo invisível, sorrateiro, calculista e, profundamente, simbólico. O simbolismo de seus atos está cada vez mais atrelado à alta capacidade destrutiva de imagens, ícones, emblemas, representações e matérias em tempo real. Algumas vezes prefere não assumir seus atos, deixando na incógnita seu rastro de violência e caos. O novo terrorismo representa ameaça às instituições democráticas ocidentais, aos valores iluministas e ao respeito aos direitos humanos. Negligenciar o respeito aos direitos humanos, à liberdade de crença e de autodeterminação é alimentar mais esse cenário de terror e pânico xenófobo. A resposta está na necessidade de diálogo multilateral e respeito por meio de efetiva vontade política coletiva, respaldada pela ONU.
Entre o velho e o novo terrorismo, há apenas derrotas, sangue e gritos abafados de dor. Não há vitória alguma; não há legitimidade; há apenas escombros. Que o novo e velho terrorismo sejam práticas jamais aceitas em qualquer tempo. Pensemos nisso – e de forma urgente. A humanidade, a paz esperançosa e o bem coletivo agradecem.
* Doutor em Ciência Política. Coordenador do Curso de Ciência Política da UNICAP. Cônsul de Malta e Presidente da Sociedade Consular de Pernambuco.
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