DESASTRE
Número de mortos por explosão em Beirute sobe para 78
Por: FolhaPress
Publicado em: 04/08/2020 22:07 | Atualizado em: 04/08/2020 22:25
Foto: STR / AFP |
Uma grande explosão atingiu na tarde desta terça (4) a cidade de Beirute, capital do Líbano, levantando bolas de fogo e colunas de fumaça gigantescas e afetando construções a quilômetros de distância. O ministro da Saúde, Hamad Hassan, disse que o incidente deixou ao menos 78 mortos, além de quase 4.000 feridos.
Paredes de prédios foram destruídas, janelas quebraram, carros foram virados de cabeça para baixo e destroços bloquearam várias ruas, forçando feridos a caminhar em meio à fumaça até hospitais.
Segundo testemunhas, o estampido da explosão foi ouvido até na cidade costeira de Larnaca, no Chipre, a cerca de 200 km da costa libanesa.
Segundo o premiê do Líbano, Hassan Diab, em declaração dada na noite de terça (horário do Brasil), o incidente foi causado por 2.750 toneladas de nitrato de amônio, usado como fertilizante. "É inadmissível que um carregamento de nitrato de amônio, estimado em 2.750 toneladas, esteja em um armazém há seis anos, sem medidas preventivas. Isso é inaceitável e não podemos permanecer calados."
Mais cedo, o ministro do Interior, Mohamed Fehmi, havia dito que o local da explosão, na zona portuária, era um armazém que concentrava grande quantidade do material. Ainda não se sabe, porém, se o evento foi proposital e se outras explosões ocorreram, como especulou-se após as primeiras informações.
Enquanto o presidente Michael Aoun convocou uma reunião de emergência do Conselho de Defesa, que declarou Beirute uma "zona de desastre", o premiê Diab decretou um dia de luto em todo o país, a ocorrer nesta quarta (5). Em discurso na TV, disse que os responsáveis pela explosão sofrerão consequências.
O Hizbullah, partido xiita ligado ao Irã, por sua vez, deixou de lado as rivalidades históricas e pediu união para enfrentar o que classificou como catástrofe, quadro visto na situação das vítimas.
Georges Kettaneh, presidente da Cruz Vermelha Libanesa, disse à TV libanesa LBC que muitas pessoas continuavam presas em casas atingidas pelo fogo. Alguns eram resgatados por barcos. Segundo o canal, um dos hospitais da cidade tratava mais de 500 feridos e não tinha capacidade para receber mais ninguém. Dezenas deles precisam de cirurgias.
Na frente de outro centro médico, dezenas de vítimas, incluindo crianças, algumas cobertas de sangue, esperavam para serem atendidas, segundo a agência de notícias AFP. O panorama fez com que muitas pessoas fossem transportadas para fora da capital em busca de tratamento.
A área portuária foi isolada pelas forças de segurança, que só permitiam a passagem de agentes da defesa civil, ambulâncias e caminhões de bombeiros. Nas proximidades do porto, a destruição é enorme.
A mídia local transmitiu imagens de pessoas presas a escombros, algumas cobertas de sangue. "Os prédios estão tremendo", publicou no Twitter um morador da cidade, dizendo que "todas as janelas do apartamento explodiram". "Vi uma bola de fogo e fumaça sobre a cidade. As pessoas gritavam e corriam, sangrando. Varandas foram arrancadas dos prédios. Vidros de prédios caíram nas ruas", disse outra testemunha à Reuters."
Segundo o Itamaraty, até agora não houve relatos de brasileiros mortos ou gravemente feridos. O Líbano tem uma grande comunidade com laços com o Brasil: há mais descendentes e parentes de libaneses em solo brasileiro (7 a 10 milhões) do que libaneses no país de origem (7 milhões).
A fragata brasileira Independência, nau capitânia da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), com 200 marinheiros, não estava no porto na hora da explosão, mas no Mediterrâneo, patrulhando a região. Soldados de outro navio da Unifil, no entanto, ficaram gravemente feridos e levados a hospitais.
Uma fonte do governo de Israel, rival do Líbano, negou a Reuters qualquer envolvimento com a explosão, e o chanceler isralense, Gabi Ashkenazi, reforçou a versão, ao afirmar à TV local que a explosão foi provavelmente causada por um incêndio acidental.
Por fim, o ministro da Defesa Benny Gantz ofereceu ajuda humanitária por meio de canais diplomáticos, assim como o presidente da França, Emmanuel Macron, que expressou, em mensagem publicada no Twitter em árabe, solidariedade ao povo libanês.
Os EUA, por um lado, foram protocolares: o Pentágono declarou que o país está preocupado com as mortes, e o Departamento de Estado ofereceu "toda a assistência possível" aos libaneses. Já o presidente Donald Trump disse que a explosão se parece com um "ataque terrível" e que generais disseram que "algum tipo de bomba" provocou o incidente.
A embaixada dos EUA em Beirute alertou os moradores da cidade sobre relatos de gases tóxicos liberados pela explosão, pedindo às pessoas que permaneçam em ambientes fechados e usem máscaras. Rival tanto dos EUA quanto do Líbano, o Irã, por meio do ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, afirmou que está pronto para ajudar como for necessário.
Por fim, o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia, postou no Twitter que encaminhou uma mensagem de solidariedade ao embaixador do Líbano no país, Joseph Sayah. "Estamos todos consternados com as violentas explosões hoje ocorridas na área do porto de Beirute."
O Líbano atravessa sua pior crise econômica em décadas, que alimenta há vários meses o descontentamento social. A TV Al Arabiya inicialmente noticiou que ocorreram explosões por toda a cidade e que uma delas teria ocorrido próximo à residência do ex-premiê Saad Hariri.
A informação não foi confirmada oficialmente, e o próprio Saad postou uma foto em uma rede social logo após a explosão na zona portuária, indicando que não ficou ferido.
A afirmação da Al Arabiya imediatamente levantou suspeitas de que o incidente poderia estar ligado à divulgação do veredito do julgamento de quatro homens acusados de terem assassinado o também ex-premiê libanês Rafik Hariri –pai de Saad– em 2005.
Ao longo do dia, as suspeitas de ligação entre a explosão e o julgamento diminuíram.
Os réus, todos membros do Hizbullah, estão sendo julgados à revelia pelo Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede em Haia (Holanda), encarregado de proferir a sentença 15 anos após o atentado com um carro-bomba, em Beirute, que matou 21 pessoas e deixou 256 feridos. O resultado do processo deve ser anunciado na sexta (7).
A origem da divisão entre xiitas e sunitas, duas grandes correntes da religião muçulmana, remonta à morte de Maomé, em 632, que não deixou nenhum herdeiro.
Os dois grupos discordam sobre quem deveria ter dado continuidade à liderança do profeta: sunitas preferiam que o líder da comunidade fosse escolhido entre seus seguidores, enquanto xiitas defendiam alguém com laços de sangue com Maomé –especificamente Ali, seu primo e genro.
Os sunitas venceram a disputa e elegeram Abu Bakr, primeiro califa do islã. A predominância dos sunitas nas dinastias posteriores do império islâmico levou xiitas a se identificarem permanentemente como oposição ao poder estabelecido, também fixando posição minoritária na comunidade muçulmana.
Hoje, sunitas se concentram na Arábia Saudita, no Egito e na Síria, entre outros países, e os xiitas, no Irã e no Iraque.