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COLUNAS

REINVENÇÕES SUSTENTÁVEIS

Política, equilíbrio e felicidade

Publicado em: 16/07/2019 10:53

Foto: Divulgação
O seu objetivo de vida é buscar razão a qualquer custo ou felicidade sem preço? É conquistar o peso de oprimir ou a leveza de conviver com as diferenças? Promover harmonia ou radicalismo? Onde você vai chegar tem tudo a ver com a sua forma de ir. E vice-versa. O seu jeito de viver indica como você vai terminar sua jornada. Paz, felicidade e amizades genuínas não são alcançadas com hostilidade, autoritarismo e guerra. Obter o respeito de quem discordamos é o maior triunfo numa polêmica.

Felicidade não é uma pauta comum na politica, mas deveria. Sem a construção política do equilíbrio é impossível ter uma nação feliz. Ou seja, política verdadeira traz felicidade. O Brasil vive momento de polarização extrema, desagregadora, que exige reflexão sobre a importância do equilíbrio na política. O ambiente político é a soma das atitudes de cada um de nós e reflete na evolução do país e na nossa vida pessoal e coletiva. Um clima permanente de tensão, desconfiança e falta de solidariedade reduz a felicidade, atrasa a prosperidade e eleva o estresse diário de um povo.

Políticos, partidos, movimentos e governos devem mediar e construir linhas de encontros equilibrados, ao contrário de atiçar divisões e exacerbações. Têm obrigação de amenizar as imensas dificuldades de construir soluções conciliadoras. Política é para equilibrar, não o inverso. A importância de um político deve ser medida pela sua capacidade de gerar diálogo, integração e confiabilidade. A crise da política no Brasil e no mundo é uma crise de civilidade e confiança.

É fundamental ter posição clara e coragem de defender convicções, mas sem perder a capacidade de respeitar, compreender e dialogar com o pensamento diverso. E o foco deve ser a solução de grandes problemas e não conversa fiada e improdutiva. É a solução objetiva que pode aproximar extremos ideológicos em busca de um pacto evolutivo.

A votação da reforma previdenciária ressaltou as tensões permanentes que vivem hoje os partidos. Um número expressivo de parlamentares, “desobedeceu” determinações partidárias e votou de acordo com as suas percepções, buscando sintonia com eleitores e movimentos extrapartidários que os apoiaram. Sem entrar no mérito do erro ou acerto em apoiar a reforma em curso, seria aceitável todos serem expulsos por discordarem das instâncias decisórias do partido? É razoável serem taxados de “traidores” por uma discordância específica, mesmo apoiando inúmeras outras posições partidárias? Na verdade, essa situação está ocorrendo e vai ocorrer com mais intensidade, em todos os partidos (de qualquer posição do espectro ideológico) porque não é mais possível conter numa sigla ou num programa burocrático toda a diversidade de pensamento atual. Mesmo aqueles que estão no mesmo campo ideológico (de esquerda ou de direita, nas suas várias tonalidades) pensam diferente em várias questões. O que é muito positivo para a riqueza democrática.

No estágio atual de evolução humana, em nenhum regime democrático será possível comprimir, num único rótulo, cidadãos e cidadãs com livre pensamento. Talvez ainda seja possível controlar fanáticos e desatentos nas armadilhas das redes digitais, com efeitos manada. Mas delimitar mentes críticas e qualificadas é impossível.

Ou seja, chegou a hora de reinventar os partidos ou criar novos sistemas políticos pós-partidários (como o modelo que destaquei nesta coluna, em 21/5/19: “Política é solução”, que possibilita a participação direta de movimentos da sociedade no processo eleitoral, independentemente dos partidos, injetando inovação no cenário).

As polêmicas geradas nos últimos dias, com ameaças de expulsões e até xingamentos, abrem oportunidade de debater urgentes disrupções nas velhas máquinas políticas analógicas. É hora de criar novos modelos de interação e construção de consensos ou maiorias políticas, respeitando as minorias e as diferenças individuais. E com o mínimo de desgaste.

As novas tecnologias podem ajudar consideravelmente, por exemplo, na criação de modelos de consultas ágeis aos eleitores de cada mandatário(a), ajudando na definição dos seus votos, em casos de grande relevância, sem depender dos antigos processos decisórios dos partidos.

Em temas polêmicos, é fundamental informar com transparência os impactos de uma decisão e ter feedbacks das pessoas que efetivamente estão sendo representadas pelo(a) parlamentar. Já existem tecnologias simples que possibilitariam apresentar ideias e receber aprovação, desaprovação ou aprimoramentos diretamente da população, promovendo um debate propositivo com grupos de eleitores, em vez dos ataques caóticos que prevalecem nas redes sociais.

Felicidade é meta humana a ser alcançada todos os dias. Não há receita para atingi-la. Mas existe uma condição que é base para nos aproximarmos dela. Cultivar o equilíbrio: interior, ambiental e político!

* Sérgio Xavier é jornalista, consultor e desenvolvedor de inovações para a sustentabilidade (InovSi e Circularis - Porto Digital). É ecologista e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.
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