O dia 28 de agosto é o Dia Nacional do Voluntário. Mas, somos poucos comemorando essa data. No Recife, somente 9% da população. É pouco, mas já é o dobro da média nacional, já que, segundo o IBGE, em todo o país, apenas 4% da população pratica o voluntariado. Sempre nos perguntamos: “se é tão bom fazer o bem, porque tão pouca gente faz”? Isso nos faz refletir sobre muitos aspectos.
Na Ilha de Deus, por exemplo, comunidade isolada e pouco conhecida na Zona Sul do Recife, a população inteira se dedica a cuidar do próprio território. É verdade que a comunidade foi beneficiada por diversas ações do poder público, na primeira gestão Eduardo Campos. No entanto, os moradores perceberam a importância de manter o cuidado com a comunidade e fazer daquele lugar, que é deles, “o melhor lugar do mundo”. De fato, a Ilha de Deus é um lugar lindo. Eu diria, encantador. Uma paisagem cinematográfica. Mas não seria tão especial se os moradores não tivessem se unido em prol da recuperação do manguezal, da luta pela construção de uma escola, da busca por recursos para construir um centro comunitário, da parceria com empresas e instituições que pudesse trazer capacitação e empreendedorismo para a ilha. Voluntários de todo o mundo se hospedam lá para se dedicar à ilha e aprender com os moradores. É claro que muita coisa ainda precisa ser feita por lá, mas é justamente essa busca constante por melhorias que faz as pessoas perceberem que, o lugar onde se vive pode, sim, ser o melhor lugar do mundo. Afinal, é o nosso lugar. É a área que possui nossas raízes, nosso DNA e, portanto, merece toda a nossa dedicação. Quando se percebe isso, é possível ter um relacionamento diferente com a cidade, com a sociedade. Os propósitos deixam de ser “os meus” para serem “os nossos”. Quando percebemos que “pertencemos” a algum lugar, automaticamente, passamos a desenvolver o senso de coletividade e de responsabilidade com o que é nosso. E isso faz bem pra todo mundo. No Brasil, sempre tivemos a cultura de que o que é público é do governo, e o que é do governo pertence a alguém corrupto, insensível e distante. É possível que isso afaste muitas pessoas do voluntariado. “Por que fazer de graça se tem o governo pra fazer isso?” No entanto, o pensamento precisa ser outro. Os governos tem cores e lados, mas o patrimônio das pessoas precisa dos mesmos cuidados independente de quem estiver no poder. Se as pessoas bem soubessem, o voluntariado é capaz de criar nelas um senso de pertencimento que gera consciência e responsabilidade sobre o que é realmente NOSSO. E o que é nosso, a gente cuida como ninguém. Que o dia 28 de agosto possa nos trazer reflexões não só sobre quem é voluntário, mas sobre como se tornar um deles. Feliz dia, voluntários!
Ilha de Deus é lar de Maria José e sua filha Geisa
* Fábio Silva é empreendedor social, criador da ONG Novo Jeito, do Porto Social, e das plataformas Transforma Recife e Transform Brasil
Leia a notícia no Diario de Pernambuco
Loading ...