MUNDO
Talibãs recuperam armamento americano abandonado por soldados afegãos
Por: AFP
Publicado em: 14/08/2021 10:21
Foto: AFP |
De nada serviram os bilhões de dólares investidos pelos Estados Unidos para treinar e equipar as Forças Armadas afegãs que perdem batalha após batalha contra o Talibã, deixando em suas mãos um formidável arsenal que fortalece ainda mais as milícias insurgentes.
Na internet, os sites talibãs postam vídeos de combatentes apreendendo carregamentos de armas, em sua maioria fornecidas por potências ocidentais.
Outros vídeos mostram a rendição de soldados afegãos em Kunduz, uma cidade do nordeste, com lançadores de foguetes e blindados.
Quando os soldados americanos começaram a se retirar do Afeganistão, as forças de segurança afegãs quase pararam de lutar e, à medida que a ofensiva do Talibã se intensificou, milhares de soldados entregaram suas armas sem oferecer resistência.
"Fornecemos aos nossos parceiros afegãos todas as ferramentas, deixe-me enfatizar isso, todas as ferramentas" para lutar contra o Talibã, declarou, em julho, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendendo sua decisão de retirar as últimas tropas do país.
À medida que avançam em direção a Cabul, o Talibã se apodera das "ferramentas".
Na cidade de Farah, no oeste do país, os insurgentes patrulham as ruas em um veículo identificado com uma águia mordendo uma cobra, a insígnia oficial dos serviços de inteligência afegãos.
Em sua retirada, as tropas americanas levaram as armas "sofisticadas", mas o Talibã recuperou "veículos, veículos off-road, armas leves e munições", explica Justine Fleischner, da ONG Conflict Armament Research (CAR), à AFP.
- "Um saque inesperado" -
Para os especialistas, esse saque inesperado ajudou muito o Talibã, que também se abastece de armas no Paquistão, acusado de financiar e armar os insurgentes.
As armas capturadas vão ajudar o Talibã a atacar Cabul e também "reforçar sua autoridade" nas cidades que conquistaram, estima Raffaello Pantucci, especialista da Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam de Singapura.
Após a saída das tropas estrangeiras, o Talibã se viu cheio de armas e equipamentos americanos, sem ter que gastar um centavo para adquiri-los.
"É incrivelmente grave. Com certeza será uma grande ajuda para eles", acrescenta Pantucci.
Poucas semanas antes do 20º aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, esse arsenal é orgulhosamente exibido pelo Talibã que continua, segundo a ONU, a manter laços estreitos com a Al-Qaeda, grupo responsável pela destruição das torres gêmeas em Nova York e o ataque ao Pentágono.
Os Estados Unidos tinham como certo que os insurgentes apreenderiam armas, mas a rápida queda das cidades concretizou a hipótese mais pessimista, explicou à AFP Jason Amerine, um ex-membro das forças especiais americanas, que participou da invasão do Afeganistão que em 2001 expulsou o Talibã do poder.
"Os Estados Unidos equiparam o ANA (Exército Nacional Afegão) com o pressuposto de que as armas e equipamentos poderiam cair nas mãos do Talibã", disse Armine.
"A crise atual é o pior cenário dos estudados na hora de tomar a decisão", acrescentou.
- Propaganda -
Em Kunduz, um vídeo mostra um Talibã sentado em uma motocicleta vermelha observando um helicóptero militar não tripulado em uma pista de pouso.
Os talibãs, porém, não poderão usar este helicóptero, segundo Aki Peritz, um ex-analista de contraterrorismo da CIA. "Será apenas para fins de propaganda", diz.
Armas leves e veículos, que facilitarão o movimento das tropas, serão muito mais úteis no terreno acidentado de Kunduz.
Embora o Exército afegão esteja à beira do colapso, o governo dos Estados Unidos indicou que continuará a equipá-lo.
O Exército dos Estados Unidos assiste, impotente, como a história se repete. O que acontece no Afeganistão lembra o que aconteceu no Iraque, quando em meados de 2014 o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) conquistou a cidade de Mossul, apreendendo armas e veículos militares.
Como os combatentes do EI em Mossul, os talibãs posam sorrindo com a munição capturada do inimigo nas cidades conquistadas.
A retirada das tropas americanas "está se transformando em uma derrota", observa Peritz.
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