Albert Einstein, os Diários e o pernambucano Mário Schenberg

Marcus Prado
Jornalista

Publicado em: 24/06/2024 03:00 Atualizado em: 24/06/2024 07:12

Seria de causar espanto e surpresa a Albert Einstein (1879-1955) se ele, já mundialmente famoso, ganhador do Nobel pelos estudos sobre Física Quântica (1905) e celebrado pela Teoria da Relatividade (1915), visse desviados das suas mãos (na fragilidade do acaso) os manuscritos secretos dos Diários de Viagem escritos ao longo de cinco meses (1925).  

Os Diários, publicados recentemente, revelam impressões curiosas, mas a continuidade foi construída com particular crueldade, nada exemplar, sobre países e pessoas, partindo do cientista mais famoso do mundo. Publicados pela Princeton University Press, traz anotações sobre o Extremo Oriente, Palestina, Espanha e América Latina, inclusive sobre Argentina e Brasil (1922-1923) Foram editados por Ze’ev Rosenkranz, diretor do Projeto Einstein Papers, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Estão repletos de reações que podem manchar a reputação de um homem reverenciado pela comunidade científica mundial, sem contar algumas mentiras das mídias, a partir da sua publicação. Uma delas, espalhadas no Brasil, tem dito que o físico teria visto o brasileiro com “aparências de macacos”.

Na verdade, ele se referia ao cientista e médico Aloysio de Castro, (1881-1959) pesquisador, poliglota e chefe da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que tinha divergências de alguns conceitos matemáticos do visitante ilustre, mas o recebeu com apreço e acolhimento. O mesmo ocorrendo com a comunidade científica do Rio de Janeiro que o receberia com honrarias de chefe de estado.

Foi um brasileiro de origem judaica, o pernambucano Mario Schenberg (1914-1990), nascido no bairro dos judeus do Recife, apontado como “o renascentista da ciência”, escolhido como um dos seus amigos mais próximos, quando eram professores da Universidade de Princeton (EUA).  Mário tinha o hábito de caminhar, quando morava no Recife, de exercícios na praia dos Milagres, de Olinda. O físico alemão tinha o mesmo costume. Ali, se juntava a Kurt Gödel, o matemático comparado a Aristóteles, e a Mário, para caminhadas pelo Marquand Park in Princeton. Sabe-se que, por mais de uma oportunidade Einstein fizera convite a Schenberg para trabalhar com ele em suas pesquisas científicas. Os dois eram vizinhos de salas de trabalho de universidade de Princeton. 

Circulava entre a comunidade científica a notícia de que Einstein teria listado Schenberg como uma das dez personalidades mais importantes da física do seu tempo. Quase nada os Diários acrescentam, nem contribuem, para a trajetória do pesquisador e cientista, Mostra o homem humano, demasiado humano, mutável, “às vezes rabugento”, contraditório, genial. Porque seu ofício era conhecer o universo.

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