Mundo

Longe de casa, a dor de uma comunidade israelense após o sangrento ataque do Hamas

dezenas dos 1.200 membros do kibutz morreram ou foram feitos reféns durante o ataque do Hamas

Inbal Reich Alon se pergunta se terá uma casa para voltar algum dia

Inbal Reich Alon passou 15 horas escondida na cooperativa agrícola israelense onde vivia, perto da Faixa de Gaza, antes de conseguir escapar do massacre executado pelos milicianos palestinos do Hamas. Agora, ela se pergunta se terá uma casa para voltar algum dia.

 

Moradores entrevistados pela AFP disseram que dezenas dos 1.200 membros do kibutz morreram ou foram feitos reféns durante o ataque do Hamas, movimento islamita palestino, lançado no sábado (07) - no mesmo dia de um feriado judaico.

 

"Não sabemos se temos um lugar para voltar", disse Reich Alon nesta segunda-feira (09) à AFP. A mulher está hospedada em um hotel no Mar Morto junto com 150 moradores de Beeri, um kibutz no sul de Israel.

 

[SAIBAMAIS] 

 

Reich Alon, de 58 anos, contou que ouviu explosões quando Beeri foi atacada durante a ofensiva do Hamas no sábado - que deixou centenas de mortos em solo israelense, muitos nas áreas próximas à fronteira com a Faixa de Gaza, sob bloqueio de Israel.

 

"Pensamos que eram trovões", relatou a mulher. Pouco depois, ela percebeu que sua pequena comunidade estava sendo atacada. 

 

Ela se refugiou com sua família em um quarto seguro, construído para casos de ataques com foguetes, e sua casa foi incendiada ao redor.

 

"Não tínhamos ideia do que estava acontecendo", mas gritos em árabe podiam ser ouvidos, lembrou Reich Alon.

 

"Simplesmente tivemos sorte", afirmou a mulher no hotel David, localizado entre o Mar Morto e as montanhas de Judeia, cerca de 60 km ao sul de Jerusalém, onde os moradores de Beeri foram temporariamente alojados.

 

"Somos um kibutz grande", ela disse, antes de corrigir: "ou pelo menos éramos".

  

[VIDEO1] 

 

 Na manhã de segunda-feira, o porta-voz militar Daniel Hagari disse à imprensa israelense que "cerca de 70 terroristas se infiltraram" no kibutz Beeri e "a maioria deles morreu em uma troca de tiros".

 

INSATISFAÇÃO COM O EXÉRCITO

 

No térreo do hotel, a maior parte do espaço está ocupada por pilhas de roupas, brinquedos, alimentos e produtos de higiene - recolhidos por doações em questões de horas.

 

"Israel tem uma sociedade civil incrível", disse Reich Alon.

 

As pessoas "trouxeram remédios, roupas, produtos de beleza... Chegamos aqui com o que tínhamos nas costas, alguns descalços".

 

Sobreviventes que perderam seus pertences no ataque examinavam os bens enquanto as crianças pintavam e brincavam nas proximidades. Voluntários especializados em saúde mental ofereciam apoio. 

 

"Estamos no lugar mais seguro", disse à AFP o historiador Alon Pauker, enquanto olhava para o Mar Morto. 

 

"O ponto mais baixo da Terra, mas também o ponto mais baixo para nós como nação".

 

"Isso é uma tragédia como o 11 de setembro" nos Estados Unidos, opinou Pauker, de 57 anos. "O lugar onde moro nunca mais será o mesmo". 

 

"Devemos entender que não temos mais o kibutz que tínhamos e que não vivemos mais no país que tínhamos. Isso é uma mudança tectônica", afirmou Pauker, que trabalha na Universidade Beit Berl, no centro de Israel.

 

Embora o ataque tenha sido obra dos combatentes do Hamas, ele considera também que parte da responsabilidade é do governo israelense e do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que "abandonou o país".

 

 "As forças de defesa não protegeram os cidadãos", acrescentou.

 

Ele acusa o exército de estar envolvido "com outras coisas" na Cisjordânia ocupada, onde o governo de Netanyahu, um dos mais direitistas da história do Estado de Israel, promove uma política favorável à colonização judaica.

 

"Pela primeira vez, o exército demonstrou que não sabe proteger os civis", observou.

 

Por anos, Israel "descartou" uma possível ameaça do Hamas, de acordo com Reich Alon. Mas os islamitas que atacaram o kibutz "sabiam o que estavam fazendo. Encontramos um inimigo realmente poderoso".

 

CRIANÇAS ASSASSINAS 

 

O movimento israelense dos "kibutzim", anterior à criação do Estado em 1948, tem raízes socialistas e geralmente se alinha com a esquerda.

 

No entanto, os moradores de Beeri disseram à AFP que terão que reavaliar suas ideias sobre uma paz com os palestinos no futuro. 

 

Agora, eles apoiam uma guerra total em Gaza para eliminar o Hamas, algo impensável poucos dias atrás.

 

"Estamos enfrentando uma organização terrorista que (...) matou crianças apenas por matar crianças", disse Pauker.

 

"Extremistas (em Israel e Gaza) se alimentam um do outro e nenhum deles se importa com a vida humana", afirmou Pauker.

 

Para Reich Alon, "sempre buscamos e ainda buscaremos viver em paz com nossos vizinhos. Não queremos essas guerras".

 

"Nunca pensei que diria isso, mas depois que os 100 reféns (em Gaza) forem trazidos de volta, não me importo com o que resta lá", disse ela.

 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco