RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Os 30 anos da queda do muro de Berlim
Por: Thales Castro
Publicado em: 11/10/2019 09:19 | Atualizado em: 25/10/2019 16:47
Imagine o mundo dividido em duas grandes esferas estanques de poder. Imagine uma rivalidade nas Relações Internacionais que tinha contornos bem definidos em termos políticos, econômicos, doutrinários, militares e sociais. Embora existisse o “Movimento Não Alinhado” como alternativa do antigamente chamado “terceiro mundo”, a política internacional era, claramente, dual na sua macroconjuntura. Imagine uma guerra que se prolongou por mais de quatro décadas, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), gerando os chamados “conflitos por procuração” na periferia e na semiperiferia, além de ter causados instabilidades em várias partes do globo. Pois bem: esse era o cenário antes daquele histórico dia: 3 de outubro de 1989. Nesta data, o símbolo maior das profundas divisões do mundo bipolar de “soma zero” ruiu. A força dos alemães, artificialmente divididos pelo muro, violou aquela barreira que trouxe tanta morte, dor e divisão. Daí o marco histórico da queda impávida – foco de nosso artigo hoje.
Muito já foi dito sobre o muro com toda a sua simbologia arrogante e sua queda há trinta anos. Hoje, talvez, devamos olhar para alguns outros aspectos aqui em nossa coluna. Vejamos: os muros têm, geralmente, poderosa imagética e memória marcante. Eles dividem e violam espaços abertos de livre trânsito. Ao mesmo tempo que eles tentam proteger, também acarretam antagonismos. Assim foi o muro que rasgou o coração da Alemanha de outrora. No sombrio concreto e no arame farpado, foi parida uma artificialidade de duas terras germânicas: a RFA – República Federal da Alemanha e a RDA – República Democrática da Alemanha. Eram tempos de partido... e de fratura.
A queda do Muro de Berlim representa alerta que ainda ecoa hoje. A abertura escancarada dos portões de Brandemburgo e de vários outros trechos do muro marcou o êxito do projeto político-econômico-social do ocidente democrático-capitalista. Foi a vitória da liberdade sob o totalitarismo comunista do Leste – padrão exportado pela UR- SS aos seus satélites na “Cortina de Ferro”, como assim chamou Churchill. Foi resposta clara à experiência do fracassado socialismo real da Alemanha do Trabant, produzido pela VEB – carro antiquado, pequeno e desconfortável.
Devemos sempre ter esses marcos como paradigma histórico. Rupturas devem sempre trazer nossa atenção. Uma questão ainda em aberto é a integração econômica após anos de dominação socialista a partir dos Estados da Alemanha do Leste, especialmente, a Saxônia e a Pomerânia Ocidental. Quando determinadas regiões, em vários países europeus, não são contempladas com a verdadeira integração econômica com desenvolvimento social pleno podem surgir ali teses reacionárias, populistas e de ultranacionalismo. Este talvez seja o grande desafio europeu de hoje: integrar e aprofundar os eixos do desenvolvimento social e econômico com respeito, tolerância e liberalismo. O Muro de Berlim também nos traz lições neste sentido e é bastante atual.
O fato é que Berlim e seu muro da vergonha não devem jamais serem esquecidos. O preço a se pagar é altíssimo, caso assim se proceda. A história política mundial traz exemplos trágicos resultantes da postura de esquecimento seletivo. Não nos olvidemos, ademais, que foi em meados deste 2019 que o Acordo Livre Comércio UE-MERCOSUL foi finalmente posto como marco jurídico para ser apreciado, individualmente, pelos países dos dois lados. Esse acordo, depois de mais de vinte anos de longo processo negocial, foi apresentado nos exatos trinta anos da queda do Muro, ressaltando a força dos novos tempos, onde os megatratados (acordos entre blocos econômicos amplos) são a tônica transformadora das relações econômicas internacionais.
Isto posto, um novo mundo foi gerado instantaneamente: a nova economia, a velocidade aumentada da integração regional, a inovação pulsante e a criatividade libertária tiveram grande impulso após a queda; as novas agendas sociolaborais e ecológicas também beberam, posteriormente, da fonte que foi a ruptura naquele frio outubro de 1989. Parece-me que, portanto, o mundo – as we know it – destravou depois de décadas de estagnação, rivalidade e frieza estéril bipolar. Os ecos de Berlim geraram, por consequência, a dissolução da União Soviética em 25 de dezembro de 1991, enterrando, de vez, a Guerra Fria. Ou seja, Berlim vive! E sempre viverá! Berlim, de fato, é e sempre será bem maior que um muro com seus escombros grafitados.
* Doutor em Ciência Política. Coordenador do Curso de Ciência Política da UNICAP. Cônsul de Malta e Presidente da Sociedade Consular de Pernambuco.
Muito já foi dito sobre o muro com toda a sua simbologia arrogante e sua queda há trinta anos. Hoje, talvez, devamos olhar para alguns outros aspectos aqui em nossa coluna. Vejamos: os muros têm, geralmente, poderosa imagética e memória marcante. Eles dividem e violam espaços abertos de livre trânsito. Ao mesmo tempo que eles tentam proteger, também acarretam antagonismos. Assim foi o muro que rasgou o coração da Alemanha de outrora. No sombrio concreto e no arame farpado, foi parida uma artificialidade de duas terras germânicas: a RFA – República Federal da Alemanha e a RDA – República Democrática da Alemanha. Eram tempos de partido... e de fratura.
A queda do Muro de Berlim representa alerta que ainda ecoa hoje. A abertura escancarada dos portões de Brandemburgo e de vários outros trechos do muro marcou o êxito do projeto político-econômico-social do ocidente democrático-capitalista. Foi a vitória da liberdade sob o totalitarismo comunista do Leste – padrão exportado pela UR- SS aos seus satélites na “Cortina de Ferro”, como assim chamou Churchill. Foi resposta clara à experiência do fracassado socialismo real da Alemanha do Trabant, produzido pela VEB – carro antiquado, pequeno e desconfortável.
Devemos sempre ter esses marcos como paradigma histórico. Rupturas devem sempre trazer nossa atenção. Uma questão ainda em aberto é a integração econômica após anos de dominação socialista a partir dos Estados da Alemanha do Leste, especialmente, a Saxônia e a Pomerânia Ocidental. Quando determinadas regiões, em vários países europeus, não são contempladas com a verdadeira integração econômica com desenvolvimento social pleno podem surgir ali teses reacionárias, populistas e de ultranacionalismo. Este talvez seja o grande desafio europeu de hoje: integrar e aprofundar os eixos do desenvolvimento social e econômico com respeito, tolerância e liberalismo. O Muro de Berlim também nos traz lições neste sentido e é bastante atual.
O fato é que Berlim e seu muro da vergonha não devem jamais serem esquecidos. O preço a se pagar é altíssimo, caso assim se proceda. A história política mundial traz exemplos trágicos resultantes da postura de esquecimento seletivo. Não nos olvidemos, ademais, que foi em meados deste 2019 que o Acordo Livre Comércio UE-MERCOSUL foi finalmente posto como marco jurídico para ser apreciado, individualmente, pelos países dos dois lados. Esse acordo, depois de mais de vinte anos de longo processo negocial, foi apresentado nos exatos trinta anos da queda do Muro, ressaltando a força dos novos tempos, onde os megatratados (acordos entre blocos econômicos amplos) são a tônica transformadora das relações econômicas internacionais.
Isto posto, um novo mundo foi gerado instantaneamente: a nova economia, a velocidade aumentada da integração regional, a inovação pulsante e a criatividade libertária tiveram grande impulso após a queda; as novas agendas sociolaborais e ecológicas também beberam, posteriormente, da fonte que foi a ruptura naquele frio outubro de 1989. Parece-me que, portanto, o mundo – as we know it – destravou depois de décadas de estagnação, rivalidade e frieza estéril bipolar. Os ecos de Berlim geraram, por consequência, a dissolução da União Soviética em 25 de dezembro de 1991, enterrando, de vez, a Guerra Fria. Ou seja, Berlim vive! E sempre viverá! Berlim, de fato, é e sempre será bem maior que um muro com seus escombros grafitados.
* Doutor em Ciência Política. Coordenador do Curso de Ciência Política da UNICAP. Cônsul de Malta e Presidente da Sociedade Consular de Pernambuco.