O retorno de Donald Trump à Casa Branca trará grandes mudanças para os Estados Unidos e para o mundo, já que o futuro presidente nacionalista está determinado a virar a página de quatro anos de governo democrata, que confortou aliados e enfrentou inimigos.
A vitória do republicano Donald Trump sobre a vice-presidente Kamala Harris provavelmente terá seu impacto mais imediato na Ucrânia, já que ele falou sobre um fim rápido da guerra, forçando Kiev a fazer concessões aos invasores russos.
Espera-se também que Trump ofereça um apoio robusto a Israel, como fez em seu primeiro mandato de 2017 a 2021, e que pressione muito mais o Irã.
Após o primeiro mandato de Trump, seu sucessor, o democrata Joe Biden, colocou como prioridade restaurar as alianças históricas dos Estados Unidos. Essas alianças poderiam estar em risco, já que Trump acusa aliados de se aproveitarem das Forças Armadas dos Estados Unidos e questiona a Otan, um pilar da política externa de Washington desde a Guerra Fria.
Durante a campanha, Trump fez declarações fortes sobre a China, e tanto ele quanto o vice-presidente eleito, J.D. Vance, apresentaram a potência asiática como um inimigo.
No entanto, Trump insistiu também que tem uma boa relação com o presidente chinês, Xi Jinping, enfatizando uma diplomacia pessoal que não é muito diferente da que Biden tentou implementar.
América Latina
O estilo de Trump pode provocar mais tensões na América Latina, onde aliados-chave como Colômbia e Brasil, além do México, estão sob governos de esquerda.
Uma das promessas centrais da campanha de Trump, a deportação em massa de milhões de imigrantes irregulares, poderia trazer caos à região, se implementada, embora Trump tenha conseguido manter uma relação estável e pragmática com o ex-presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador durante seu primeiro mandato.
Trump não demonstrou interesse na África e é improvável que tente renovar o "African Growth and Opportunity Act" no próximo ano, um acordo comercial importante e uma prioridade para o continente, embora legisladores republicanos apoiem a renovação.
Um "Trump 2.0" sem freio
Trump rompeu com o consenso pós-Segunda Guerra Mundial entre republicanos e democratas, baseado em alianças militares e diplomáticas no mundo, para buscar uma plataforma "EUA em primeiro lugar", promovendo os interesses americanos, especialmente no comércio.
Brian Finucane, ex-diplomata dos Estados Unidos que agora trabalha no International Crisis Group, acredita que Trump pode se sentir mais confiante do que em seu primeiro mandato.
"Um Trump 2.0 seria muito diferente. Ele não teria nenhuma dessas figuras que o restringiram de alguma maneira, incluindo no Pentágono", disse Finucane.
Trump já despertou temores em Taiwan ao questionar publicamente se os Estados Unidos devem defender essa a ilha de regime democrático, enquanto Pequim reivindica o território como seu e não descarta tomá-lo por força.
Biden, por outro lado, foi mais longe que os presidentes anteriores ao dizer explicitamente que enviaria tropas americanas para defender Taiwan.
No Oriente Médio, Trump disse ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que ele tem liberdade para agir durante esses dois meses até que o republicano assuma o poder em janeiro, de acordo com informações da imprensa.
Em seu primeiro mandato, Trump cumpriu sua lista de desejos para Israel, incluindo a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém.
E em um gesto que agradou ainda mais Netanyahu, Trump prometeu máxima pressão contra o Irã. Alguns de seus assessores no primeiro mandato chegaram a pedir a queda do regime iraniano.
Espera-se que Trump incentive mais países árabes a reconhecerem Israel, após liderar um acordo histórico em 2020, quando os Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Bahrein normalizaram suas relações com Israel.
O governo de Biden tentou convencer a Arábia Saudita a normalizar laços com Israel, mas os Estados árabes se sentem mais à vontade negociando com Trump, que tem minimizado as preocupações com os direitos humanos.
Embora a maioria dos aliados ocidentais fique alarmada só de pensar em ter que negociar novamente com Trump, sua vitória é uma boa notícia para conservadores como o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e para autocratas que apreciam a postura transacional de Trump, como o presidente russo Vladimir Putin e o líder norte-coreano Kim Jong Un.
Espera-se que Trump, que aprecia eventos com potencial para a televisão, busque uma cúpula com Putin em breve.
Mas Leon Aron, analista sênior do American Enterprise Institute, adverte que Trump ainda tem limites institucionais, e pode enfrentar oposição do Congresso e de seus assessores a qualquer acordo que seja visto como uma derrota para os Estados Unidos, como no caso da Ucrânia.
"Acredito que seu primeiro passo seria algum tipo de diplomacia pessoal muito dramática. 'Vladimir, vamos conversar. Podemos resolver isso'", disse Aron. "Até onde ele vai? É difícil prever."
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