A dissonância cognitiva de nossos eleitores

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 12/10/2024 03:00 Atualizado em: 11/10/2024 23:31

Há no povo brasileiro, hoje, uma rejeição grande à corrupção. O combate a ela foi o argumento mais fortemente utilizado pela direita para constranger a população a não votar no PT. Aliados de partidos bem mais corruptos que o PT apontaram suas críticas para esse partido, como se ele fosse o mais corrupto do Brasil. Todos os dados mais concretos, contudo, mostram que outros partidos, inclusive o do ex-presidente mais recente, têm mais evidência de corrupção do que o do atual presidente. Nas eleições desse ano, os partidos com maior nível de corrupção nos últimos anos foram os que mais cresceram. Eles são os partidos do Centrão ou da Centro-Direita. Esse é um típico caso de dissonância cognitiva; conceituada como o desconforto mental ou tensão que ocorre quando uma pessoa mantém duas ou mais crenças, valores ou atitudes contraditórias, ou quando o comportamento de alguém entra em conflito com suas crenças ou valores. As pessoas criticam e deixam de votar num partido que é menos corrupto e votam em outros mais corruptos ainda, mesmo sendo a corrupção supostamente um de seus principais determinantes de voto. Há um certo desconhecimento dessas informações sobre o nível de corrupção partidária. Mas muitos votam em políticos que sabem serem corruptos, mesmo sendo contrários a ela.

A realidade brasileira e seu sistema político geram um problema sério de incentivos adversos para o eleitor. Os partidos ou políticos que mais saqueiam os governos quando estão no poder, são os que estão dispostos a investir mais para chegar ao governo. Por outro lado, boa parte da população não vê benefícios numa boa administração, pois os resultados para eles são pífios. Também creem que seu voto influencia muito pouco os resultados das eleições. Então, dispõem-se a votar num candidato independente de ideologia e postura ética, apenas por algum favor/agrado pessoal. Por isso, partidos e políticos de centro-direita, que possuem menos ideologia e muito pragmatismo, se utilizam desses recursos populistas de benefício direto e palpável para eleitores com vistas a conquistar o poder e se beneficiarem do controle de parte do governo. Gastam um dado valor para se eleger e ganham bem mais com peripécias no trato da coisa pública. Com o comportamento do eleitor e dos políticos pragmáticos de direita tendo uma racionalidade, o país continua afundado na corrupção.

O resultado é que mesmo gastando-se cerca de R$ 40,00 por eleitor com recursos do fundo eleitoral, ainda assim, há evidências de utilização de recursos ilegais para financiar campanhas. Facilmente, esses gastos totais, legais e ilegais, atingiram algo como R$ 80,00, por voto. Há evidências também de que líderes comunitários e pastores reivindicam dinheiro, que têm que ser ilegal, para canalizar votos de seus liderados. Ou seja, a criação de fundo eleitoral para bancar campanhas não resolveu o problema da compra de votos, o que é um grande motivador para a corrupção. Essa, por sua vez, comumente é utilizada para comprar votos em procedimentos ilegais, apesar de alguns a utilizarem para comprar vários apartamentos pagando em dinheiro. Estamos com um modelo eleitoral que não está dando certo. É necessária uma reforma política que evite essas distorções que encontramos hoje no sistema eleitoral.

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