ORIENTE MÉDIO

Após advertência de Israel, milhares de palestinos fogem do norte de Gaza

Faixa de Gaza é bombardeada constantemente desde os ataques promovidos pelo Hamas
Por: AFP

Publicado em: 13/10/2023 20:19

Segundo ONU, bombardeios podem se tornar uma catástrofe humana (foto: Said Khatib/AFP)
Segundo ONU, bombardeios podem se tornar uma catástrofe humana (foto: Said Khatib/AFP)

Milhares de palestinos fugiram, nesta sexta-feira (13/10), do norte da Faixa de Gaza, depois que Israel deu um prazo para que se retirassem desta região ante a iminência de uma possível invasão do enclave, em mais uma escalada do conflito, que ameaça se tornar, segundo a ONU, uma "catástrofe humanitária".

 

As bombas israelenses destroem Gaza ininterruptamente desde a incursão lançada a partir deste enclave pelo movimento islamita palestino Hamas.

 

Mais de 1.300 pessoas morreram em Israel, a maioria civis, neste ataque, o mais letal da História do país, informou o Exército israelense, indicando que constam da lista de mortos 258 militares.

 

O Exército informou, por outro lado, ter encontrado os corpos dos 1.500 combatentes do Hamas que se infiltraram no país.

 

Os milicianos também sequestraram cerca de 150 pessoas, cuja presença em Gaza complica uma eventual invasão israelense.

 

Em Gaza, o número de mortos nos bombardeios chega a 1.900, quase um terço deles - 614 - crianças, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que desde 2007 governa este paupérrimo e conturbado território 362 km².

 

 

Netanyahu: "apenas o começo" 

 

Pela manhã, Israel deu um prazo aos cerca de 1,1 milhão de habitantes do norte de Gaza (quase metade da população do enclave) a deixarem "de imediato" suas casas, "para sua própria segurança e proteção".

 

"Nossos inimigos apenas começaram a pagar o preço. Não posso divulgar o que vem em seguida, mas vou dizer-lhes que isto é só o começo", afirmou à noite o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

 

O Exército revelou que nas últimas 24 horas realizou "incursões contra locais dentro do território da Faixa de Gaza (...) para limpar a área de terroristas e de armas" e para "localizar pessoas desaparecidas".

 

"Vamos lutar como leões pelo nosso lar. Não vamos perdoar e não esqueceremos nunca a barbárie dos nossos inimigos e não deixaremos que ninguém no mundo se esqueça dos horrores infligidos ao povo judeu", disse o premiê ultraconservador, que antes desta escalada bélica enfrentava um forte movimento opositor da sociedade civil israelense.

 

 

Êxodo em um território cercado 

 

O Hamas rechaçou "a ameaça dos líderes da ocupação (israelense) e seus apelos para (os palestinos) deixarem suas casas e fugirem para o sul ou para o Egito".

 

No entanto, a ordem de evacuação levou milhares de moradores do norte de Gaza a fugir de carro ou a pé rumo ao sul, mas sem esperanças de sair do enclave pelo lado israelense, nem pela única passagem com o Egito, reticente em ter que administrar uma crise de refugiados.

 

Além disso, a população de Gaza está ficando sem água, alimentação e energia elétrica, devido ao "cerco total" imposto por Israel.

 

Ainda assim, muitos moradores do enclave se negam a partir.

 

O exílio é uma questão dolorosa em Gaza, onde mais de 80% de seus habitantes são refugiados ou descendentes de refugiados, que abandonaram seus povoados e cidades ou foram expulsos deles quando o Estado de Israel foi criado, em 1948.

 

"O que o mundo quer de nós? Eu já sou refugiado em Gaza e querem que eu vá embora outra vez?", questiona Mohammed Khaled, de 42 anos, morador do enclave.

 

"Querem que durmamos nas ruas com nossos filhos? Eu me recuso! Não quero esta vida indigna!", diz Mohammed Abu Ali, no campo de refugiados de Shati, o maior de Gaza, no norte do enclave. "Não há lugar seguro, sendo assim não sabemos aonde ir", acrescenta.

 

Em vários países muçulmanos, milhares de pessoas se manifestaram nesta sexta nas capitais de Iraque, Irã, Jordânia, Arábia Saudita e Bahrein em apoio aos palestinos.

 

O presidente palestino, Mahmud Abbas, comparou o deslocamento maciço de palestinos a uma segunda Nakba ("catástrofe" em árabe), como os palestinos denominam o exílio de 760 mil pessoas durante a guerra de 1948. Seu primeiro-ministro, Mohammed Shtayyeh, acusou Israel de levar adiante um "genocídio".

 

A Arábia Saudita, por sua vez, rechaçou "categoricamente" qualquer deslocamento da população na Faixa de Gaza e condenou o bombardeio de "civis indefesos".

 

 

EUA adverte para "crise humanitária"  

 

As vozes de alerta se multiplicam diante de uma possível invasão terrestre de Gaza.

 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para Israel "evitar uma catástrofe humanitária" e pediu um "acesso humanitário imediato a Gaza, para poder levar combustível, alimentos e água a todos que precisarem".

 

O presidente americano, Joe Biden, reiterou seu compromisso de dar a Israel "o que precisar para se defender e responder a estes ataques", mas se distanciou da ira vingativa de Netanyahu.

 

"Não podemos perder de vista o fato de que a esmagadora maioria dos palestinos não teve nada a ver com o Hamas e os ataques atrozes do Hamas e que também está sofrendo como resultado disso", disse Biden em um discurso na Filadélfia.

 

Anteriormente, seu secretário de Estado, Antony Blinken, havia pedido para Israel adotar "todas as precauções possíveis" para evitar a morte de civis.

 

O ataque sangrento do Hamas contra Israel não justifica a "destruição ilimitada" do enclave palestino, advertiu, por sua vez, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

 

 

 

 

Outras frentes 

 

Na Cisjordânia ocupada, pelo menos 16 palestinos morreram em confrontos com as forças israelenses durante manifestações de apoio a Gaza, segundo o Ministério da Saúde palestino.

 

O Exército israelense também bombardeou os arredores de várias cidades limítrofes do sul do Líbano, após uma explosão na barreira fronteiriça entre os dois países.

 

Esta região é reduto do movimento xiita Hezbollah, pró-iraniano, que se declarou "totalmente preparado" para se unir ao Hamas no momento propício.

 

Um jornalista da agência internacional de notícias Reuters morreu e outros seis ficaram feridos nestes ataques - da AFP, Reuters e Al Jazeera -, informaram os três veículos de comunicação.

 

O grupo estava perto de Alma al Shaab, na fronteira com Israel, quando foi atingido por bombardeios transfronteiriços, informou um dos correspondentes feridos da AFP.

 

"Entristece-nos profundamente saber que nosso cinegrafista, Issam Abdallah, foi assassinado", declarou a Reuters em um comunicado.

 

 

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