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A universidade e o novo mundo do trabalho

Estamos naquele período do ano onde estudantes de todo país concorrem a vagas nas universidades públicas. São momentos de apreensão, seguidos de alegria ou de frustração. Mesmo para os que entram numa universidade, além dos desafios que a vida universitária trará, ficará a dúvida sobre se a escolha do curso foi “correta” e sobre o futuro no mundo do trabalho.

Entrar numa boa universidade é um passo importante para o sucesso profissional, embora não seja uma condição necessária. Há vários casos de pessoas sem formação universitária, mas com sucesso no mundo profissional. No entanto, tipicamente a relação entre formação universitária e sucesso futuro é positiva. Desde melhora na capacidade cognitiva, na capacidade de resolver problemas, construção de novas habilidades e redes de contato passando pela sinalização de melhor capacidade, dentre outras, a formação universitária tem seus benefícios e isso se reflete no mundo do trabalho.

No entanto, a vida universitária também tem seus desafios. Além das aulas, terão as horas de estudo, os exames, trabalhos, pesquisas, despesas financeiras, etc. Muitos se perguntam ainda se a formação que escolheram lhes dará as ferramentas necessárias para ter êxito no mundo do trabalho. A resposta é sim e não. Sim, porque a formação em uma boa universidade contribui positivamente, e não, porque o mundo do trabalho que se desenha demandará novas (e velhas) habilidades nem sempre aprendidas na universidade.

Estudo recente do Escritório de Carreiras da USP indica dez áreas que terão maior desenvolvimento nos próximos anos: saúde, transformação digital, segurança, educação, entretenimento, inovação, infraestrutura, energia, socioambiental e ética. Como são áreas genéricas, profissionais das mais variadas áreas do conhecimento poderão contribuir e se envolver com êxito em uma ou mais delas. Mas é preciso estar preparado.

Mais do que ter uma profissão, valerá a ideia de desenvolver uma carreira, combinando conhecimentos e habilidades, e tendo flexibilidade para migrar entre áreas de atuação. Será preciso ainda disposição para viver novas experiências e para construir redes de contatos. Acrescentaria  a capacidade de resolver problemas e de lidar com as novas tecnologias. O avanço da inteligência artificial abarcará cada vez mais áreas do conhecimento, demandando novas habilidades e capacidade de adaptação. Habilidades socioemocionais também serão importantes.

Isso me faz pensar se nossas universidades têm ajudado na adaptação a este novo mundo do trabalho. Eu entendo que a responsabilidade é dupla, não dá para imaginar o aluno como alguém passivo nesse processo. Capacidade de aprender e proatividade  continuarão sendo importantes. No entanto, penso que nossa estrutura curricular poderia ajudar. 

Permitir maior movimentação entre diferentes áreas do conhecimento ajudaria. O modelo norte americano, por exemplo,  permite diferentes áreas de formação. Você pode, por exemplo, ter uma formação em economia e psicologia ao mesmo tempo. Claramente mais abrangente do que a formação em uma área apenas. Existem outras possibilidades, o que ajudaria na adaptação ao novo mundo do trabalho, onde flexibilidade e capacidade de se mover entre diferentes áreas se tornará cada vez mais importante. Repensar nosso modelo de sala de aula também pode ajudar, com menos aulas tradicionais e mais horas independentes de estudo, com mais resolução de problemas e menos passividade no aprendizado.

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