Reinvenções sustentáveis
Lucro sustentável
Por: Sérgio Xavier
Publicado em: 11/06/2019 07:07
O principal desafio das empresas do passado sempre foi garantir lucro (muitas vezes, a qualquer custo: ambiental e humano). Hoje, as empresas só terão futuro se conseguirem tornar seu lucro sustentável e humanizado. E isso significa que não basta ter apenas lucro financeiro, é necessário lucrar de forma muito mais ampla. Sim, ter um Lucro Integral, contemplando todos os tipos de capital que sustentam uma civilização.
Nessa perspectiva, é fundamental conceituar lucro como o resultado positivo de um trabalho ou empreendimento ético, legal, justo e digno, obtido sem exploração aviltante de pessoas (trabalhadores e clientes) e nem degradação de ecossistemas.
Para ser sustentável, qualquer organização precisa ser lucrativa em 5 tipos de capital: Financeiro, Humano, Social, Cultural e Ambiental. Ou seja, os indicadores destes pilares precisam estar melhores a cada período, quando comparados com um período anterior.
O Lucro Financeiro, bem conhecido de todos, viabiliza o estimulante retorno monetário para investidores e colaboradores de uma empresa, além de garantir novos investimentos em pesquisas, aprimoramentos e inovações.
O Lucro Humano significa que a organização deve contribuir continuamente para a evolução das pessoas com as quais se relaciona (profissionais, parceiros, clientes e cidadãos). E isso pode ser feito de inúmeras formas. Desde promovendo liberdade criativa e capacitação individual, internamente, até campanhas publicitárias que elevam a visão crítica do público e a qualidade do consumo, em vez de infantilizar cidadãos. Publicidade com propósitos nobres e informações confiáveis, orientando sobre benefícios reais dos produtos e as formas adequadas de reciclagem, por exemplo.
O Lucro Social é a soma de benefícios da empresa para o conjunto da sociedade. Bons produtos e serviços, empregos de qualidade, pagamento de impostos, padrões éticos, inovações e referências diversas para melhorar a competitividade e a colaboração no mercado, contribuindo para a evolução de outras organizações e para boas práticas nas relações políticas.
O Lucro Cultural é a contribuição da organização para a consolidação de hábitos evoluídos, visando o fortalecimento de princípios e valores sustentáveis, promovidos a partir de comunicação, difusão de conhecimentos e apoio à produção artística. Imagine o quanto a sociedade evoluiria com milhões de empresas agindo assim.
O Lucro Ambiental é obtido com a gestão sustentável de recursos naturais, somada a ações de regeneração ecológica. Ou seja, é garantir que os ecossistemas naturais estão ficando mais fortes e resilientes a cada dia. Nascentes de água mais protegidas, áreas verdes recuperadas, lixos retirados de locais impróprios, poluições revertidas e novos processos produtivos circulares implementados.
Todos esses tipos de lucro podem ser planejados e medidos. Portanto, é fácil verificar se a sua empresa é sustentavelmente lucrativa e se terá vida longa. Sabemos que organizações que focam na lucratividade financeira de curto prazo, têm prazo curto de vida. Sustentabilidade e longevidade exigem visão de longo prazo. Lógica simples e direta.
Quem só tem olhos para ver a contabilidade dos próximos meses, certamente não enxergará disrupções e riscos que estão adiante, quando não há cuidado com florestas, águas, energias, matérias-primas (todas vêm da natureza) e, sobretudo, com as pessoas e os paradigmas que nos guiam. Os objetivos das organizações devem ser os mesmos da humanidade: conexão total com interesses coletivos atuais e futuros.
Assim, a melhor forma de contribuir com a sustentabilidade global é cuidar do lucro integral da sua organização. Seja ela pequena ou grande, pública ou privada. Cuidar do lucro sustentável destes 5 capitais é cuidar simultaneamente de muitas coisas importantes. Tornar a sua organização integralmente lucrativa é passo fundamental para colocar nossa civilização no caminho da sustentabilidade.
Estou em Macapá, uma das poucas cidades da Terra que podem ser localizadas facilmente no globo terrestre. Um majestoso endereço, “na esquina do Rio Amazonas com a linha do Equador”, como diz, com orgulho, o inovador prefeito Clécio Luis, desta calorosa capital do Amapá. Ontem, ao sobrevoar a densa floresta amazônica, fiquei imaginando os giga-serviços ambientais e climáticos realizados gratuitamente pela maior bacia hidrográfica do planeta. Olhando o verde, bordado sinuosamente por gigantescas curvas de água, é difícil entender como o Brasil ainda não percebeu que tem um tesouro ecológico e que poderá lucrar eternamente com a floresta viva.