Cinema São Luiz, templo do audiovisual pernambucano
Renata Duarte Borba
Arquiteta e urbanista, especialista em conservação e restauração do patrimônio cultural edificado, e presidente da Fundarpe
Publicado em: 31/10/2024 03:00 Atualizado em: 30/10/2024 22:07
Faltam poucas horas para uma ansiosa plateia voltar a assistir à coreografia mágica que só acontece no Cinema São Luiz: quando as cortinas vermelhas se abrem, os vitrais da artista Aurora de Lima acendem e, com o apagar das luzes, inicia-se a sessão. Essa cena é suficiente para emocionar tantos pernambucanos, resgatar memórias, despertar saudades. Nosso templo do audiovisual representa um belo caso de bem cultural apropriado pela população, que luta para mantê-lo conservado e com o uso original preservado.
Inaugurado em 1952, no Edifício Duarte Coelho da Rua da Aurora, foi projetado por uma equipe pernambucana para ser, nas palavras do Luiz Severiano Ribeiro, “um dos mais luxuosos e bem aparelhados cinemas do Brasil”. Para tanto, foram adotados os equipamentos mais eficientes de projeção, ar-condicionado e som, especificados mobiliários sofisticados e belas obras de arte, como o painel de Lula Cardoso Ayres na entrada do cinema. Não à toa, era exigido dos frequentadores traje formal, inclusive para as crianças.
Durante 55 anos o Cinema São Luiz manteve-se em funcionamento, até que em 2007, pelas dificuldades inerentes aos cinemas de rua do país, encerrou as atividades. Nessa época houve mobilização da sociedade civil para viabilizar seu tombamento, de modo a evitar uma demolição que apagaria parte importante da história do Recife.
Sob gestão da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), foi reaberto em 2009 e desde então, mesmo diante das limitações da gestão pública, mantém-se como o ninho de acolhimento do audiovisual pernambucano.
À semelhança de outros bens culturais desgastados pelo tempo, o São Luiz acumulou danos graves, que comprometeram seu uso. Em 2021 foi necessário fechá-lo mais uma vez para manutenção.
Diante desse cenário, a governadora Raquel Lyra, ao assumir o Governo de Pernambuco, fortaleceu a Fundarpe como órgão de preservação e priorizou a requalificação dos equipamentos culturais do Estado. Já em fevereiro de 2023, após fortes chuvas na capital, houve grandes vazamentos na sala de exibição e descolamentos de placas do forro em gesso. Nesse momento foi contratado serviço emergencial para sanar os problemas da coberta, essencial para viabilizar as etapas seguintes da requalificação do bem tombado.
Com a compreensão de que o uso é fundamental para a conservação de um imóvel, a equipe técnica da Fundarpe priorizou ações necessárias à reabertura do São Luiz e, após a restauração do forro policromado, o povo pernambucano volta a desfrutar desse recinto sagrado da Sétima Arte.
Apesar de ter um acautelamento de natureza material – o tombamento –, o Cinema São Luiz apresenta atributos que o enquadrariam perfeitamente como patrimônio imaterial, por se tratar de um espaço onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. Sobretudo em uma era marcada por experiências audiovisuais individualizadas e de apogeu do streaming.
É ainda surpreendente a reação dos pernambucanos com a notícia da iminente reabertura do cinema, com as redes sociais tomadas por relatos das memórias nele colecionadas durante várias décadas. E é esse o sentido de se preservar um bem cultural: garantir que seus atributos e valores sejam usufruídos no presente e transmitidos às gerações futuras. Vida longa ao nosso São Luiz!
Inaugurado em 1952, no Edifício Duarte Coelho da Rua da Aurora, foi projetado por uma equipe pernambucana para ser, nas palavras do Luiz Severiano Ribeiro, “um dos mais luxuosos e bem aparelhados cinemas do Brasil”. Para tanto, foram adotados os equipamentos mais eficientes de projeção, ar-condicionado e som, especificados mobiliários sofisticados e belas obras de arte, como o painel de Lula Cardoso Ayres na entrada do cinema. Não à toa, era exigido dos frequentadores traje formal, inclusive para as crianças.
Durante 55 anos o Cinema São Luiz manteve-se em funcionamento, até que em 2007, pelas dificuldades inerentes aos cinemas de rua do país, encerrou as atividades. Nessa época houve mobilização da sociedade civil para viabilizar seu tombamento, de modo a evitar uma demolição que apagaria parte importante da história do Recife.
Sob gestão da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), foi reaberto em 2009 e desde então, mesmo diante das limitações da gestão pública, mantém-se como o ninho de acolhimento do audiovisual pernambucano.
À semelhança de outros bens culturais desgastados pelo tempo, o São Luiz acumulou danos graves, que comprometeram seu uso. Em 2021 foi necessário fechá-lo mais uma vez para manutenção.
Diante desse cenário, a governadora Raquel Lyra, ao assumir o Governo de Pernambuco, fortaleceu a Fundarpe como órgão de preservação e priorizou a requalificação dos equipamentos culturais do Estado. Já em fevereiro de 2023, após fortes chuvas na capital, houve grandes vazamentos na sala de exibição e descolamentos de placas do forro em gesso. Nesse momento foi contratado serviço emergencial para sanar os problemas da coberta, essencial para viabilizar as etapas seguintes da requalificação do bem tombado.
Com a compreensão de que o uso é fundamental para a conservação de um imóvel, a equipe técnica da Fundarpe priorizou ações necessárias à reabertura do São Luiz e, após a restauração do forro policromado, o povo pernambucano volta a desfrutar desse recinto sagrado da Sétima Arte.
Apesar de ter um acautelamento de natureza material – o tombamento –, o Cinema São Luiz apresenta atributos que o enquadrariam perfeitamente como patrimônio imaterial, por se tratar de um espaço onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. Sobretudo em uma era marcada por experiências audiovisuais individualizadas e de apogeu do streaming.
É ainda surpreendente a reação dos pernambucanos com a notícia da iminente reabertura do cinema, com as redes sociais tomadas por relatos das memórias nele colecionadas durante várias décadas. E é esse o sentido de se preservar um bem cultural: garantir que seus atributos e valores sejam usufruídos no presente e transmitidos às gerações futuras. Vida longa ao nosso São Luiz!
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL
MAIS LIDAS
ÚLTIMAS