Deborah Brennand e a pedra no seu caminho

Marcus Prado
Jornalista

Publicado em: 30/09/2024 03:00 Atualizado em: 30/09/2024 04:40

A poetisa pernambucana Deborah Brennand foi também interessada na criação de animais, herança das suas origens dos campos de cultivo pastoril em Nazaré da Mata. Era da geração nazarena de Mauro Mota, Marcos Vilaça, Ladjane Bandeira, Padre e poeta Daniel Lima, a Nazaré dos ventos noturnos de 7 km/h. em direção Sudeste. A cidade das criações de gado, do cultivo de algodão herbáceo e de outras fibras de lavoura, dos maracatus seculares, dos pastoris, dos mamulengos, das Bandas de Música tão rivais, do Parque dos Lanceiros.

Cada ano, na Exposição Nordestina de Animais (Recife), a maior feira de agropecuária do Norte e Nordeste, Deborah mantinha a sua tradição de expositora. (Algumas espécies dessa amostra coletiva foram vistas no passado remoto pelo desenhista e cartógrafo Zacharias Wagner, que veio ao Recife como soldado da Companhia das Índias Ocidentais em 1634, onde permaneceu até 1641. Nesse tempo produziu desenhos aquarelados para o seu “Livro de Animais do Brasil”).

Deborah era a musa da Exposição anual do pátio recifense do Cordeiro quando desfilava nas grandes tardes de domingo com os seus animais de pura raça. Era uma das amostras mais esperadas. Partiu desse gosto as suas viagens pelo sertão pernambucano, às fazendas de criação. Numa dessas viagens aconteceu um episódio sobre o qual a pintora olindense Maria Tânia Carneiro Leão vai dedicar um capítulo das suas esperadas “Memórias”. (Tania, além de pintora, tem um texto construído num estilo de felizes metáforas).  Ao passar por uma fazenda do Município pernambucano de Triunfo, onde há uma paisagem deslumbrante não só de cactáceas e bromélias, mas uma moldura construída de pedras gigantes, Deborah pediu ao motorista que parasse o carro: “Páre!” (O pneu aro 15 levantou o som e a poeira: “A poeira forte que deu no ar (...) um grosso rojo avermelhado”. Aquilo de “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa).

Uma pedra diferente de todas que vira no percurso, na curva da estrada em forma de arco, feita de barro e cascalho, na parte cimeira uma flor de folhas brancas que parecia a do angico, chamou a atenção de Deborah. Uma dessas pedras que o sol do sertão não corta com as suas lâminas e rajadas de fogo. Queria ver de perto o fenômeno, como se fosse um obelisco da natureza, uma aparição que a gente vê nas narrativas do Velho Testamento. (Todo o mundo pretérito existe na pedra). O dono da propriedade, criador de equinos, passados vários dias, fez uma surpresa a Deborah, que será narrada com detalhes nas “Memórias” de Tânia Carneiro Leão: deu-lhe a pedra de presente.  

O simbolismo da pedra está em Santo Tomás de Aquino (1225-1274), em Søren Kierkegaard (1813-1865).  Os povos indígenas Tapajós e Konduri tinham suas aldeias no entorno de uma pedra. A Cruz Celta é um símbolo esculpido em pedra. Na Mitologia é vista desde a Era Medieval; na pulsão poética da Modernidade; no mito de Sísifo, que desafiou os deuses; na obra de Camus (1913-1960), na poesia do escritor e ensaísta José Rodrigues de Paiva.

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