Brasil em chamas: efeitos imediatos e futuros no comércio exterior

Gustavo Delgado
Consultor de comércio exterior de internacionalização de empresas, Diretor de OCCA, Diretor de inovação da ABDAEX, Coordenador de MBA em Comércio exterior, Coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e Mestre em Economia

Publicado em: 05/11/2024 03:00 Atualizado em: 05/11/2024 05:50

Infelizmente, como temos acompanhado, o Brasil está em chamas. Algumas fontes informam que 38% do que foi queimado aconteceu em área da agropecuária brasileira. Não entrarei no mérito político, se com ou sem culpa, se com ou sem dolo; vou me ater às consequências, ou as possíveis consequências, e, obviamente, na minha área de conhecimento e de interesse. Muitos me perguntam: qual o impacto no comércio exterior brasileiro?

Divido minha resposta em duas partes: primeira parte, as possíveis repercussões internacionais das queimadas no Brasil, até porque, como já falei em outro momento, o mundo não espera que algo realmente aconteça, não se espera que de fato falte algo para que haja uma reação. É preciso dirimir o risco e, diante de uma possível interrupção de fornecimento de algum produto, é necessário já partir para um plano B. Ou seja, mesmo que as queimadas ainda não estejam ou não tenham atingido áreas importantes das plantações brasileiras, o mundo, por ainda não saber ou por ter receio de que atinjam, já pode e deve estar se movimentando para buscar novas fontes. E isto já pode e deve começar a repercutir nos preços, afinal de contas o Brasil é o celeiro do mundo!

Uma segundo olhar é não mais nas possibilidades, mas nos fatos. Observando os números de exportação de 2024, e olhando os 6 principais itens do agronegócio de exportação: Soja, Açúcar, Café, Milho e Algodão, nesta ordem (dados do ComexStat), não se observa ainda impacto algum no volume exportado. De todos, comparando com 2023, apenas o milho teve redução em seu volume exportado. Portanto, as queimadas ainda não impactaram no volume de exportação de nossas commodities. E vamos torcer para que nosso comércio exterior não sofra também com as queimadas, além do que já sofreu com a imagem internacional que tem repercutido mundialmente.

Mas é provável que ainda estejamos entregando o que já havia sido colhido e, portanto, ainda não afetado pelo fogo, tão agressivo e vasto que estamos tendo aqui no Brasil. Lembro ainda que quando falamos de comércio exterior, estamos falando em negociações a longo prazo, de fornecimento, e não de vendas “spot”, ao menos não no geral. Portanto, há uma busca forte pela manutenção dos contratos, exceto quando não houver o produto, óbvio.

É preciso aguardar para ver, mas é difícil imaginar que os incêndios, que já atingiram 38% das áreas relacionadas ao agronegócio, não terão impacto significativo na capacidade de exportação do Brasil. Esse cenário pode resultar em uma queda na oferta global de nossos principais produtos, o que, inevitavelmente, pressionará os preços no mercado internacional. O mundo está atento e qualquer interrupção no fornecimento trará consequências não só para o Brasil, mas para a economia global. Infelizmente, essa é a realidade que devemos nos preparar para enfrentar.

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