Instituições de ensino superior se modernizam com o uso da IA: será este o caminho?

Henrique Borges
CEO da Somos Young

Publicado em: 01/07/2024 03:00 Atualizado em: 01/07/2024 07:16

A IA está entremeada em todos os setores da sociedade moderna. Este processo revoluciona o mercado, transformando a maneira pela qual se dinamiza a empregabilidade do componente humano nesta cadeia de produção. Esta evolução também alcançou a educação, a qual, cada vez mais, tem se ajustado aos meios vigentes para sobreviver a estes tempos modernos.

É fato que adquirir conhecimento é um privilégio no Brasil. Ainda há por aqui uma taxa de 7% de analfabetos. Este dado mostra que a educação não alcança todas as pessoas e possui problemas estruturais, desde a sua gênese. Com os que se formam em escolas públicas, por exemplo, há o desafio de compreender o que pode ser feito para que o ensino seja paulatinamente mais franqueado no país. É pertinente fazer uma indagação: como a IA pode contribuir para a captação de alunos no ensino superior?

Intento, a princípio, deslindar certos aspectos mais positivos que circundam a questão: as palavras usadas no presente para pensar o futuro são inovação, criação e descoberta. Ensino e Inteligência Artificial, quando compõem a mesma temática, se encaixam nessas três condições. A IA pode analisar o desempenho de cada aluno, permitindo a criação de experiências educacionais personalizadas e adaptativas que atendam às necessidades individuais de aprendizagem.   

Mas, intrinsecamente, o principal ganho no sentido mercadológico é atender o candidato em tempo real. A maioria das IES do país chega a deixar 25% dos leads que ela gerou sem contacto. Temos pesquisas de alunos que ficaram mais de 30 dias tentando se comunicar com esses estabelecimentos, sem obter resposta. Entrega-se, com a IA,  uma performance que uma IES tradicional nunca teve. Antes, para ela ser competitiva em relação ao grande grupo, havia a necessidade de montar um time comercial muito grande, o que tornava o processo inviável. Agora, em poucos dias, implementa-se uma tecnologia capaz de acelerar o seu crescimento.

As IES lutam cada vez mais para conquistar alunos. Por isso, é importante que todo o setor esteja atento aos processos em voga que devem ser implementados para entrar no páreo com a liderança da categoria.

Mas, para que haja avanço e competitividade neste quesito, haverá certas mudanças estruturais no que se refere a pessoas. Os meios protocolares serão cooptados pela Inteligência Artificial. A mente humana , cada vez mais, comporá decisões consultivas no fechamento de acordos e negociações. Mas uma das questões que aflige todo o sistema concerne à versão de que a IA irá definitivamente assumir os processos por completo. A resposta é não. Mesmo assim, 100% do procedimento, que apenas informa o candidato ou faz a matrícula quando este já está decidido, deve ser digitalizado. Não há mais espaço para uma captação que não tenha modernizado esta etapa do trabalho; usa-se a inteligência artificial até para controle e indicadores das estimativas.

Julga-se, contudo, o fato de haver uma precarização quanto ao trabalho executado por indivíduos que exerciam a função que hoje é feita pelas IAs. O impacto na empregabilidade é grande: cerca de 80% do efetivo do call center de uma IES pode ser substituído em 15 dias pelas máquinas.  

Houve avanços? Sim, certamente, houve. Velocidade, redução de custo e aumento de performance formam o tripé de benefícios incorporados ao setor devido à IA.

É inevitável; há uma continuidade do que ocorreu por meio do streaming e do vídeo nos conteúdos do EAD. O celular é, hoje, uma extensão da educação. Sendo assim, esta repercussão ocorrerá na área comercial, que é o core da Somos Young,  mas também em soluções de ensino e aprendizagem, como secretaria acadêmica e outros setores.

Resta saber se o Brasil seguirá o exemplo dos países de primeiro mundo, como a China ou os EUA, nos quais o uso é feito com alguma responsabilidade e de fato ajuda na inovação do ensino. Se, entretanto, aqui, não houver meios que estabeleçam regras ao novo conceito – que tem se aperfeiçoado a cada dia – o projeto tende a crescer aos solavancos, provocando uma cisão ainda maior entre aqueles trabalhadores que compõem a força motriz de determinadas categorias que estão associadas à esfera educativa.

Há a consciência de que uma série de iniciativas deva ser adotada para mitigar a desumanização do trabalho no Brasil. Neste quesito, reforço que deve haver regulamentação e vontade política para que os cidadãos tenham seus direitos resguardados. O ideal seria que o país tivesse um projeto de nação que o fortalecesse estrategicamente no âmbito industrial e econômico. É óbvio que por aqui é consenso o fato de que a tudo nasce na democratização e no investimento em conhecimento. Mas isto é tema para outro artigo.

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