Sport Club do Recife em risco

Leonardo Cruz
Advogado e membro do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

Publicado em: 01/10/2024 03:00 Atualizado em: 30/09/2024 23:52

A recente proposta de alteração do estatuto do Sport Club do Recife levanta sérias preocupações sobre a transparência e a governança do clube. Analisando o documento, observam-se fragilidades que podem comprometer a gestão e o futuro da instituição, como a ausência de mecanismos eficazes de controle sobre as decisões da diretoria e a falta de uma estrutura de governança equilibrada entre os poderes.

Há uma concentração de poder no Conselho de Administração sem contrapesos adequados. A governança não garante a necessária independência entre os órgãos de gestão e fiscalização, abrindo espaço para conflitos de interesse e decisões pouco questionadas. A falta de auditorias regulares e independentes aumenta o risco de uma administração opaca, sem responsabilização por atos de gestão temerária.

Outro ponto preocupante é a possibilidade de ex-presidentes assumirem o cargo de CEO, o que pode comprometer a imparcialidade e a transparência da gestão. O estatuto deveria proibir essa prática, assegurando que o clube seja liderado por gestores sem vínculos com administrações anteriores. Não há nada de compliance e praticamente aniquila o direito dos associados.

Grave situação é a transferência dos bens imóveis do clube para uma SAF, podendo a mesma utilizar-se de como convier, tipo a venda do terreno da sede para uma construtora. É muito risco.

Além disso, a proposta falha em definir claramente as responsabilidades dos gestores e conselheiros, o que pode resultar em confusão na execução das funções. Sem critérios objetivos de responsabilização por má gestão ou desvio de finalidade, o clube fica vulnerável a práticas inadequadas. Faltam, ainda, sanções rigorosas para os membros do Conselho de Administração que atuem contra os interesses do clube.

A ausência de mecanismos para uma participação mais ativa dos sócios na fiscalização também é alarmante. A proposta não prevê auditorias independentes solicitadas pelos associados nem garante acesso irrestrito às informações financeiras, enfraquecendo a governança democrática.

A modernização do clube é bem-vinda, à SAF – Sociedade Anônima de Futebol, mas deve ser feita com responsabilidade. As falhas estruturais presentes na proposta de alteração do estatuto precisam ser corrigidas para evitar riscos à administração e ao legado do Sport Club do Recife. Dizer “NÃO” à reforma é proteger a história e o futuro do clube, garantindo que seja gerido de acordo com as melhores práticas de governança corporativa.

O risco está aí, só não ver quem não quiser.

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