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Recifes de corais representam R$ 160 bilhões em economia de danos ao Brasil

Os corais brasileiros são responsáveis pela proteção costeira do país. As espécies atuam como barreira que reduz impactos da erosão e inundações, evitando riscos ao patrimônio presente nessas áreas

Recife de coral da espécie Palythoa, no mar de Porto de Galinhas, em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco

Os recifes de corais fazem parte do ecossistema mais diverso da terra, servindo de lar uma em cada quatro espécies marinhas, que vivem ou passam parte da vida nos corais. Nesse ambiente podem ser encontrados cerca de 65% dos peixes marinhos, que moram no local ou estão apenas de passagem. Eles se alimentam filtrando a água do mar e possuem em seus tecidos algas microscópicas, que fornecem nutrientes e oxigênio por meio da fotossíntese.

Esses dados estão presentes no estudo “Oceano sem mistérios - Desvendando os recifes de corais” realizado pela Fundação Grupo Boticário, em parceria com a Bloom Ocean. 

Como é feito o cálculo da proteção costeira no Brasil

Os recifes de corais atuam como barreiras, reduzindo a altura das ondas e o impacto causado pela erosão e inundações. Com a degradação dessas espécies, as regiões costeiras ficam mais expostas e vulneráveis a possíveis desastres como inundações. O cálculo foi baseado nos valores de indústrias, portos e domicílios localizados nas áreas próximas à costa. 

As mudanças climáticas podem aumentar ainda mais o valor econômico dos corais, pois eles se tornarão ainda mais essenciais para proteger essa área, diante da possibilidade de aumento de chuvas e outros eventos que elevam a energia das ondas. 

O valor da proteção costeira de recifes, sejam de coral, areníticos ou rochosos, na região nordeste, com área de cerca de 170 Km² de recifes, representa aproximadamente R$ 160 bilhões. 

De acordo com a pesquisa, para cada 1 Km² de recifes, são economizados em danos evitados, R$ 941 milhões.

Além disso, o turismo gerado pelos corais na costa do nordeste pode gerar mais de R$ 7 bilhões ao ano para o Brasil. A pesquisa considerou os principais destinos relacionados aos recifes de corais no país: Fernando de Noronha-PE, Ipojuca (Porto de Galinhas)-PE, Maragogi-AL, São Miguel dos Milagres-AL e Caravelas (Abrolhos) - BA. No Atlântico Sul, os ambientes recifais se concentram no Nordeste do Brasil, em uma extensão de 3.000 km ao longo da costa, desde o Maranhão até o sul da Bahia.

O branqueamento dos corais

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha (Semas-PE), no estado, os últimos registros de branqueamento em 2020 e 2024 abrangem toda a extensão litorânea. A Zona Costeira, Marinha e Oceânica de Pernambuco compreende aproximadamente 187 km de extensão e uma faixa terrestre composta por 13 municípios costeiros diante do mar, além do Distrito Estadual Oceânico de Fernando de Noronha.

Quando a temperatura do mar sobe, as zooxantelas (pequenas algas), que também são responsáveis pelas cores dos corais, abandonam os animais. Com isso, eles se tornam esbranquiçados

A bióloga destaca ainda que outros grandes benefícios para o meio ambiente é que os corais estocam carbono, então são grandes aliados às mudanças climáticas, além de  protegerem a região costeira. “Se tivermos que gastar milhões de reais para proteção da costa aqui, será de um recurso nacional que vai sair”, alerta. 

Corais afetados em Pernambuco

Em Tamandaré, litoral Sul pernambucano, os recifes de corais passaram por um dos maiores eventos de branqueamento já registrados na história, devido ao aumento da temperatura da água, que por muito tempo ficou com 32ºC no Brasil. Neste ano, o branqueamento dos corais afetou 100% das espécies de corais na localidade. 

O monitoramento dos recifes de corais na região é realizado em parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), PELD TAMS, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (CEPENE), Institutos Recifes Costeiros, WWF-BRASIL, projeto Cavernas Submarinas (CECAV-ICMBio/IABS) e Reef Check Brasil. Além do engenheiro de pesca e idealizador da Biofábrica de Corais, Rudã Fernandes.

“Tivemos um dos maiores branqueamentos de corais já registrados na história, porque a temperatura da água aumentou muito e ficou 32 graus aqui no Brasil e isso durou muito tempo. Perdemos mais de 50% da cobertura de corais aqui e em quase toda a Área de Proteção Ambiental”, explica a Bióloga Ágatha Ninow.

Algumas espécies mais sensíveis, como o coral de fogo (Millepora alcicornis) e Mussismilia hartii tiveram altas taxas de mortalidade que chegaram a cerca de 80-90%. Porém outras espécies como Montastraea cavernosa apresentaram boa recuperação e baixa mortalidade. 

Já em Porto de Galinhas, também localizado no litoral Sul de Pernambuco, das quatro espécies monitoradas pelo projeto da Biofábrica de Corais foram registradas 95% das colônias afetadas. 

“A situação hoje dos recifes de corais é uma mistura de impactos de escala grande, com as mudanças climáticas, impactos e origem terrestre, por exemplo, a descarga dos rios, desmatamento de mata ciliar, que afeta esse litoral porque o recife de coral é um ecossistema que precisa de água clara, limpa e quente para existir”, conta o oceanógrafo, professor do departamento de oceanografia da UFPE, Mauro Maida.

Comunidade local

O professor destacou ainda que há 25 anos, o Departamento de Oceanografia da UFPE conseguiu criar a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC) com o apoio financeiro do Grupo Boticário. Nessas localidades não podem ser realizadas atividades de pesca, nem de turismo. “A gente sempre trabalhou com esse conceito de envolver a comunidade local desde 1999. Com a área fechada, vimos que rapidamente os recursos pesqueiros começaram a voltar. É só deixar quieto o recife, que a natureza consegue se recuperar”, afirma o professor.  

Ele destacou ainda que em 1990 quase não existiam corais vivos na região. “As pessoas queimavam os corais para fazer cal até os anos 1970 e a prática de comercialização deles também era comum”, relembrou Mauro Maida.  

O envolvimento das comunidades locais foi fundamental para disseminar o conhecimento na região. Em Tamandaré, os agentes costeiros do Instituto Recife Costeiros (Ircos), instituição parceira do Cepene, são formados por pescadores e ex-pescadores. O Cepene é sede de estudos e trabalhos de alunos de diversas instituições de ensino nacionais. 

Um dos pescadores da região, Severino Ramos, de 57 anos, também é mestre de embarcação em Tamandaré. Ele iniciou esse trabalho em 2014 no Cepene. “O meu sentimento é de alívio, primeiro porque antes eu era um pescador que afetava tudo e os corais. Hoje eu tenho um sentimento de preservar e tenho minha consciência. Estou levando isso agora por outro olhar, os corais estão aí e não deixam a gente mentir”, afirma. 

Coral em recuperação da espécie coral-de-fogo Millepora alcicornis

Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

Com o objetivo de disseminar ações de sustentabilidade, o Grupo Boticário destina 1% da sua receita líquida anual para os diferentes projetos da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza (FGB). A instituição sem fins lucrativos é voltada para investir em projetos de proteção à natureza. 

Parte do processo de reprodução in vitro dos corais, quando os óvulos são coletados

 “Com o financiamento da fundação, durante três anos (2019-2021), exploramos essa parte básica da biologia e da fisiologia do espermatozoide e do óvulo e desenvolvemos um protocolo de congelamento para manter uma célula viva em uma temperatura de -196ºC, que é a temperatura do nitrogênio líquido. Mantendo a célula viva, temos ela imortalizada por tempo indeterminado. Podemos descongelar, fazer a fertilização e gerar uma nova vida”, destaca.

Atualmente, os corais que nasceram por meio do sêmen congelado estão passando por uma análise do seu crescimento, em ambientes que simulam a temperatura e o pH do oceano. 

Biofábrica de Corais 

Processo de restauração de corais da espécie Baba de boi (Palythoa caribaeorum), na Biofábrica de Corais, em Porto de Galinhas

A fabricação desses novos corais é feita por meio de corais adoecidos, que são encontrados soltos no fundo do mar. De início, eles são fragmentados em pedaços menores e medidos cuidadosamente pela equipe da Biofábrica. Em seguida, os voluntários colam os pequenos corais em uma superfície, que é instalada em um “berçário”. 

Mesa onde os corais em processo de restauração são monitorados pela Biofábrica de Corais

Rudã Fernandes, engenheiro de pesca e idealizador da Biofábrica de Corais destaca os resultados do projeto. “A gente tinha plantado 7 mil corais até o ano passado. Desses corais, devem ter umas 30 pedras vivas. Se o time conseguir manter esses corais vivos, tanto os daqui (Tamandaré) quanto os de lá (Porto de Galinhas), eu acredito que teremos a capacidade de recuperar a população que nós tínhamos antes, porque nós temos os esqueletos ainda, aí o animal cresce alí novamente”, afirma. 

Produto seguro para os corais

Além das ações, o Grupo Boticário lançou em agosto de 2020 a linha de filtros solares da Australian Gold, marca licenciada no país pela empresa. O produto não possui em sua fórmula os compostos apontados como maléficos por meio de estudos e recebeu o selo “Seguro para os Corais”.

Ações em Pernambuco

Ainda de acordo com a Semas-PE, outras estratégias e ações estão sendo desenvolvidas em Pernambuco para o enfrentamento às emergências climáticas na zona costeira e oceânica do Estado, dentre elas:  

Gestão de 03 Unidades de Conservação (UCs) estaduais costeiras marinhas: Área de Proteção Ambiental (APA) de Guadalupe, APA de Santa Cruz e APA Marinha Recifes Serrambi.

Políticas públicas: Pernambuco Carbono Neutro; Atlas de Vulnerabilidade à Erosão Costeira e Mudanças Climáticas de Pernambuco; Plataforma Clima PE; Desenvolvimento do Plano Pernambucano de Adaptação às mudanças climáticas.
 
Apoio e investimento em pesquisa e monitoramento de ecossistemas recifais: 

  • Parceria no Projeto PELDS Tamandaré

As principais formações recifais de Pernambuco ocorrem no litoral sul. Nessa área, os corais são monitorados há mais de 20 anos pelo Reef Check, programa ligado à Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN), e pelo Programa Ecológico de Longa Duração - PELD Tamandaré Sustentável (CNPq). 

A secretaria é parceira do Projeto PELDS Tamandaré, que promove estudos sobre o branqueamento de corais. Além do monitoramento durante o evento, esses projetos também monitoram as taxas de recuperação e também sobre a mortalidade dos corais após o branqueamento. 

  • Programa Cientista Arretado

Por meio do edital Nº 14/2024 da Facepe, a ação com o tema ‘Proteção Costeira’ é voltada a investimentos em projeto que desenvolva soluções inovadoras baseadas na natureza para a proteção da costa pernambucana.

 

*A repórter viajou a convite da Australian Gold

Leia a notícia no Diario de Pernambuco