Mestra que se inspirou nos editoriais do Diario é homenageada

Marcus Prado
Jornalista

Publicado em: 21/10/2024 03:00 Atualizado em: 21/10/2024 05:54

O Diario de Pernambuco tem sido ao longo dos seus quase 200 anos uma fonte primária insubstituível de pesquisa não só acadêmica. Agora, o acervo jornalístico do DP acaba de ser reconhecido como Patrimônio Cultural Material do Brasil. Muitas teses de pesquisadores nascidos ou radicados aqui tiveram como suporte essa fonte sobre a vida econômica, politica e cultural pernambucana Esta função de agente histórico – situando textos jornalísticos como sujeitos e instrumentos capazes de intervir não só noticiando, tem sido uma trajetória do DP. A partir das discussões teórico-metodológicas, muito se tem problematizado sobre os limites, possibilidades e contribuições dos periódicos no fazer histórico. O acesso ao acervo on-line às edições antigas do DP permite também a busca de temas, por datas ou palavras-chave, possibilitando ao pesquisador encontrar matérias específicas sobre o assunto abordado. Um dos trabalhos de finalidade acadêmica foi o da professora doutora em Linguística, Irandé Antunes: “Territórios das Palavras”, que teve como “Corpus”, para sua tese de Doutorado, (Universidade Clássica de Lisboa), um amplo recorte de Editoriais do “Diario de Pernambuco. Irandé é reconhecida nos meios acadêmicos, dentro e fora do Brasil, como uma das mais inovadoras nesses estudos.

Acaba de ser lançado, pela Parábola Editorial, SP, o livro “A vida no texto - homenagem a Irandé Antunes”. Trata-se de uma iniciativa e organização dos professores Herbert Neves e Ana Lima, da UFPE, ambos ex-alunos e orientandos da homenageada. Dividido em três partes (“O Ensino de Português”, “O Texto” e “A Língua”), o livro oferece-nos artigos de 21 dos mais renomados linguistas do Brasil. Homenagens, todas elas, destacando a importância da obra e da vida daquela que é considerada um dos pilares mais decisivos da inflexão definitiva que está ocorrendo, no país, quanto ao modo de ensinar uma língua. Ou seja: deixar para trás a aridez das puras formas gramaticais, para mergulhar, diretamente, no texto e suas infinitas derivações: a compreensão heideggeriana da linguagem se desloca para uma indagação sobre a possibilidade de converter o significado em significante. Os desígnios e responsabilidades da disciplina são revistos, problematizados, encenados, escalpelizados, investigados, explorando as múltiplas virtualidades que se abrem a uma melhor aprendizagem da nossa língua.

Por ter sido acometida aos 87 anos de grave enfermidade neurológica, uma bela e justa onda de solidariedade se formou, pelo país inteiro, querendo, num ato de amor, fixar na História a herança de alguém que já não consegue saber a História que fez com notório brilhantismo, competência e dedicação. Para quem dedicou a sua existência, o seu saber, a sua vocação ao uso e ao ensino da palavra, essa é uma dor pior do que a morte. Irandé Antunes é Licenciada em Letras Neolatinas (UFCE), Mestre em Linguística (UFPE), Doutora em Linguística de texto (Universidade Clássica, de Lisboa, Portugal), é autora de 11 livros, nas áreas de linguística aplicada e ensino de línguas. Lecionou, durante 35 anos, na UFPE, UFCE, UFAL, Universidade do Minho (Portugal) e Universidade Católica Portuguesa (Portugal).

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