A comunicação pública do Brasil não pode ser refém da polarização

Patrícia Marins
É gestora de crises de alto risco reputacional, sócia-fundadora da Oficina Consultoria (www.oficina.ci), sócia do Grupo In Press, cofundadora do WOB (Women on Board) e autora do livro "Muito além do media training, o porta-voz na era da hiperconexão"

Publicado em: 27/06/2024 03:00 Atualizado em: 27/06/2024 05:38

Abraham Lincoln fez um discurso ao Congresso americano em 1861, durante o turbulento início da Guerra Civil Americana, que ficou na história. Ele disse: “a confiança de uma nação não deve ser traída”. Lincoln usou a confiança como argumento central para reforçar a importância da união e do comprometimento mútuo em um momento de extrema divisão e incerteza. Ele sabia que, sem a convicção do povo em suas lideranças, seria impossível superar a crise e reconstruir a nação.

No mundo atual, onde a informação é disseminada de maneira rápida e desenfreada, a confiança e a transparência são mais relevantes do que nunca. A proliferação de informações e desinformações torna crucial a necessidade de verificação e precisão, ao mesmo tempo em que a velocidade com que elas circulam exige respostas imediatas e eficientes.

Nesse contexto, o papel dos líderes é fundamental, pois eles devem promover uma comunicação clara e sólida, cultivando a confiança do público e respondendo às suas preocupações de forma aberta e responsável.

Mas o que vemos hoje nas ruas, no Congresso Nacional e em timelines e perfis nas redes sociais é uma espiral crescente de antagonismos, extremamente prejudiciais ao respeito, à tolerância e aos direitos humanos.

O ambiente só faz crescer a necessidade de uma comunicação pública profissional, ética e inovadora. Um exercício incansável do diálogo consciente, com espírito e sentimento de empatia, a fim de identificar vínculos, educar e conscientizar até nos mais áridos desertos.

A comunicação é a ferramenta com potência capaz de conter os malefícios da polaridade tóxica e divisionista que estão visíveis nos espaços físicos e virtuais.

É preciso ter a habilidade para sair das bolhas e falar com aqueles que discordam de você. Devemos ter em mente, como ensina o renomado professor e pesquisador de Comunicação Dominique Wolton, que “informar não equivale a comunicar”. Em outras palavras: faz-se necessário estabelecer uma comunicação efetiva por meio do diálogo, da escuta ativa, da empatia e da convivência mútua. Acusar um grupo de espalhar fake news ou manipular informações não vai pavimentar confiança.

A comunicação precisa estar a serviço da população, promovendo o Estado de Direito Democrático, o pluralismo ideológico, a garantia à informação tempestiva e clara e o fortalecimento da liberdade de expressão e de imprensa.

É imperativo ampliar o ambiente de comunicação profissional, com o apoio de agências e profissionais especializados em planos de comunicação inovadores e contemporâneos, pautados pela clareza e agilidade.

Uma participação profissional que demanda uma competição ampliada e saudável, em conformidade com diretrizes transparentes, a fim de mitigar questionamentos sobre a integridade dos procedimentos licitatórios e dissolver quaisquer dúvidas quanto aos interesses da administração.

É essencial explorar plenamente o potencial da sociedade hiperconectada, assim como entender e enfrentar as contradições deste nosso mundo de pós-verdade, para dialogar em tempo real com os anseios e preocupações da sociedade. Minimizar os desafios da comunicação pública contemporânea, rotulando-os como problemas derivados da polarização, é fazer o diálogo público ser refém de ideologias. Afinal, confiança não se impõe. Confiança se constrói.

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