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COLUNAS

REINVENÇÕES SUSTENTÁVEIS

Vida é tempo real

Publicado em: 03/07/2019 08:22 | Atualizado em: 03/07/2019 08:27

Foto: Arquivo Pessoal
Temos capacidade de imaginar futuros e reinterpretar passados. Mas a vida, de verdade, ocorre no presente, agora mesmo. Não dá para reusar tempo que já se foi e nem guardar vida para depois. Ou vive-se o agora ou o perdemos para sempre. Vida é tempo: usufruído ou desperdiçado. “Morrer é nada: não viver é que é medonho”, provocou Victor Hugo em Os Miseráveis (1862).

Mas o presente não é desconectado do passado e nem do futuro. Somos hoje o resultado do que vivemos antes e seremos amanhã a soma do que fizermos em cada hoje.

Gerenciar essa complexidade e viver todos os dias da forma mais feliz, é o grande desafio de cada um(a) de nós. Assim, buscamos ansiosamente referências para orientar a nossa existência e a convivência com quem amamos e com quem não simpatizamos. Procuramos inspiração na filosofia, religião, ciência, arte, astrologia, psicologia, literatura e em outras pessoas que admiramos. Mas... existe um guia para a vida?

Existe. Porém, esse mapa vital é criado por cada indivíduo. O gerenciador existencial é customizado para cada vida. E é adaptável para cada momento, já que mudamos e evoluímos nas inúmeras fases da nossa trajetória única, pessoal e intransferível. Por isso, nunca haverá máquina, sistema, método ou inteligência artificial que possa dar conta de fazer isso por você (embora as redes sociais tentem fazer sem o seu consentimento).

Sua vida e, consequentemente, sua felicidade, sempre serão regidas por suas decisões em tempo real, toda hora! Não dá para retroagir e reverter escolhas passadas e nem antecipar resoluções sobre situações futuras, impossíveis de prever e controlar. Outras pessoas inspiradoras e figuras carismáticas poderão influenciar e motivar a construção do seu GPS existencial, entretanto a composição final da sua estrada e a velocidade e firmeza da caminhada é você quem faz.

A subjetividade da vida é imensa, mas existem 4 pilares que compõem fortemente as bases das nossas decisões, possibilitando melhores resultados: (1) Sabedoria (soma de sensibilidade, conhecimentos acumulados e ética); (2) Capacidade de interligar as oportunidades que estão ao redor (inspiração e intuição); (3) Criatividade para encontrar soluções pacíficas e agregadoras (rumo da felicidade) e (4) Coragem para tomar as melhores decisões (sobretudo as mais inovadoras, que nunca ninguém ousou).

Isso vale para as pessoas e também para as organizações. Uma boa gestão estratégica de empresas ou governos deve ter planejamento de médio e longo prazos (com visão sistêmica, valores, metas, prazos e responsáveis), usando modernos suportes de informação e ferramentas de monitoramento; mas precisa dispor de flexibilidade para interagir com a vida real imediata. Deve ter canais para valorizar a sabedoria e mapear oportunidades inesperadas, com agilidade decisória, pois as circunstâncias se desfazem em curto tempo.

Na gestão pública e na política, onde os acontecimentos se cruzam na velocidade das redes, essa necessidade é ainda maior. Eficientes políticos e políticas precisam ter talento de repentistas para enfrentar com arte e energia inventiva as situações mais inusitadas ou aproveitar a confluência de pontos positivos. Para isso, devem exercitar continuamente os 4 pilares: Sabedoria, Visão de oportunidade, Criatividade e Coragem agregadora. Em momentos de crises e surpresas é essencial ter paradigmas previamente internalizados para tomar decisões rápidas, conscientes e seguras.

Na era das parafernálias digitais enganadoras, a nossa maior força está na capacidade de usar o cérebro com a máxima liberdade e simplicidade, criando e atualizando permanentemente Mapas Mentais; ressaltando na memória o que mais importa no caminho da vida. Desconectar o celular por mais tempo e pensar com a própria cabeça é o passo imediato para resgatar a sabedoria que está sendo poluída e ofuscada por tanta interferência. É bom ter GPS eletrônico à disposição para nos guiar nas cidades, mas não podemos perder a capacidade de andar orientados pelos nossos próprios órgãos sensoriais.

Diante das redes digitais que nos cercam por todos os lados, tentando comandar nossos passos, opiniões e desejos é preciso retomar o controle da nossa vida, usando inteligência natural, antes que sejamos engolidos pela teia virtual ou levados na onda das manadas digitais. As tecnologias de informação e os robôs da internet devem estar sob o nosso controle e não o inverso (geralmente manipulados por humaninhos deploráveis). Para isso, precisamos reduzir a intensidade digital viciante e retomar a autonomia cerebral imaginativa.

O Brasil, adoentado pelo radicalismo político irracional, precisa despertar e se cuidar. Decisões tomadas a partir de fanatismos e ilusões ideológicas não são saudáveis, nem inteligentes, nem sustentáveis. Em pouco tempo afundam com quem se agarrou a elas. Por isso, a sabedoria é essencial na invenção da sustentabilidade.

“Por seres tão inventivo / E pareceres contínuo / Tempo, Tempo, Tempo, Tempo / És um dos deuses mais lindos”, canta Caetano Veloso, em Oração ao Tempo.

É tempo da vida inteligente da Terra barrar o avanço da poluição digital e real.
 
* Sérgio Xavier é jornalista, consultor e desenvolvedor de inovações para a sustentabilidade (InovSi e Circularis - Porto Digital). É ecologista e foi Secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco.
 
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