A pobreza em Pernambuco

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 29/06/2024 03:00 Atualizado em: 29/06/2024 08:11

Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e da FGV-IBRE, liderados por Flávio Ataliba, organizaram informações de renda domiciliar per capita nos estados do Nordeste, obtidas da PNAD Contínua do IBGE desde 2012, quando ela iniciou. Eles utilizaram dois conceitos de pobreza, ambas do Banco Mundial, e fizeram as devidas correções para paridade do poder de compra. Um indivíduo foi considerado como estando na extrema pobreza caso tivesse renda abaixo de US$ 2,15 ao dia. Essa linha divisória foi de US$ 6,85 ao dia no caso apenas de pobreza. Segundo os dados organizados, 56,4% da população do Nordeste era pobre em 2012. Com oscilações, esse percentual caiu para 48,8% em 2020. Após aumento em 2021, voltou a cair para 47,4% em 2023. Essa tendência mostra muito o efeito de programas de transferência de renda. Mas também são afetados pela crise econômica de 2014 a 2016 e o baixo crescimento do período subsequente. A pandemia da COVID-19 afetou muito a pobreza em 2020, pois dificultou a geração de renda dos seus membros. A queda de 57,4% em 2021 para 51,1% em 2022 já foi resultado do aumento do Auxílio Emergencial na tentativa do ex-presidente de reverter a derrota nas eleições deste último ano. A incorporação dos valores ao novo Bolsa Família em 2023 manteve a tendência de queda. Nesse caso, o melhor foco do programa nos realmente pobres fez com que houvesse queda substancial de 2022 para 2023.

Pernambuco começa o período em 2012 com 54,3% de pobres, abaixo da média regional, e termina com 48,3%, acima da média regional, em 2023. Se isolarmos apenas o governo entre 2014 e 2022, tem-se que nosso estado foi o que mais aumentou o percentual de pobres, de 46,8% para 51,0%. Quando se observa os percentuais de extrema pobreza, o resultado é similar. Entre 2014 e 2022, Pernambuco é o estado com maior aumento, tendo essa saltado de 9,4% para 12,7%. Tanto em 2022 como em 2023 tivemos maior proporção de pessoas na extrema pobreza do que o Nordeste. Em 2012 e 2014 tínhamos uma proporção menor. O desempenho do PIB per capita e dos programas de transferência de renda explicam muito das tendências verificadas em todos os estados. Mas resta se questionar por que Pernambuco teve elevação proporcional de pobres e extremamente pobres nos períodos analisados, quando se compara ao conjunto da região Nordeste.

Desde o final do Governo de Eduardo Campos que o principal foco do governo estadual se tornou o equilíbrio orçamentário. As apostas numa economia crescendo a taxas superiores a 5% ao ano fez com que o nível de endividamento se tornasse pesado para o ritmo efetivamente observado desde então. Certamente outros governos da região sofreram da mesma falha de expectativas. Porém, as dificuldades financeiras não levaram a apatia que se viu em Pernambuco. O Governo ficou efetivamente paralisado pelas dificuldades financeiras. As políticas de desenvolvimento deixaram de ser prioridade. Até mesmo a mobilização de recursos federais para dinamizar os programas a serem financiados por ele deixou de ser feita a contento. A falta de uma oposição forte que desafiasse o governo em todos os momentos também contribuiu para a apatia que se instalou no executivo local.

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