Porque a criatividade e o pensamento crítico devem fazer parte do dia a dia das escolas

Gabriela Camarotti
Diretora Pedagógica do Ensino Fundamental I e II da Escola Vila Aprendiz

Publicado em: 04/09/2024 03:00 Atualizado em: 04/09/2024 05:13

Paulo Freire, em sua abordagem sobre o processo de alfabetização, enfatizava a importância de uma educação libertadora, criativa e dialógica, na qual os estudantes são participantes ativos e críticos no processo de aprendizagem. Ele defendia que a alfabetização não deveria ser apenas a aquisição mecânica de habilidades de leitura e escrita, mas um ato de conhecimento, de criticidade e transformação social.

Mas quando falamos em criatividade, equivocadamente há uma tendência a acharmos que a habilidade está apenas relacionada ao campo das artes, ou, no máximo, da área da linguagem, desvalorizando a sua relevância para outras as áreas do conhecimento, como as ciências da natureza e outras.

Na matemática, por exemplo, também podemos integrar princípios da pedagogia crítica de Paulo Freire. Em vez de ensinar matemática de maneira abstrata e descontextualizada, os professores podem relacionar os conceitos a situações reais e relevantes para a vida dos alunos, utilizando problemas e exemplos que façam parte de realidade cotidiana deles, aproximando-os dos conteúdos, bem como gerando interesse no conteúdo abordado. Além de despertar a atenção dos alunos, essa proposta promove o desenvolvimento de uma consciência crítica, ajudando os estudantes a entenderem como a matemática se aplica ao mundo ao redor e como eles podem usar esse conhecimento para compreender e, potencialmente, transformar a realidade. Por exemplo, ao discutir temas como estatística, proporção e fração com os alunos, os professores podem usar dados relacionados à comunidade na qual estão inseridos, como índices de desemprego, distribuição de renda ou questões ambientais.

Mas tornar a aprendizagem mais criativa envolve utilizar estratégias e métodos que engajem os alunos de maneira inovadora e estimulante. Portanto, é fundamental que as escolas estejam preparadas para este cenário, que disponibilizem tempo e investimento para capacitação da equipe de professores, um pilar indispensável para melhorar a educação. Aprendizagem baseada em projetos, criação de jogos e atividades lúdicas, tecnologia educacional, aprendizagem colaborativa e estudos de campo, são alguns exemplos de estratégias que valorizam o trabalho em equipe, estimulam a curiosidade, a resolução de problemas e a imaginação, habilidades fundamentais para o futuro.

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) começou a analisar a relação entre o pensamento criativo e o desempenho em matemática, ciências e competências de leitura. Os resultados indicam que sistemas educacionais que incentivam o pensamento criativo, geralmente também têm bom desempenho nas disciplinas tradicionais. A avaliação de 2022 destacou a importância da criatividade na educação, mostrando que alunos que pensam de forma criativa tendem a performar bem academicamente, ainda que não seja uma regra universal. Cerca de 60-70% dos alunos relataram que seus professores valorizam a criatividade, o que está associado a um melhor desempenho em tarefas. Estes achados reforçam que integrar práticas que estimulam a criatividade pode melhorar o desempenho geral dos estudantes, impactando diretamente no seu futuro deles. (*)

Para servir como inspiração, no Brasil o Movimento de Inovação na Educação destaca escolas que adotaram práticas pedagógicas inovadoras, resultando em impactos positivos tanto para os alunos quanto para as comunidades onde eles vivem. Essas escolas se concentram em metodologias que promovem a autonomia do estudante e a integração interdisciplinar, o que contribui para um aprendizado mais significativo e relevante.

No cenário internacional, a série Destino: Educação – Escolas Inovadoras explora instituições de ensino em diferentes países que também aplicam métodos educacionais inovadores, ampliando a competência dos estudantes para todas as áreas do conhecimento com práticas que vão além dos modelos tradicionais.

Esses exemplos e iniciativas demonstram que metodologias focadas no desenvolvimento integral dos alunos e não apenas no ‘conteudismo’, têm um impacto muito significativo no futuro dos estudantes, preparando-os melhor para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade. O que reforça que a aprendizagem escolar deve ir além da memorização e da reprodução de informações, capacitando os alunos a se tornarem pensadores. Isso não apenas melhora o desempenho acadêmico do estudante, mas também equipa os indivíduos com as competências necessárias para se adaptarem e prosperarem na vida adulta. Esse é o verdadeiro papel da educação.

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