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CULTURA

Família dá continuidade à arte do xilogravurista J. Borges

Patrimônio de Pernambuco, mestre da xilogravura faleceu nesta sexta (26), aos 88 anos, mas legou à família o dom de contar o Nordeste com tinta, madeira e papel

Publicado em: 26/07/2024 20:21 | Atualizado em: 26/07/2024 20:34

J. Borges com o filho Pablo (@ateliepabloborges via Instagram)
J. Borges com o filho Pablo (@ateliepabloborges via Instagram)

 

"O maior xilogravurista do mundo", como dizia Ariano Suassuna, J.Borges, que faleceu aos 88 anos, nesta sexta-feira (26), passou a cinco dos 18 filhos seu dom de contar o Nordeste com tinta, madeira e papel.

 

Dos filhos que se envolveram com a xilogravura, dois já faleceram, mas os outros três seguem firmes na profissão. Os mais novos, Pablo, 30, e Bacaro, 23, falaram, em entrevista à equipe da Feira Nacional de Negócios de Artesanato (Fenearte), no último Dia dos Pais, sobre a satisfação e a responsabilidade de perpetuar a arte do mestre pernambucano.  

 

"A gente não se sente pressionado. Nunca nos sentimos, na verdade. Foi uma coisa bem natural. Levamos na 'esportiva' e hoje a gente vive disso. A gente meio que nasceu dentro do ateliê. Fomos aprendendo, sempre trabalhando juntos", relembrou Bacaro, que traz em suas obras o traçado "puxado para o lado atual", como dizia Borges.

J. Borges e o filho Bacaro quando criança (@bacaroborges.xilo via Instagram)
J. Borges e o filho Bacaro quando criança (@bacaroborges.xilo via Instagram)
 

 

"Sessenta e oito anos de arte é algo muito grande, mais do que uma vida. A gente tem a responsabilidade de passar para frente e não deixar morrer, fazendo o melhor, cada dia mais", disse Pablo, cujo traçado é mais parecido com o do pai.

 

Mas não foram só os filhos que aprenderam o ofício do mestre.

 

A nora Edna Silva também é xilogravurista e teve o sogro como sua maior inspiração durante os 14 anos de trabalho conjunto. Em conversa com o Diario, a artista destacou a criatividade de Borges, como o chamava.

 

"A gente pegava um trabalho para ele e dizia: 'olha, Borges, a ideia é essa aqui'. Quando voltava, em uma hora, ele já tinha feito aquela arte. Ele criou uma identidade para a gente que vai levar para gerações. A gravura dele, o colorido dele, a modéstia, o amor que ele tinha pela nossa cultura, pelo folclore, tudo que estava na gravura dele que toca o coração de pessoas de qualquer parte do mundo", contou.

 

Segundo Edna, J. Borges se manteve em plena atividade artística até o fim da vida. "Sempre trabalhando. Não no mesmo pique, mas assinando as cópias, criando artes".

O xilogravurista enfrentava problemas de saúde, como uma infecção na perna, em seus últimos dias, mas não perdia o bom humor, de acordo com a nora. "Montamos uma equipe médica dentro do quarto dele e ele estava fazendo tratamento em casa. Até ontem ele estava super bem, contando piada, brincando com o pessoal, dizendo: 'tô tendo uma vida de rico'. O pessoal estava ajeitando ele e ele achava graça", contou.

 

"Para a gente que conviveu, até quem não conviveu, quem conheceu o trabalho dele, Borges vai passar de geração em geração. Morreu o físico, mas o nome dele vai ficar vivo através da arte dele, através desse legado que ele deixou", finalizou.

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