UTI com mais precisão e menos riscos

Brena Melo
Médica e coordenadora do Centro de Simulação (CSIM) da FPS

Publicado em: 23/07/2024 03:00 Atualizado em: 23/07/2024 05:49

Para o profissional de saúde, seja ele médico, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, farmacêutico e até odontólogo, a UTI é um dos cenários mais desafiadores. Uma característica muito importante desse ambiente são os processos complexos e dinâmicos, em que  há múltiplos elementos simultâneos que precisam ser gerenciados e administrados de maneira eficiente. E tudo isso com um paciente crítico, instável e, muitas vezes, com risco de morte iminente.

Os processos na UTI precisam ter a maior confiabilidade possível e os profissionais precisam estar aptos ao manejo do paciente do ponto de vista da conduta clínica, rotinas de cuidados e higiene pela equipe de enfermagem, cuidados da equipe de fisioterapia, principalmente para  pacientes em suporte ventilatório. São também competências necessárias para esses profissionais a gestão do tempo, a coordenação das ações de respeito às regras de controle de infecção hospitalar, registro de informações em prontuários - todos processos importantes e que acontecem simultaneamente.

Uma outra competência fundamental para o profissional de saúde é o manejo da comunicação com o paciente - se ele estiver consciente - ou com a família. E, na eventualidade de desfechos desfavoráveis, também precisa estar capacitado para a comunicação da má notícia. Além disso, é necessário estar preparado para o trabalho em equipe de maneira interprofissional para exercer o seu papel com competência e com o mínimo espaço para erro.

Para ajudar nesse processo de capacitação, os treinamentos por meio de simulação estão cada vez mais presentes e permitem que a equipe vivencie uma experiência imersiva, com foco na aprendizagem complexa aplicada em um ambiente seguro, sem risco para o paciente.

Mas o que é simulação? Os treinamentos baseados em simulação, muito comuns nas indústrias de alto risco e alta confiabilidade, como forças armadas e aviação, disseminou-se em saúde após a publicação do documento “To err is human”, nos EUA, em 2000. Ele apontava os eventos adversos em saúde (os antigos “erros médicos”) como responsáveis, naquele país, por 100.000 mortes por ano. Naturalmente, surgiu da demanda de melhor capacitar as equipe de saúde e houve uma grande disseminação dos centros de simulação nas últimas décadas, nos países de alta renda, como EUA e países da Europa.

No Brasil, a simulação vem crescendo exponencialmente na última década.  Inauguramos no Nordeste o CSim – Centro de Simulação da FPS (Faculdade Pernambucana de Saúde), primeiro programa de simulação externo à Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, afiliado ao Centro de Simulação Realística (CSR) Albert Einstein, de São Paulo. Reconstruímos um ambiente real de saúde - com leitos, equipamentos, monitores, respirador, bomba de infusão - para que estudantes e profissionais reproduzam atendimentos básicos, situações em emergências, cirurgias e UTI´s.

Nos treinamentos oferecidos no CSim, manequins de alta fidelidade (ou robôs) são utilizados e atores de verdade ensaiam para replicar todos os sinais e sintomas de situações autênticas, que podem ser encontradas na prática profissional real. Sinais vitais também são programados em equipamentos reais para reagir, com auxílio da inteligência artificial, às ações do treinando. Dessa forma, ao longo de cada cenário, ele identifica a situação de risco e faz o diagnóstico, a partir dos dados clínicos apresentados, com auxílio da ausculta pulmonar, cardíaca e sinais vitais, assim como planejar o manejo adequado.

Após cada cenário, o treinando assiste ao seu próprio vídeo e recebe orientação sobre como realizou a ação e o que pode ser aperfeiçoado. É o que chamamos de aprendizagem reflexiva. As vantagens são muitas e todos ganham. Não há risco biológico hospitalar, nem risco para o paciente. Trata-se de um ambiente em que o profissional pode repetir até a obtenção da mestria, que é a excelência, onde os erros são praticamente minimizados. Isso é só o começo para uma área com pouco mais de um ano percorrido no Nordeste e muito a contribuir com qualidade para nosso setor de saúde.

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