A era dos extremos

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues
Advogado e Professor Universitário

Publicado em: 19/07/2024 03:00 Atualizado em: 19/07/2024 05:12

Temos vivido momentos de extremismo, onde assistimos atos terroristas, movimentos de exclusão social e até mesmo atentados, como foi divulgado amplamente pelas redes de Televisão nesta última semana.

Este momento caracteriza-se pela defesa de posições extremas, muitas vezes intolerantes e violentas, que buscam impor suas crenças e valores aos outros, sem considerar a diversidade e a pluralidade de opiniões.

No campo dos ideais políticos e religiosos, o extremismo refere-se a posições distantes de uma postura moderada. Também é aplicado no contexto filosófico, científico e cultural para abordagens que se afastam das correntes convencionais.

A polarização política é um fenômeno que tem ganhado destaque em todo o mundo. Ela se refere à divisão da sociedade em polos, representando posições diferentes sobre determinados temas. No entanto, essa polarização tem se tornado preocupante, pois muitas vezes resulta em disputas acirradas entre grupos que se fecham em suas convicções e resistem ao diálogo.

A democracia, por sua vez, busca resolver conflitos por meio do diálogo e da apresentação de ideias, sem recorrer à violência. No entanto, a polarização dificulta esse processo. Ela vai além do voto e requer respeito a regras comuns, reconhecimento da legitimidade dos adversários e tolerância. Em todo o mundo, a crescente polarização política é uma tendência que afeta sociedades e sistemas políticos. No Brasil, essa tensão também é percebida acima da média mundial.

Em 2022, o termo “democracia” figurou entre as palavras mais procuradas no dicionário online Dicio, popular entre brasileiros. O interesse é fácil de justificar: 2022 foi um ano de eleições gerais no Brasil, quando o país votou para eleger um novo presidente da República.

Mesmo assim, dá para dizer que o salto nas buscas por “democracia” é  também sintoma de uma curiosidade mais antiga. Já há algum tempo, as discussões sobre sistemas democráticos de governo – suas crises e como salvá-los -  animam debates internacionais.

Um dos maiores sucessos literários recentes, por exemplo, foi um livrinho chamado “Como as democracias morrem”. Escrito por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, cientistas políticos e professores da universidade Harvard, o volume destrincha o roteiro seguido por líderes autoritários que, nas últimas décadas, corroeram a democracia por dentro: chegaram ao poder pelas urnas e, a partir daí, fragilizaram instituições de controle.

Levitsky dedica suas atenções às fracas instituições de Estado que tentam sustentar o processo democrático na América Latina. Já Daniel Ziblatt foca seus estudos na história política da Europa ocidental. Nesse livro os autores unem as suas experiências para tratar do risco democrático por que passa os Estados Unidos.

Em momentos conflituosos, quando o radicalismo das ideias e o sectarismo dos posicionamentos tomam o lugar do consenso, a exaltação de valores basilares da democracia, a fé no domínio da razão sobre a força e do diálogo sobre o confronto se tornam fundamentais.

É preciso que não se “normalize” o contexto de extremismo.

Deixo a composição de Humberto Gessinger Toda Forma de Poder:
 
Eu presto atenção no que eles dizem
Mas eles não dizem nada (yeah, yeah)
Fidel e Pinochet tiram sarro de você
Que não faz nada (yeah, yeah)
E eu começo a achar normal que algum boçal
Atire bombas na embaixada (yeah, yeah)
(Uou, uou)
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer
Toda forma de poder
É uma forma de morrer por nada (yeah, yeah)
Toda forma de conduta
Se transforma numa luta armada (uou, uou)
A história se repete
Mas a força deixa a história mal contada.


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