GUERRA EM ISRAEL

Hamas ameaça executar reféns na Faixa de Gaza

Porta-voz avisa que extremistas filmarão morte de um sequestrado para cada ataque a Gaza. Israel impõe cerco ao enclave palestino e promete força "nunca antes vista" para vingar os 900 mortos

Publicado em: 10/10/2023 08:03 | Atualizado em: 10/10/2023 08:16

Flagrante de bombardeio à Cidade de Gaza, na noite de ontem: em três dias de ofensiva, mais de 680 mortos no enclave palestino (crédito: Mohammed Abed/AFP)
Flagrante de bombardeio à Cidade de Gaza, na noite de ontem: em três dias de ofensiva, mais de 680 mortos no enclave palestino (crédito: Mohammed Abed/AFP)

Dois dias depois de atacarem Israel, em uma ação simultânea por terra, mar e ar, e executarem pelo menos 900 pessoas — 260 delas durante uma rave que ocorria a 150m da Faixa de Gaza (leia o Depoimento) —, o movimento fundamentalista islâmico ameaçou, nesta segunda-feira (9/10), executar os 150 reféns que estariam sendo mantidos dentro da complexa rede de túneis do Hamas, cavada sob o enclave palestino. "Cada ataque ao nosso povo resultará na execução de um dos nossos reféns inimigos, e iremos transmitir isso com áudio e vídeo", anunciou Abu Obeida, porta-voz das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas, que manteve os disparos de foguetes contra o território israelense.

 

Apesar das ameaças, Israel decidiu impor um "cerco total" à Faixa de Gaza, um território de 360 quilômetros quadrados onde vivem 2,5 milhões de palestinos. "Estamos impondo um cerco completo a Gaza (...) Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás, tudo fechado", anunciou Yoav Gallant, ministro da Defesa israelense. "Estamos lutando contra animais e esta é a consequência", avisou. Por sua vez, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu assegurou que os bombardeios estão apenas começando e prometeu usar "força nunca antes vista". Até a noite desta segunda-feira, 687 palestinos morreram nos ataques aéreos, e 2.900 ficaram feridos. 

 

 

 

Netanyahu também ordenou o reforço de segurança no norte de Israel, onde o movimento xiita libanês Hezbollah travou combates com o Exército judeu, ontem. Netanyahu defendeu a unidade das facções política do país e avisou: "Cidadãos de Israel, nós apenas continuamos a golpear o Hamas; as imagens de Gaza são apenas o começo". "O que faremos com os nossos inimigos nos próximos dias ecoará por gerações", garantiu Netanyahu.

 

Soldados sobre tanque Merkava aguardam ordem para invadir Gaza (Foto: Jack Guez/AFP)
Soldados sobre tanque Merkava aguardam ordem para invadir Gaza (Foto: Jack Guez/AFP)
 

 

O risco de a guerra se espalhar preocupa os EUA, que deslocaram o USS Gerald Ford, o maior porta-aviões do mundo, para o Mediterrâneo oriental. "Estamos profundamente preocupados de que o Hezbollah tome uma decisão errada e opte por abrir um segundo front neste conflito", afirmou um alto funcionário de defesa dos Estados Unidos à agência France-Presse.

 

"Nós antecipávamos que uma organização como o Hamas, que sente felicidade em sequestrar mulheres, crianças bebês e idosos, além de pessoas com necessidades especiais, ameaçaria matar os reféns. O Hamas se expôs ao mundo: é uma organização talvez até pior do que o Daesh (acrônimo árabe para  o Estados Islâmico)", admitiu ao Correio, por telefone, Jonathan Conricus, porta-voz internacional das Forças de Defesa de Israel (IDF). Para ele, o nível de brutalidade visto nos últimos dias não tem precedentes. "Isso nos força a entregar uma resposta sem precedentes. Não entrarei em detalhe sobre o planejamento estratégico das IDF, mas posso dizer que, enquanto conversamos, continuamos a atacar alvos do Hamas em Gaza. O governo israelenses nos determinou que tenhamos a certeza de que o Hamas não tenha mais nenhuma capacidade militar que possa ser usada para ameaçar, aterrorizar ou assassinar civis israelenses. É isso o que faremos."

 

Ao comentar o cerco imposto a Gaza, o porta-voz das IDF destacou que "o responsável por tudo o que acontece na Faixa de Gaza é a organização terrorista chamada Hamas". "Foram eles que lançaram esse ataque contra Israel, que promoveram uma carnificina de civis israelenses. Em uma guerra, na qual nos defendemos e defendemos nossos civis, não é de se esperar que forneceremos água, combustível e eletricidade à mesma organização que massacrou civis", observou Conricus. Ele prometeu atacar a infraestrutura do Hamas. "Assim que o fizermos, o Hamas não terá mais a habilidade de ameaçar civis e eles lamentarão pelos crimes hediondos contra Israel."

 

Morador da Cidade de Gaza, o escritor palestino Ahmed Abu Artema, 36 anos, classificou ao Correio a situação como "difícil e horrível". "Os aviões israelenses bombardeiam em todos os lugares. Eles bombardeiam as casas, onde há civis, crianças, mulheres. Nas últimas horas, Israel cometeu massacres horríveis. Por exemplo, eles atacaram uma rua movimentada no campo de refugiados e Jabalia. Mataram pelo menos 50 civis. Na última noite, atingiram casas onde as pessoas dormiam. Mães palestinas e seus filhos foram mortos nos bombardeios israelenses", disse. 

 

Por telefone, da Cidade de Gaza, Mutee Abu Musabeh — chefe do Departamento de Mídia Digital do Hamas — confirmou ao Correio a intenção do grupo fundamentalista islâmico de executar os reféns. "É uma situação sem precedentes, que coloca a resistência palestina diante de escolhas também sem precedentes, a fim de que a ocupação israelense detenha os crimes de guerra. Essa é a única escolha disponível para a resistência e o povo palestino", afirmou. Ao ser questionado sobre a maneira como os reféns são tratados pelo Hamas, Abu Musabeh respondeu: "Estamos comprometidos com os nossos valores humanitários em relação ao tratamento dos prisioneiros. Sabemos que eles são valiosos para a ocupação israelense", acrescentou. Ele acusa Israel de agravar ainda mais a situação em Gaza, com a imposição do cerco total ao território. "O povo palestino nada tem a perder depois de 70 anos de cerco", advertiu. 

 

ANGÚSTIA

 

Familiares de israelenses sequestrados pelo Hamas na manhã de sábado enfrentam um pesadelo. Morador do vilarejo de Ganot Hadar (centro), Yoni Ashar, 37, soube por um vídeo nas redes sociais que a mulher e as duas filhas, de 5 e de 3 anos, foram capturadas pelos extremistas. "Na manhã de sábado, soubemos que houve uma invasão a Israel a partir de Gaza. Minha esposa e minhas filhas visitaram minha sogra, perto de Gaza. Infelizmente, foram sequestradas. Perdi o contato com elas. Mais tarde, vi um vídeo em que reconheci minha esposa e as crianças sendo levadas pelo Hamas para Gaza. Eu rezo para que estejam em uma condição razoável e que estejam bem", relatou ao Correio, no domingo. 

 

As informações são do Correio Braziliense. 

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