GREVE

Abatedouros paralisam atividades e prejudicam abastecimento em Pernambuco

Trabalhadores terceirizados ameaçam a realização de protestos, interrompendo o tráfego nas principais rodovias de acesso aos municípios

Publicado em: 17/11/2023 08:36 | Atualizado em: 17/11/2023 09:09

Juntos, os equipamentos regionais atendem a mais de 90 cidades (Foto: Reprodução)
Juntos, os equipamentos regionais atendem a mais de 90 cidades (Foto: Reprodução)

Trabalhadores da rede de abatedouros regionais, mantidos pelo Governo de Pernambuco, paralisaram as atividades em razão da falta de pagamento de salários. Além da categoria, a situação também é denunciada pelos fornecedores de carne, que estariam impossibilitados de escoar a produção de bovinos, suínos, ovinos e caprinos. Os casos são encontrados nas quatro unidades de operação, localizadas nos municípios de Itambé, Paudalho, Ribeirão e Escada, todos na Zona da Mata. Juntos, os equipamentos comportam cerca de 250 funcionários e atendem a mais de 90 cidades, causando um impacto em toda a cadeia produtiva.

Conforme os apontamentos, os abatedouros já registram a terceira interrupção de atividades, em menos de dois meses. Os equipamentos são operados por empresa privada terceirizada, sob a responsabilidade do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa). Segundo as queixas, além das remunerações, as equipes também teriam sofrido corte nos auxílios alimentação e vales-transportes, o que motivou o movimento paredista. Alegando a falta de respostas, o grupo, que envolve funções como magarefe, vigilantes, porteiros, caldeireiros, operadores de máquinas e auxiliares de serviços gerais, ameaçam a realização de protestos, interrompendo o tráfego nas principais rodovias de acesso aos municípios.

“É uma situação grave, que envolve também uma questão de saúde pública. Nós pagamos valores altos e há grande movimentação de recursos. No entanto, esse dinheiro não é repassado para os trabalhadores, um verdadeiro desrespeito com pais e mães de família, e prejuízo para todos os envolvidos”, afirma Felipe Ramos, de 34 anos, que atua com o abastecimento de quatro frigoríficos. Segundo ele, as taxas vigentes continuaram sendo pagas, o que não justificaria os atrasos. Atualmente, para o abate de cada bovino, por exemplo, é expedido um boleto no valor de R$ 75. Cada espaço realiza o corte médio de 80 a 100 animais por dia.

O formato centralizado, adotado por Pernambuco, levou ao fechamento de diversas unidades municipais, após a identificação de falhas estruturais, passando a atender as regiões em polos, ampliando a demanda em cada uma delas. Outro criador prejudicado, alerta sobre o risco iminente de irregularidades. “Os animais precisam ser abatidos sob uma inspeção legal. Sem o funcionamento correto destes espaços, as carnes podem acabar sendo direcionadas para a clandestinidade, sem o cumprimento de qualquer medida sanitária necessária. É prejuízo para quem trabalha e um risco de vida para toda a população que consome”, afirma Daniel de Lima Nascimento, 47 anos.

O cenário de problemas é reforçado por Silvio Cavalcante de Oliveira, de 53 anos, que diz que os custos vêm aumentando, o que acarretará ao repasse para o consumidor final. "Encontrando os abatedouros de portas fechadas, temos que nos deslocar para outras cidades distantes, gastando mais com o transporte e mão de obra. É uma despesa extra de mais R$ 300 por semana, quando a arroba de boi é R$ 265. Sem condições", revela. Um funcionário da rede, que prefere não se identificar temendo retaliações, diz que não existe espaço para o diálogo. "Os meses de salários atrasados estão se acumulando e as nossas despesas também. Todos temos famílias e compromissos. Não aparece ninguém da empresa para dar nenhuma posição aos trabalhadores e quando perguntamos não existem respostas. Ficamos em uma realidade de incertezas", conta.

Fornecedores alegam que os custos vêm aumentando, o que acarretará no repasse ao consumidor final (Foto: Acervo Pessoal)
Fornecedores alegam que os custos vêm aumentando, o que acarretará no repasse ao consumidor final (Foto: Acervo Pessoal)

Procurada pelo Diario, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrário, Agricultura, Pecuária e Pesca, que gerencia os estabelecimentos, negou a situação apontada. O órgão declarou que não existe movimento grevista em nenhum dos abatedouros gerenciados pelo Governo. “A atual, e pontual, paralisação faz parte apenas de uma programação rotineira no planejamento de limpeza física, promovida semanalmente a fim de manter a sanidade do local”, disse.

Também questionada, a empresa TercServ Serviços Terceirizados, com sede no bairro de Boa Viagem, no Recife, admitiu a falha e informou que os atrasos dos salários ocorrem em virtude da falta de repasse do governo para o contrato. A responsável disse, ainda, que espera que a situação seja sanada nos próximos dias e que está em busca de medidas para que não ocorra perdas para os colaboradores.

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