São Francisco
Obras da transposição pararam quilômetros antes de Custódia
População convive com o mato crescendo e sem sinal da água prometida. Confira o segundo dia de reportagem sobre a transposição
Por: André Clemente - Diario de Pernambuco
Publicado em: 02/03/2016 08:55 Atualizado em: 02/03/2016 09:51
Apesar do cenário nada promissor, canal deverá ficar pronto neste ano Foto: Ricardo Fernandes/DP |
A água em Custódia ainda é “coisa longe, coisa difícil”. Janicléia Salvador, de 25 anos, mora à beira do canal na cidade e sabe contar a história. O caminho “molhado” parou quilômetros atrás, ainda em Floresta, e deixa para a moradora a vista de concreto rachado, de obra parada e com mato nascendo. Água, pelo menos da obra, nem pensar. Nem sonha que já percorre os primeiros quilômetros em direção a ela. Muito menos que a previsão é de chegar ainda neste ano, no máximo ano que vem, segundo previsões do governo federal. “O que eu sei é o que eu vivo. Água para beber é do Exército. Para lavar roupa, prato, casa, essas coisas… é do poço lá embaixo”, resume. No segundo dia da série “E a água chega quando?”, vamos contar a história de Janicléia, que vive em Custódia, no meio do traçado da engenharia da transposição em Pernambuco.
Janicléia não trabalha e nos recebe com dois filhos correndo em casa, além de animais de estimação. Diz que o marido Cássio Amaral, 26 anos, está na roça, onde trabalha para ganhar R$ 360 por quinzena. Para ela, acreditar que terá água na torneira a partir da transposição é mais que surreal com o cenário na porta de casa. Moradora de uma residência de dois cômodos próxima do canal, tem a esperança de receber a água como quem espera um milagre. Justificável, a cena que visita no seu dia a dia é uma obra com cara de fim de festa.
– Mas você coloca na caixa d’água pra ter água na torneira? – pergunto.
– Não, gasta muito.
– Nem descarga?
– (aceno negativo) Meu marido quer uma cisterna.
Três vezes por semana, ela desce de carroça com o marido para pegar tonéis de água do poço de um amigo, que não cobra nada por isso. Lá, lava roupa e louça e todos os utensílios que precisa. Para beber, o Exército entrega água de três em três meses. “Água boa’, segundo ela, para beber e cozinhar. Informo que há previsão de construção de redes conectoras para as casas próximas ao canal, para a água chegar direto na torneira. Ainda neste ano, no máximo em 2017.
– E água tratada… – completo a informação.
– Mas será que vai sair mesmo esse negócio? Ninguém avisa nada, fala nada. Tem lugar pronto, mas tem outro quebrando atrás, rachando no sol.
– E se sair?
– Ah, com água a gente vive melhor. Se a água for boa, a gente planta. Tenta melhorar, já que não trabalho por conta dos filhos. Vou até ‘fazer o Bolsa Família’”.
– A água saiu do São Franscisco já está vindo. Acredita?
– Sei lá (fala rindo, como quem cede à esperança). O povo que fala. Pra mim, tanto faz Quando sair ninguém é mais vivo.
– Dizem que sai.
– E chega quando?
– Dizem que ano que vem. Água boa na torneira
– Será (…)?
* Lei a série na íntegra na edição impressa do Diario.
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