A casa de Francisco Brennand e Lina Bo Bardi

Marcus Prado
Jornalista

Publicado em: 02/09/2024 03:00 Atualizado em: 02/09/2024 07:57

A primeira notícia que tive de Lina Bo Bardi, arquiteta ítalo-brasileira, bela e incrível no seu estilo e personalidade, foi quando, já famosa na Europa, veio para o Brasil como convidada de Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, para ser responsável pelo projeto arquitetônico do MASP (Av Paulista-SP), um dos primeiros museus de arte moderna do mundo. A seguir, quando comecei a reunir uma bibliografia do arquiteto e paisagista de descendência pernambucana, Roberto Burle Marx. Ambos eram amigos e colegas de trabalho no Rio de Janeiro e São Paulo, Lina e Burle Marx, em projetos de arquitetura e paisagismo alguns tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tamanha a sua beleza e originalidade. (Os Jardins do Parque do Flamengo projetados por BM foram Tombados antes de serem inaugurados, fato inédito no mundo inteiro). 

Sei que Lina Bo Bardi tomaria partido em defesa de Burle Marx num “desconforto administrativo” causado pela poderosa do governo Carlos Lacerda (RJ), a Maria Carlota Costallat de Macedo Soares, a Lota, namorada da poetisa Elizabeth Bishop, autora americana numa temporada no RJ, considerada uma das mais importantes poetisas do século XX a escrever em língua inglesa. Amor conflituoso que quebraria tabus na antiga Capital Federal. Depois, foi a notícia que tive sobre a decisão do pintor, ceramista e muralista Francisco Brennand de trazer a Lina Bo Bardi para uma temporada no Recife com a missão de planejar e coordenar os trabalhos de restauro da Casa da Cultura.

A ideia surgiu na casa de Francisco e Deborah Brennand (Engenho São Francisco) num dos almoços dominicais que reuniam, além de convidados, os de cadeira cativa: Ariano Suassuna, César Leal, Marcelo Carneiro Leão, Tomás Seixas, Renato Carneiro Campos, André e Tânia Carneiro Leão, Maria Carmen, Luiz Tavares. O que foi esse ambiente, em que se discutiam grandes temas culturais e políticos do seu tempo, estamos todos no aguardo das “Memórias” escritas pela pintora pernambucana de Olinda, Tânia Carneiro Leão. Pelo que tive a oportunidade de ver em mais de um desses encontros, como convidado, Tânia terá muito a dizer e revelar pela primeira vez no seu aguardado livro “Coletânia”.

Para o projeto da Casa da Cultura, Francisco teve o apoio do governador Miguel Arraes, de quem era Chefe da Casa Civil, e de toda a equipe da Fundarpe. O projeto de Brennand e Lina virou uma longa pesquisa acadêmica “A Casa de Lina e Francisco: idealização da Casa de Cultura de Pernambuco”, da Arquiteta e Urbanista – UFPE, Andréa Gátti. Li esse trabalho, lamentando o seu ineditismo em livro físico e da pouca repercussão nos meios acadêmicos. O que foi em detalhes enriquecedores o desempenho de Lina Bo Bardi e Brennand nessa tarefa, acha-se na pesquisa Andréa Gátti. Francisco Brennand (“era de uma inquietude penetrante”) idealizou para o local um Museu-Escola de arte moderna e de arte popular, uma biblioteca especializada nos mesmos assuntos e uma sala para concertos. “Desejava-se associar as atividades culturais aos objetivos do desenvolvimento industrial, para que as criações da indústria brasileira fossem reconhecidas no estrangeiro como criações autenticamente nossas”.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL