A nova função da canafístula

Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras

Publicado em: 20/07/2024 03:00 Atualizado em: 19/07/2024 22:03

Na frente da casa, em pequena distância, uma canafístula. Do lado, outra, mais volumosa. Era bonito ver das duas os galhos se movimentando, para um lado e para outro, quando o vento, suficientemente forte, lhes atingiam de cheio. Uma, contudo, foi vítima de um vírus fatal que lhe desnudou de todas as folhas, ficando só os galhos, grossos e finos, pequenos e grandes, que se entrelaçam. Contudo, não perdeu a majestade. Se antes o verde das folhas lhe cobria, servindo de leito para o sono dos mais variados pássaros, agora passou a ser um ponto de pouso, onde a ave, sozinha ou acompanhada, ou em bandos, ocupa seus galhos, a divisar lá de cima o horizonte que se abre por todos os lados. Pousam, observam, mudam de galhos, de acordo com a conveniência, e mergulham no ar com voos acrobáticos. A canafístula, nua de ponta a ponta, se tornou um ponto de pouso e de observação, como se vivesse agora uma nova vida.

Restaram, assim, o tronco e os galhos, com a vantagem de se manter intacta por tempo indeterminado, como tantas outras que o viajante se depara nas viagens pelo interior, e, ademais, ganhando uma nova função, isto é, de ser ponto principal de fotos, ao amanhecer do dia, o sol nascendo, e, a sua frente, imponentemente, a canafístula a se contrastar com o verde do milharal, o azul do firmamento e o ponto amarelado do sol nascente. É um presente da natureza estar, nesse exato momento, com o celular na mão e captar o belo que a natureza oferece.

A canafístula, sem as folhas, não se desfez da pose, convicta de ser útil, agora em nova atividade, não mais como dormitório de aves de todas as cores, talvez para adotar a condição de ponto de pouso após ter sido dormitório de todas as noites. Se refez sem as folhas, Diana de cabelos longos que se despoja da vasta cabeleireira, mas não do encanto, passando de pousada para local de observação e de descanso de pássaros que por ali esvoejam, a verificar o ambiente ao redor e adiante, na busca do melhor rumo a seguir, fechando a tarde com periquitos, lá referidos como ararinhas, que, ao se prepararem para a dormida, escrevem no céu lindos voos, ora todos juntos numa só direção, ora se abrindo em duas partes que se atam rapidamente, gerando uma impressão de ser um pedaço avulso do céu que Deus permitiu que o homem se regalasse com a sua visão.

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