Inteligência artificial no diagnóstico do câncer de mama

Mirela Ávila
Médica radiologista, diretora-médica do Centro Diagnóstico Lucilo Ávila e membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia

Publicado em: 16/10/2024 03:00 Atualizado em: 16/10/2024 05:15

A detecção precoce do câncer de mama é um dos maiores desafios da medicina moderna. Com mais de 2 milhões de novos casos diagnosticados anualmente em todo o mundo e uma curva de mortalidade ascendente, a precisão nos exames de imagem, como mamografias, é essencial para salvar vidas. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) tem emergido como uma ferramenta promissora, proporcionando avanços notáveis no diagnóstico da doença, auxiliando na detecção precoce, analisando mamografias e outras imagens com alta precisão. Mas até que ponto a IA tem impactado a radiologia mamária e quais os benefícios concretos que ela oferece?

Atualmente, a IA já é amplamente utilizada para examinar mamografias e outros exames de imagem. Algoritmos de inteligência artificial identificam padrões sutis, como microcalcificações e nódulos, ajudando a reduzir erros humanos, acelerar o diagnóstico e priorizar casos mais urgentes. Além disso, as tecnologias disponíveis podem sugerir biópsias e monitorar a evolução de lesões, melhorando a precisão e a eficiência dos diagnósticos - e várias outras estão em desenvolvimento ao redor do mundo.

A IA oferece outro benefício crucial: a eficiência. Os algoritmos podem averiguar grandes volumes de exames rapidamente, permitindo que os radiologistas priorizem os casos mais urgentes. Isso é especialmente importante em ambientes de alta demanda, como hospitais públicos, onde filas de exames podem atrasar diagnósticos. Com a IA, a triagem inicial de imagens pode ser realizada de forma automática, deixando os especialistas livres para focar em casos mais complexos e oferecendo resultados mais rápidos para as pacientes.

Entretanto, a adoção da IA em larga escala ainda enfrenta desafios. Um dos maiores é a questão da confiança. Embora a tecnologia tenha mostrado grande potencial, muitos médicos ainda hesitam em delegar completamente aos diagnósticos automatizados, especialmente quando a decisão envolve questões delicadas como a recomendação de uma biópsia. A IA deve ser vista, por enquanto, como uma ferramenta complementar, que trabalha em conjunto com o olhar clínico e a experiência dos radiologistas, e não como um substituto.

Outro ponto relevante é a necessidade de dados de alta qualidade para treinar esses sistemas. A eficácia da IA depende diretamente da qualidade das imagens e da variedade de casos utilizados para seu treinamento. Isso demanda grandes investimentos em infraestrutura e em padrões de interoperabilidade, além de regulamentações claras para proteger a privacidade dos dados dos pacientes.

Em conclusão, a inteligência artificial já ocupa um espaço importante no diagnóstico do câncer de mama, oferecendo precisão e agilidade sem precedentes. No entanto, seu uso ainda requer cautela e um esforço contínuo para superar barreiras tecnológicas e de aceitação. Com os avanços esperados nos próximos anos, é possível que a IA se consolide como uma aliada indispensável dos profissionais de saúde, ajudando a transformar de maneira significativa o cenário da oncologia mamária.

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