ORIENTE MÉDIO

Antes de votação no Conselho de Segurança, ONU alerta sobre risco de fome em Gaza

Conselho está em negociações sobre uma resolução para aumentar a entrega de ajuda
Por: AFP

Publicado em: 22/12/2023 11:46

Conselho de Segurança da ONU deve votar resolução que visa aumentar envio de ajuda à Gaza (foto: MOHAMMED ABED / AFP)
Conselho de Segurança da ONU deve votar resolução que visa aumentar envio de ajuda à Gaza (foto: MOHAMMED ABED / AFP)

O Conselho de Segurança da ONU pretende votar nesta sexta-feira (22) uma resolução para aumentar o envio de ajuda à Faixa de Gaza, após as advertências de que a guerra entre Israel e Hamas está arrastando a população palestina para um cenário de fome.

 

Diante da deterioração das condições de vida em Gaza, o Conselho de Segurança está em negociações sobre uma resolução para aumentar a entrega de ajuda.

 

A versão mais recente do rascunho do texto, à qual a AFP teve acesso e que deve ser votada nesta sexta-feira, pede "medidas urgentes para permitir imediatamente o acesso seguro e sem obstáculos da ajuda humanitária, e também para criar as condições para um cessar duradouro das hostilidades". Mas não pede o fim imediato dos combates.

 

A embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que o país apoiará a resolução, caso seja "apresentada em sua versão atual".

 

A guerra começou em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas invadiram o território israelense e mataram quase 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em informações divulgadas pelas autoridades israelenses. 

 

Os milicianos do Hamas também sequestraram quase 250 pessoas.

 

Israel prometeu "aniquilar" o grupo islamista e iniciou uma campanha de bombardeios incessantes contra Gaza, além de uma ofensiva terrestre, com um balanço de mais de 20.000 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Hamas, que governa o território.

 

De acordo com o Ministério da Saúde do governo do Hamas, 390 palestinos morreram nas últimas 48 horas na Faixa de Gaza, "dezenas" deles na manhã desta sexta-feira nas cidades de Rafah e Khan Yunis, ao sul, e na cidade de Gaza e em Jabaliya, ao norte.

 

Em um relatório, a ONU alertou que toda a população do enclave enfrentará riscos elevados de insegurança alimentar nas próximas seis semanas.

 

"Durante semanas, alertamos que, com esta escassez e destruição, cada dia que passa trará mais fome, doenças e desespero ao povo de Gaza", escreveu o subsecretário-geral de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, na rede social X.

 

 

Ajuda insuficiente

 

A ONU calcula que 1,9 milhão de habitantes de Gaza foram deslocados, de uma população total de 2,4 milhões. Muitas pessoas estão em refúgios superlotados, onde enfrentam dificuldades para obter alimentos, água, combustível e medicamentos.

 

Dois dias após o ataque do Hamas, Israel submeteu Gaza a um cerco total e controla a entrada de ajuda no território através da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, e do porto de Kerem Shalom, na fronteira entre a Faixa e Israel, que foi aberta recentemente.

 

Centenas de caminhões foram autorizados a entrar no território, mas a ONU e várias ONGs consideram o nível de ajuda insuficiente. Além disso, a distribuição da assistência é prejudicada pelos bombardeios israelenses e pelos combates terrestres entre soldados israelenses e milicianos palestinos.

 

Nesta sexta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, prometeu ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, que Moscou continuará enviando ajuda para Gaza, "em particular remédios e material médico", e voltou a exigir "a interrupção rápida do derramamento de sangue".

 

 

"Nenhum local seguro"

 

Também nesta sexta, Israel anunciou as mortes de dois soldados, o que eleva para 139 o número de militares do país que perderam a vida em Gaza desde o início do conflito. O Exército afirma que matou "mais de 2.000 terroristas" na Faixa desde 1º de dezembro.

 

Na cidade de Gaza, os combates avançam rua por rua, às vezes de edifício em edifício. Israel anuncia com frequência a destruição de túneis, infraestruturas do Hamas e a apreensão de armas, enquanto o movimento islamista relata a destruição de tanques e de outros veículos militares israelenses. 

 

Israel bombardeou novamente a localidade de Rafah, onde centenas de milhares de deslocados buscaram refúgio depois que o Exército determinou que deixassem o sul do território para evitar a ofensiva aérea.

 

"Estávamos em casa com as crianças e, de repente, por volta das 3h30 da manhã, ouvimos algo parecido com um terremoto. A casa desabou, e começamos a correr [...] A ocupação [Israel] mente. Esta área deveria ser mais segura, mas estão bombardeando. Não há nenhum local seguro", denunciou Shehda al Kurd, morador de Rafah.

 

 

Posturas distantes 

 

Ao mesmo tempo, prosseguem os esforços para alcançar uma nova trégua, depois que a pausa de uma semana do fim de novembro permitiu a libertação de 105 reféns, 80 deles israelenses, em troca de 240 prisioneiros palestinos que estavam em Israel, além do envio de mais ajuda humanitária.

 

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, que vive em Doha, viajou para o Egito, e Ziad al Nakhala, líder da Jihad Islâmica, grupo aliado do Hamas que também mantém reféns, deve visitar o Cairo na próxima semana. 

 

Israel dialoga com Catar e Estados Unidos, os outros mediadores no conflito, ao lado do Egito.

 

As posições públicas de Israel e do Hamas, no entanto, permanecem distantes.

 

O Hamas exige a interrupção total dos combates antes de negociar uma troca de reféns, enquanto Israel descarta um cessar-fogo antes de "eliminar" o Hamas, considerado um grupo terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel.

 

A guerra também afeta outras regiões do Oriente Médio, com incidentes frequentes na fronteira de Israel com o Líbano e lançamentos de mísseis dos rebeldes huthis no Iêmen contra navios de carga no Mar Vermelho.

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