Exercício da Paternidade

Eduardo Fonseca
Psicólogo Clínico e Professor do Centro Universitário UniFAFIRE

Publicado em: 24/09/2024 03:00 Atualizado em: 24/09/2024 05:35

Não faz muito tempo que existia uma separação nítida entre homens e mulheres no exercício dos papéis parentais nas relações familiares. As mulheres, mesmo com atividade profissional, eram responsáveis pelo domínio privado, cabendo a elas realizarem ou fiscalizarem os afazeres da casa, a criação dos filhos e os cuidados com doentes e idosos. Cabiam aos homens, por sua vez, os papéis de principal provedor e protetor da família. Com a modernização da família, as tarefas de cuidar e educar passaram a ser compartilhadas pelo casal. Os homens passaram a considerar que as tarefas relacionadas com a criação dos rebentos são tão importantes quanto as exigências da vida profissional. Compreenderam que ser pai não é simplesmente ser ajudante da mãe, coadjuvante no processo de criação das novas gerações. Que a paternidade não se restringe somente à recreação e às atividades lúdicas: brincadeiras, jogos e passeios. Os homens estão assumindo as responsabilidades no cuidado das crianças em suas demandas diárias: higiene, alimentação e educação. Os cuidados parentais representam, para a criança, o atendimento de suas necessidades de alimentação e higiene, de proteção e de amor. Crianças que foram objeto de investimento amoroso e cuidado de mães e pais crescem mais amparadas e seguras para enfrentar os desafios da vida. É importante destacar, que essa paternidade pode ser vivida por pais divorciados que ficam com a guarda dos filhos, homens solteiros que adotam crianças e casais homoafetivos.

Historicamente os homens conviveram predominantemente em domínios competitivos e experimentaram poucos momentos de engajamento familiar. Essa experiência de envolvimento afetivo no cuidado filial tem ajudado a despertar nos pais a sensibilidade, a ternura e o carinho. O convívio mais próximo com a prole fortalece os laços paterno-filiais e aumenta a intimidade entre pais e filhos. Mas, os benefícios dessa nova paternidade alcançam, também, as esposas. Estas têm dificuldades de conciliar sozinhas o cuidado e a educação das crianças com o cumprimento das obrigações profissionais. Antes desse envolvimento masculino, suas carreiras eram obstaculizadas pela sobrecarga de trabalho e excesso de responsabilidade decorrente da dupla jornada. Viviam num ritmo de vida alucinante e exaustivo, divididas entre as atividades laborais, os estudos e a vida familiar. Essa sobrecarga trazia adoecimento e deteriorava a qualidade de vida delas. A corresponsabilidade do casal contribui decisivamente para o crescimento profissional e a emancipação econômica das mulheres. Maridos mais cúmplices na criação dos rebentos permitem que elas se dediquem plenamente à sua carreira profissional. Essa paternidade participativa contribuí ainda para a melhoria da qualidade de vida e da saúde feminina.

No entanto, alguns homens não conseguem ou não desejam viver essa paternidade participativa e evitam ao máximo o envolvimento com o mundo privado da família, desresponsabilizando-se do cuidado e educação dos filhos. Isto é, não desejam renunciar a privilégios históricos do gênero masculino. No consultório, muito observo, que esse exercício da paternidade participativa acarreta mudanças nas relações conjugais e paterno-filiais, desnaturalizando os lugares e os papéis tradicionais de gênero no casamento e na família.

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