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COLUNAS

Reinvenções sustentáveis

Governadores no Clima

Publicado em: 28/06/2019 07:17 | Atualizado em: 28/06/2019 10:37

Foto: Arquivo pessoal
A economia mundial caminha para a valorização das florestas e de outros ecossistemas que sustentam o equilíbrio climático, considerando que os desmatamentos e poluições geram aquecimento global e já estão causando prejuízos em todos os setores. 

   Esta valorização, formalmente referendada por 195 países, em 2015, no Acordo de Paris (exigindo, com base científica, uma civilização de baixa emissão de carbono e demais gases que causam mudanças climáticas), oferece ao Brasil a oportunidade de saltar da 8ª economia convencional do planeta (medida pelo velho PIB poluidor) para a 1ª economia verde da Terra (medida por indicadores de sustentabilidade). 

   Considerando que a Amazônia é imprescindível para a estabilidade climática global, muitos países estarão dispostos a apoiar e até pagar pela sua preservação, compreendendo o conceito de Pagamentos por Serviços Ambientais - PSA, um instrumento econômico já disponível em muitos lugares, com tendência a se tornar um mecanismo global, tornando as florestas ativos financeiros e ajudando a elevar a renda de comunidades que preservam o meio ambiente. Em 2016, formulamos com o governador Paulo Câmara um projeto de lei, aprovado com grande receptividade pela Assembleia Legislativa, criando este novo dispositivo em Pernambuco - https://bit.ly/2J8ZOeA   

   Diante dessas potencialidades, reconhecidas internacionalmente, é obvio que o Brasil deveria estar aproveitando suas gigantescas vantagens naturais para (1) criar novos modelos de negócios (baseados em PSA, bioindústrias extrativistas e na emergente precificação do carbono); (2) formar profissionais para esta irreversível economia (podendo oferecer serviços inovadores para o mundo); (3) fortalecer seus produtos agrícolas (com ecocertificações altamente requisitadas nos mercados internacionais) e (4) gerar milhões de empregos sustentáveis, sem riscos de colapsos no futuro, aproveitando eternamente seu berço esplêndido natural e pesquisando, conhecendo e mantendo vivo esse poderoso patrimônio.

   Entretanto, para o nosso espanto, o governo federal descarta tudo isso e rompe as vias do futuro, na medida em que desmantela as políticas ambientais e encoraja as velhas práticas devastadoras. Esta insanidade ou ‘idiotologia’ política já começa a atrapalhar o  aporte de investimentos, tão necessários para a transição da velha para a nova economia e tão urgente para a geração de empregos em todas as regiões. Diversas fontes internacionais estão recuando, atônitas, sem entender a estratégia desastrosa. 

   Em vez de freios e retrocessos, o Brasil precisa acelerar no caminho da nova economia de baixo carbono e gerar trabalho e renda sustentáveis, com máxima velocidade. Em vez de afastamento de parceiros estratégicos internacionais, como a Alemanha e a Noruega, grandes doadores do Fundo Amazônia (com R$ 3,4 bilhões de investimentos para desenvolver a região sem desmatamentos), precisamos é de mais intercâmbio e integração. Com essa convicção, passei a semana em Brasília, articulando, juntamente com o Fundador do Centro Brasil no Clima, Alfredo Sirkis, a estruturação do “Conselho de Governadores pelo Clima” e a criação de uma “Aceleradora de Inovações para Economia de Baixo Carbono”. 

   O objetivo é atrair investimentos internacionais diretamente para os estados e promover o desenvolvimento de novas cadeias produtivas circulares e sustentáveis, conectando políticas públicas com inovações tecnológicas, modelos criativos de econegócios e vocações dos biomas locais. 

   A Aceleradora, interligando centros de pesquisas, empresas disruptivas, governos inovadores e entidades associativas - nacionais e internacionais - visa mapear todos os tipos de fontes de financiamento disponíveis, prospectar ideias e conhecimentos, além de assessorar os governos no desenvolvimento de projetos, planos e políticas públicas com visão sistêmica. Será um hub catalisador de ecoempreendimentos, de formato institucional flexível, com arranjos formatados por projeto e focados em resultados rápidos.

   O Conselho de Governadores, idealizado por Alfredo Sirkis, está sendo constituído no âmbito da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente – Abema, que congrega secretário(a)s e dirigentes de órgãos ambientais. Dezoito estados e o Distrito Federal estiveram representados na reunião desta semana em Brasília, coordenada pelo novo presidente da Abema, Germano Vieira, secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais. O governador Paulo Câmara, que apoia a iniciativa desde o início, foi representado pela secretária executiva da Semas, Inamara Melo. 

   A ação prática e objetiva da Aceleradora, combinada com a força política agregadora do Conselho de Governadores, pode viabilizar um forte movimento ecoinovador na economia brasileira; atrair empreendimentos propulsores da bioeconomia regional; criar modelos replicáveis; articular políticas públicas nacionais e, sobretudo, sensibilizar o governo federal a rever suas referências e entrar no clima. 

   Estamos na mesma terra Brasil e no mesmo planeta Terra. Portanto, precisamos cultivar o bom senso, somar inteligências e unir forças para pacificar a política, reinventar a economia e construir um futuro conectado com a vida.
 
* Sérgio Xavier é jornalista, consultor e desenvolvedor de inovações para a sustentabilidade (InovSi e Circularis - Porto Digital). É ecologista e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco. 
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