Por: Helena Dias - Pernambuco.com
Publicado em: 01/06/2015 17:30 Atualizado em: 02/06/2015 16:18
A ocupação da terra é só o primeiro passo para uma reforma agrária. Os conflitos entre o latifúndio e os camponeses vão muito além das ocupações e reintegrações de posse comumente noticiadas.Ao longo da história, desde as Ligas Camponesas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a pauta dos movimentos rurais no Brasil vem acompanhando as demandas da sociedade civil do seu tempo. Não por acaso, a preservação do meio ambiente é uma das principais reivindicações do MST, que denuncia a forte presença de alimentos transgênicos e contaminados por agrotóxicos na mesa dos brasileiros.
O Brasil está entre os países com maior concentração de terras no mundo, sendo 244 milhões de hectares de propriedade privada. O MST garante que os camponeses, através da agricultura familiar, podem assegurar mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro. Razão pela qual argumentam que a reforma agrária é uma necessidade de toda a sociedade, em especial, dos 80% da população que trabalham para garantir o próprio sustento e carecem de uma nova organização econômica, com geração de emprego e renda.
Camponeses que pretendiam invadir os engenhos Barra e Terra Preta, em Vitoria de Santo Antao, em 1961, cuidam dos poucos pertences. Foto: Arquivo DP/ D.A.Press |
Se hoje a reforma agrária se mantém na agenda política do País, muito deve às Ligas Camponesas. Isso, desde 1955, quando trabalhadores rurais do Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão, Mata Sul de Pernambuco, organizados na Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco (SAPPP), procuraram o deputado estadual ligado ao campesinato, Francisco Julião, para reforçar a organização do movimento, que começou a encontrar resistência por parte dos proprietários de terra do local. O que começou como luta por melhores condições de vida no meio rural, resultando na desapropriação do Engenho Galileia, despertou a atenção do mundo. Haja vista a criação da “Aliança para o Progresso”, criada pelo então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, com o intuito de impedir que o movimento culminasse em uma revolução de esquerda da América Latina.
Pedra fundamental das Ligas Camponesas, erguido no Engenho Galileia, rende homenagem a Francisco Julião. Foto: Arquivo DP/ D.A.Press |
Prioridade nas reformas de base propostas pelo presidente João Goulart, mas logo freada pelo Golpe Militar de 1964, o movimento pela reforma agrária concentrava todos os seus esforços na ocupação de terra, reivindicação que se transformou em uma pauta mais extensa e consolidada. Hoje, as condições para que o camponês, de posse das terras, produza de forma a garantir o seu sustento junto a preservação dos recursos naturais tem sido estudadas por instituições e movimentos sociais rurais.
Lembrando os aspectos dessa transição, a agente pastoral Marluce Melo, da Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2 (CPT), afirma que a consciência da “terra planeta” não é exatamente nova, uma vez que, por volta de 2002, o movimento já discutia os conflitos gerados em torno da questão da água. “Para nós, a natureza não pode ser mercantilizada, tratada como bem de valor. O que é necessário para a produção e reprodução da vida não pode virar mercadoria. Tem que estar à disposição da humanidade”, explica.
Marcha pela reforma agrária, no Recife, com as bandeiras do MST, sob o olhar vigilante da PM. Foto: Ricardo Fernandes/ DP/ D.A.Press |
Segundo o coordenador-geral do Centro Sabiá, que trabalha no incentivo e assistência a agroecologia e produção orgânica nas comunidades rurais do estado, Alexandre Henrique Pires, a mudança na filosofia dos movimentos de trabalhadores rurais reforçou, junto ao poder público, a necessidade de incorporar a sustentabilidade nas políticas de reforma agrária. No rol de conquistas atuais, ele aponta o Plano de Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, criado em 2012,como a “transição do experimental para a ampliação”. A expectativa agora é a aprovação do Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotóxicos (PRONARA), a depender das definições do Plano de Política Nacional.
Expectativa do MST agora é a aprovação do Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotóxicos (PRONARA). Foto: Ricardo Fernandes/ DP/ D.A.Press |