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Mais de 4 milhões de palestinos ficarão abaixo do limiar da pobreza até o final do ano

Dados representam um retrocesso de quase 70 anos, sobretudo à população da Faixa de Gaza

O IDH de Gaza deverá cair para 0,408, minando 69 anos de progresso

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que cerca de 4,1 milhões de palestinos vão ficar abaixo do limiar da pobreza até o final de 2024, que representa um retrocesso de quase 70 anos, sobretudo à população da Faixa de Gaza. Um novo relatório divulgado do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) afirmou que o impacto do conflito provocou profundos reveses na região, poucas vezes assistidos na recente História. 

 

O documento realizado pelo PNUD, em colaboração com a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA, na sigla em inglês), mostra que a pobreza enfrentada pelos palestinos aumentará para 74,3% em 2024, o que afetará 4,1 milhões de pessoas. Entre estes, 2,6 milhões são pessoas que antes não se encontravam nestas circunstâncias.

 

"Se as restrições econômicas não terminarem e não houver um investimento em grande escala no desenvolvimento, a economia palestina não deve restaurar os níveis anteriores à guerra e avançar, dependendo unicamente da ajuda humanitária”, diz a ONU.

 

O relatório prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) contrairá 35,1% em 2024 em comparação com o cenário pré-guerra, assim como o desemprego que já atinge 80% dos civis, em Gaza.  O potencial do desemprego na Cisjordânia também deve chegar a quase 50%. Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) deve diminuir drasticamente nestas áreas para níveis nunca vistos anteriormente quando os dados começaram a ser registrados nos territórios palestinos. O PNUD estima que a queda da taxa representa um retrocesso de pelo menos 24 anos.

 

Já no caso específico de Gaza, o IDH deverá cair para 0,408, minando 69 anos de progresso. Além de que há cerca de 42 milhões de toneladas de escombros no território, aproximadamente 80% das estruturas foram destruídas, entre elas, casas e usinas de dessalinização de água, 60% das terras agricultáveis estão devastadas, assim como 46% dos poços, 65% dos painéis solares e 33% das estufas. A maioria da população não tem para onde ir e ficar, vivendo em tendas improvisadas ou nos abrigos que restam. Os ataques no enclave já causaram quase 43 mil mortos e fizeram 100 mil feridos, muitos deles mutilados.

 

O maior agravamento do IDH registrado se refere aos indicadores de liberdade de circulação, fome, desnutrição, perda de capacidades humanas e recursos econômicos, desemprego, escolaridade, falta de higiene, saneamento e moradia, e acesso a cuidados de saúde.

 

Na Cisjordânia, o IDH descerá para 0,676, uma perda de 16 anos, apesar das projeções apontarem que a situação continue a se deteriorar se as incursões militares israelenses na área prosseguirem e também se ampliarem mais ainda a política dos assentamentos.

 

A ONU sugeriu um plano abrangente de recuperação e reconstrução, que alie ajuda humanitária com investimentos estratégicos nestas áreas, juntamente com o fim das restrições econômicas e a promoção de condições favoráveis à recuperação. De acordo com o documento, isto poderá colaborar para colocar a economia palestina num caminho de reconstrução para se realinhar com os planos de desenvolvimento palestinos para 2034.

 

“As projeções confirmam que, além do sofrimento imediato e da terrível perda de vidas humanas, também se desenrola uma grave crise de desenvolvimento que coloca em perigo o futuro dos palestinos nas gerações futuras. A avaliação indica que mesmo que a ajuda humanitária seja prestada todos os anos, a economia não será capaz de regressar ao estágio anterior à crise durante uma década ou mais. Na medida em que as condições nos territórios permitam, o povo palestino necessita de um fundamento sólido de estratégia de recuperação precoce integrada na fase de assistência humanitária, que estabeleça as bases para uma recuperação sustentável”, afirmou Achim Steiner, diretor do PNUD.

 

A secretária-executiva da ESCWA, Rola Dashti, disse que é tempo de colocar um fim ao sofrimento e ao derramamento de sangue que devastou a região. “Devemos nos unir para encontrar uma solução duradoura, na qual todas as pessoas possam viver em paz, com dignidade e colher os benefícios do desenvolvimento sustentável, e na qual o direito internacional e a justiça sejam finalmente respeitados”, defendeu Dashti.

 

 

ONG israelense acusa limpeza étnica no norte de Gaza

 

A ONG israelense de defesa dos direitos humanos B'Tselem classificou que a situação em curso no norte do enclave palestino é limpeza étnica.  “O mundo deve parar a limpeza étnica no norte de Gaza. A magnitude dos crimes que Israel está atualmente cometendo nessa região, na sua campanha para esvaziá-la dos poucos residentes restantes, é impossível de descrever”, acusou.

 

A organização não-governamental apelou à comunidade internacional para parar a guerra e acabar com a carnificina. “A ofensiva incessante, além de causar fome a milhares de pessoas e privar os doentes de cuidados médicos, em graus que desafiam a compreensão, isolou o norte de Gaza do mundo. Desde que a atual operação de Israel no norte da Faixa de Gaza começou em 05 de outubro, a área tem estado sob um cerco quase total, implacavelmente agredida pelos militares”, denunciou a B'Tselem, acrescentando que somente em circunstâncias excepcionais foi permitida a entrada de ajuda humanitária.

 

A ONG B’Tselem ainda destacou que os poucos testemunhos que chegaram do norte de Gaza relatam cadáveres nas ruas, fome, falta de água potável e medicamentos e inúmeros civis mortos, quando as bombas caem sobre casas, tendas e abrigos sem aviso ou quando fogem para tentar salvar as suas vidas.

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